Não a escreveu mas foi como se tivesse escrito, porque isto "Serão realmente livres as mulheres que usam o véu? Serão realmente mulheres que tomam a pílula, vão para casa e põem os maridos a lavar a louça, que os metem em tribunal quando eles as violentam? Mulheres que têm relações sexuais antes ou até «ao lado» do matrimónio? E, se assim é, porque será que sentem necessidade de usar a burca?" (q foi mesmo escrito por ele) é o retrato do q é para ele uma mulher livre, certo? Faz-me um bocadinho de impressão q pessoas q andam sempre a pregar contra a imposição de moral por parte de outros acabem por fazer o mesmo. Enfim...Posso ter muitos defeitos mas da mm forma q não quero q me imponham morais ou comportamentos a mim tb. não me dou o direito de o fazer aos outros.
Pois, Maria João. Nem eu escrevi a frase que me atribuiu, nem disse, em parte alguma, o que é, para mim, «uma mulher livre». Mas de si já não espero lealdade no debate. Nem educação. A minha vontade é mandá-la para onde me mandou no post da «f.».
Está a fazer confusão Ricardo (mais uma), não o mandei para parte nenhuma no post da Fernanda, ora confira lá. Mas não se coiíba de o fazer mm se eu não o fiz antes, não sou vidrinhos e mantenho q o q o Ricardo fez foi dizer q qm não correspondesse aos seus "critérios" não era uma mulher livre. Assuma de vez que anda numa cruzada anti-religiosa (a q tem todo o direito) mas, como ouvi alguém dizer noutro sítio, não misture liberdade e defesa das mulheres nela. Já agora convido-o a ler um pequeno post q sintetiza tão bem uma série de coisas:
Concordo totalmente com o segundo parágrafo desse texto:
«Construímos toda uma simbologia baseada na burqa mas ela assenta em grande parte no seu uso obrigatório e na punição violenta das infractoras. Lá no fundo a maior repulsa é essa. Convém não esquecer.»
É essa repulsa que gostaria de ver na Jugular. Mas é evidente que cada um, ou uma, tem os sentimentos que tem.
Repugna-me tanto o uso forçado como o uso proibido, Ricardo, é o que me separa de si e dos restantes fundamentalistas: não acredito em ser dona das escolhas dos outros, seja em nome duma visão conservadora da mulher, seja em nome duma mulher que usa a pílula e tem sexo fora do casamento. O que não quero é que as leis de Estados europeus se tornem iguais às leis dos países fundamentalistas, prescrevendo coisas como o modo de apresentação em público do corpo de cada um.
Dê-me um exemplo, Ricardo, de uma lei do Estado proibindo as pessoas de decidir algo acerca de si próprias e que produza liberdade. E a seguir explique-me como é que forçar um adulto a apresentar-se publicamente de um modo que lhe é repugnante liberta esse adulto. E já agora, como é que fazer uma lei específica para uma comunidade religiosa, que visa forçar um grupo muito específico de pessoas a renunciar a algo importante para elas e que envolve apenas o seu corpo, produz um espírito de "liberdade e igualdade" numa sociedade (fraternidade has long sailed, parece-me).
«Dê-me um exemplo, Ricardo, de uma lei do Estado proibindo as pessoas de decidir algo acerca de si próprias e que produza liberdade»
Dou-lhe vários: proibir as pessoas de venderem o seu voto ou o seu direito de voto, proibir as pessoas de venderem os seus órgãos, proibir as pessoas de se tornarem escravas a troco de dinheiro.
«a seguir explique-me como é que forçar um adulto a apresentar-se publicamente de um modo que lhe é repugnante liberta esse adulto».
Essa serve para os dois lados do debate, portanto também pode (e deve) responder. Não acredito que algumas emburcadas não achem repugnante apresentar-se tapadas. E são essas que me preocupam. As outras, hão-de entender.
«Como é que fazer uma lei específica para uma comunidade religiosa, que visa forçar um grupo muito específico de pessoas a renunciar a algo importante para elas»
A lei final não será específica para uma comunidade religiosa. Será, presumivelmente, uma lei geral que proibirá as pessoas de andarem de cara tapada, o que incluirá máscaras de ski e quejandos. E avança a liberdade e a igualdade porque recorda que o corpo das mulheres não é vergonhoso, que têm a mesma dignidade do que o homem, e que são livres.
Ricardo, é o cúmulo da má fé vir, no fim de toda esta conversa, dizer-me que isto não se dirige à comunidade islâmica. Quer queira aceitar isto quer não, este é o regresso, nas leis da europa ocidental, a leis dirigidas a grupos específicos, e a leis que definem uma pessoa como parte de um grupo e não como cidadão com direito à sua autodeterminação. Em todas as ocasiões de que consigo lembrar-me, isto teve sempre péssimos resultados a prazo.
Isto não liberta ninguém. Quem pode decidir por si, deixa de poder, com a agravante de agora ser reprimido por lei; quem não pode decidir, continua a não poder e será provavelmente forçado a um recolhimento social ainda maior. Em termos menos individuais, nada melhor do que isto para reforçar as posições fundamentalistas.
Por fim, para ser franca, percebo muito mal que alguém que vejo há anos criticar, como eu, a vontade de alguns usarem as leis para imporem valores, e repudiar os paternalismos que pretendem "impôr para proteger", venha agora assumir este género de posição.
Inês Meneses, há leis que surgem devido a uma preocupação específica, mas que têm um âmbito de aplicação mais genérico. Para dar um exemplo: a violência doméstica passou a crime público por causa da violência dos homens sobre as mulheres. No entanto, a lei é genérica. Tanto criminaliza a violência de homens sobre mulheres como de mulheres sobre homens (ou em casais do mesmo sexo, claro). Embora a preocupação que levou à alteração da lei tenha sido a violência muito específica de um sexo, o masculino, sobre outro.
Quanto ao fantasma de que as mulheres seriam obrigadas ao «recolhimento em casa», ouvi a mesma conversa em 2004, aquando da lei sobre o véu (e outros símbolos religiosos) na escola. E a verdade é que as raparigas, salvo raríssimas excepções, não deixaram de ir à escola. Deixaram foi de usar véu.