o marketing directo por telefone ou a canalhice institucionalizada
não há praticamente um dia que passe em casa em que não receba telefonemas de marketing directo. não sei se é azar meu ou apenas o costume, por suceder com todos os telefones fixos. certo é que não falha. hoje foi da sonae. do número de telefone 226181713 sai esta 'está, d. fernanda, é daqui do serviço dos telefones'. do serviço dos telefones?, pergunto, careca de saber que se trata de um espertalhaço a ver se apanha um idoso crédulo, que vá na conversa e acabe por concordar com um contrato qualquer que depois passará meses a tentar cancelar. 'sim, da clix da sonae'. como de costume, pergunto por que motivo me estão a ligar, se não liguei para eles e com que direito incomodam as pessoas com marketing directo. 'julga que é quem, o presidente da república?', pergunta o tipo da sonae. desligo o telefone. o homem volta a ligar. digo 'está proibido de ligar para este número'. liga de novo. não atendo. desiste.
estas coisas passam-se assim, num país com um instituto do consumidor e legislação razoavelmente clara sobre dados pessoais e até uma associação de empresas de marketing directo com um código de conduta (ena! -- azar que o li e nada vi sobre telefonemas para casa de pessoas a pretender ser e representar quem não se é e não se representa) e um site na internet que inclui o endereço mail de uma 'lista de oposição' a que as pessoas podem juntar o seu nome para não receberem telefonemas repetidos e sms e mail não solicitado. o endereço é listadeoposicao@amd.pt. quanto à ironia, é ilimitada: ter de colocar o nome e dados pessoais numa lista de empresas de marketing directo para que as ditas deixem de ter acesso aos nossos dados pessoais a que nunca demos autorização de acesso é muito bom. muito bom mesmo.
tenho consciência de que a maioria das pessoas que estão a trabalhar para estas empresas e a ligar para casa das pessoas não gostam do que fazem e só o fazem por ausência de alternativas. provavelmente ganham à percentagem, ou seja, ganham tanto mais (e sempre mal, adivinho) quanto mais gente chatearem e enganarem. tenho pena. tenho mesmo.
mas o facto de estar em dificuldade não justifica -- não pode justificar -- o que este empregado da sonae ou em nome da sonae fez, na primeira abordagem: tentar enganar o interlocutor, fazê-lo crer que está a ligar da companhia de telefone de que este é cliente. e isso, seja qual for a desculpa que se arranje, é pura canalhice. vergonha para quem a pratica e sobretudo para quem a encomenda e paga -- e mais ainda para as autoridades portuguesas com o pelouro da defesa do consumidor, que permitem que isto suceda ao exigirem aos cidadãos que se dêem ao trabalho de registar o seu protesto e recusa para deixarem de ser importunados. a abordagem directa pelo telefone com fins comerciais é uma prática absolutamente intolerável, sobretudo quando, como se vê pelo exemplo narrado, funciona como simples e despudorado assédio e tentativa de burla.
pormenor: não se consegue ligar de volta para o número em causa. et pour cause. mas nada que um pouco de pesquisa não resolva. o número é da empresa patamar de ideias . no site, os logos da clix, zon, meo, holmes place e, nada como o mundo ser pequeno, da red bull air race. descobertos os culpados, se não se importam, quero que vão todos dar banho ao canito.