De onde se conclui que muita gente confunde democracia com ditadura da maioria
No Parlamento nacional, os opositores ao casamento de pessoas do mesmo sexo atingem os limites do rídiculo com argumentação completamente nonsense. Os tuites da delegação jugular dão-nos conta de coisas tão bizarras quanto a carpidura de João Almeida, do CDS-PP, que considera que se deve continuar a discriminuar homossexuais porque «A felicidade das pessoas não deve ser matéria de discussão parlamentar». Mais incoerente ainda é a ululação de Mota Pinto contra a perda de tempo que esta discussão matinal constitui uma vez que o seu partido vai votar favoravelmente a realização do referendo que os beatos cá do cantinho exigem, que seria esse sim uma total perda de tempo.
Como comenta alguém no forum do Parlamento Global - onde participam jugulares, by the way -, esta exigência de um referendo não tem, como alguns nos querem fazer crer, uma motivação democrática, bem pelo contrário. De facto, o que pretendem os promotores deste referendo a direitos humanos é o que Platão chamou na República uma «democracia desvirtuada», o sistema político em que a maioria atropela os direitos das minorias ditando regras sem qualquer respeito pela justiça ou pela igualdade - o que hoje em dia a ciência política apelida ditadura da maioria.
É curiosa a tendência para a vitimização dos adeptos desta forma de ditadura, normalmente carpindo estarem sob ataque de malfeitores sortidos que não os deixam impor a todos os seus preconceitos e crenças: todos nós ouvimos ad nauseam que permitir o CPMS é um ataque a coisas sortidas, desde o casamento «tradicional» à consciência cristã. Aparentemente esta consciência cristã de que se fala é muito frágil e sente-se atacada violentamente quando os seus preconceitos não são apoiados pela lei.
Hoje em particular, para melhor se descodificar o que algumas bancadas vão dizendo sobre o CPMS, vale a pena ler na íntegra o artigo em que é desmistificada a lista de «ataques» a cristãos da Christian Anti-Defamation Commission. De facto, os dois «ataques» mais odiosos de 2009, sem surpresas, têm a ver com o se discute hoje na AR nacional: o fim da homofobia legal. O repetido recurso à mentira neste Top Ten mostra bem o real respeito que esta gente, lá como cá, tem por essa coisa de somenos, a verdade.