subsídios para a busca do corpo perfeito
A discussão começou numa daquelas trocas de mails colectivas. Alguém (por acaso uma mulher) gabou o corpo dos nadadores de alta competição. “Ai, aqueles ombros, ai, aqueles peitos largos, ai aquelas coxas, ai ai ai”. Logo lhe respondeu alguém (por acaso um homem): “É, têm uma largura óptima, mas vistos de lado são fininhos e não têm rabo. Népias de glúteos. Parecem uns bacalhaus”. E zás de, após uma breve dissertação colectiva sobre a nunca demais realçada importância do, como escreveu Almada, “tão cantado belo cu”, nos entretermos a tentar definir o melhor desporto para esculpir o corpo masculino perfeito. Falou-se de atletismos vários (fosse o assunto o corpo feminino e poder-se-ia entronizar o triatlo, que parece garantir um desenvolvimento harmonioso, com umas pernas musculadas mas esbeltas, uns braços definidos mas não demais, o rabiosque no sítio e bem alçado – só com um óbice, o do peito, mas, lá está, dá ideia de que os desportos intensos não ajudam ao decote farto), de ginástica olímpica, de halteriofilismo, de ioga, enfim. Passou-se a revista a cada músculo, cada zona favorita de cada debatente – havia, por exemplo, uma incondicional dos trapézios, aqueles músculos que ladeiam o pescoço e que em muito bom homo portuga, aquele espécime clássico de costas abauladas e ventre saliente, parecem ter sido alvo de ablação –, para conclusão nenhuma. “Os do salto em altura são demasiado compridos e finos”; “os dos salto em comprimento não são maus mas têm hipertrofia das pernas”; “os halterofilistas têm belas coxas e magníficos rabos mas parece que levaram umas marretadas na cabeça”. Os tenistas, entre os quais se contam alguns espécimes de antologia, não fazem no entanto regra na excelência. E até o futebol, que não tende a esculpir belos corpos, pode oferecer-nos um torso como o de Cristiano Ronaldo – uma autêntica maravilha do mundo, a rivalizar com os nadegueiros da Jennifer Lopez, que não consta seja grande atleta, ou o decote da Scarlett Johansson, que tem ar de quem se dedica mais à meditação e aos chocolates. Enfim. Tudo somado, o melhor mesmo é nascer bonito. E, já agora, com uns neurónios bem treinados. Uns 150 abdominais, 50 flexões e 50 agachamentos por dia não prejudicam, alongamentos e flexibilidade fazem maravilhas. Mas a lotaria inicial é mesmo, para mal dos nossos desejos, o mais importante. (texto publicado no DN sport de sábado, na coluna Black Out)

