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Again, and again, and again... and again

A determinada altura da discussão que aqui decorre escreve o Luís Naves (sublinhados meus) "Mas os casais homo não poderão ser excluídos em função da sua orientação sexual, caso a lei mude no sentido que alguns defendem. Isso excluirá casais hetero da adopção por serem mais pobres, aparentemente menos estáveis, etc. Há outro aspecto tocado no seu comentário: a exclusão de um casal da adopção é uma tragédia para esse casal, ela não é explícita e, portanto, este não é um assunto que as autoridades queiram debater.".

 

Fantástico. Então o "superior interesse da criança" - os seus direitos e o seu bem-estar - não deve ser o determinante na adopção? Não é aquilo que deve nortear a "adoptabilidade"  de um casal? Assim sendo, é óbvio que um casal que reúna piores condições deverá ser preterido, ou estou a ver mal a coisa? (Vou dar de barato o "aparentemente", faz de conta que não li).

 

Acho também muito curioso a referência à "tragédia" que advém da exclusão de um casal num processo de adopção. O sofrimento, a frustração e as dificuldades que uma determinação dessas acarreta para um casal são, para mim, óbvias e compreensíveis. Por isso mesmo sugiro ao  Luís Naves o exercício mental empático de imaginar a situação que refere aplicada a um casal excluído por via da orientação sexual dos seus componentes. Usando a expressão do próprio, neste caso já não existe qualquer "tragédia"?


Encontrem-me, por favor, um documento sério que sustente os terríficos malefícios da parentalidade de gays e lésbicas, facultem-me bibliografia que argumente de forma consistente sobre os perigos para a criança, mostrem-me, por exemplo, os relatos de psicopatia, os piores indicadores de saúde mental, o suicídio aumentado, as maiores taxas de maus tratos, em filhos de gays e lésbicas quando comparados com crianças que cresceram no seio da chamada "família tradicional". Para além de criticas metodológicas (algumas lícitas) ao conjunto de dados que consistentemente mostram não existirem diferenças significativas, na perspectiva do superior interesse da criança, na qualidade da parentalidade quando a variável em estudo é a orientação sexual dos progenitores, nada mais encontrei, e juro que, sem preconceitos, procurei.

ADENDA :"Nos últimos dias muito se tem falado do casamento entre pessoas do mesmo sexo e da necessidade de um referendo sobre o assunto. Dizem os promotores de um abaixo-assinado pró referendo que a lei aprovada na Assembleia da República abre caminho a adopção de crianças por casais homossexuais e que isso é perigosíssimo. A Igreja Católica como seria lógico e legitimo tomou posição contra a lei mas, sabiamente, não promoveu qualquer tipo de manifestação pública de desagravo. O nosso Cardeal sempre me pareceu um homem culto e prudente e essa sageza leva-o a destrinçar o essencial do acessório. Sobre este assunto tenho como pediatra e como católico o mesmo tipo de atitude o que me faz viver com serenidade esta problemática que tanta confusão tem levantado nos espíritos mais fundamentalistas. Passo a explicar a minha posição: nos já longos anos de prática clínica como pediatra, tenho contactado ou tido conhecimento de milhares de crianças internadas em instituições que aguardam a adopção, muitas vezes anos sem fim. Sei como é impossível dar-lhes o afecto e o calor humano que uma família lhes poderia dar, por muito que a direcção e os profissionais dessas instituições se esforcem em fazê-lo. Por outro lado com o aumento progressivo de filhos de pais separados ou divorciados tenho seguido centenas de crianças que são educadas apenas por mulheres (mãe, tias, avós…) ou, com menos frequência, por homens (pai, tios, avô…) para não falar nas que têm apenas um pai ou uma mãe adoptiva. Embora todas sofram pela desagregação do casal progenitor, a maioria consegue, mesmo assim, gradualmente e com alguma facilidade, encontrar nesse meio o carinho e a afectividade suficientes para crescerem harmoniosamente. Entre o calor humano destas novas famílias e o “deserto afectivo” das instituições não pode haver comparação. Não vejo pois obstáculo a que, no futuro, casais homossexuais possam adoptar crianças desde que sejam cumpridos os critérios rigorosos até agora seguidos no nosso país para a adopção por casais heterossexuais. Como cristão penso somente no que pode e deve ser a atitude dos seguidores de Cristo, meditando nos seus ensinamentos e no seu testemunho de vida. Com certeza que Ele poria os interesses da criança acima de quaisquer outros e que veria essa nova família com o coração aberto, compreendendo, como conhecedor que era dos grandes mistérios, que tudo fazia parte da evolução da Humanidade na sua trajectória nem sempre linear; evolução visando sempre, às vezes paradoxalmente, a elevação espiritual do Homem como cume da pirâmide da criação. Convém porém não confundir um mero contrato civil entre duas pessoas, a que querem simbolicamente chamar casamento, com o matrimónio católico pois este é um sacramento para aqueles que crêem no poder e na beleza imensa do Espírito Santo." José Carlos Palha, Gaia
in Público, 17.1.2010 .
 

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