Vasco Pulido Valente anuncia-nos que leu parte da História de Portugal recentemente publicada por Rui Ramos e mais dois autores e extraíu de lá um facto: desde 1834, o número de funcionários públicos passou em Portugal de 30 para 700 mil, o que toma como prova de que “isto sempre foi assim”.
Confirma-se mais uma vez que VPV estuda para confirmar o que julga já saber, não para descobrir coisas novas. Que “isto sempre foi assim”, eis afinal ao que se resume toda a sua sabedoria acumulada.
Conviria agora que ele tentasse inquirir como evoluíu o número de funcionários públicos naquele punhado de países que reputa de civilizados – ou ao menos, para lhe facilitarmos a vida, ao Reino Unido. Ficaria decerto surpreendido por descobrir que, na generalidade deles, a evolução foi semelhante à nossa.
Isso explica-se pelo facto de, no princípio do século XIX, o Estado praticamente se resumir ao exército, à marinha, aos (poucos) tribunais e às alfândegas. A própria polícia (quando a havia) estava frequentemente a cargo de autoridades locais.
Poderá ser (ou não) verdade que “isto sempre foi assim”, mas, para demonstrá-lo, o nosso historiador terá que sacudir a preguiça e esforçar-se um poucochinho mais. VPV, esse, “sempre foi assim” e sempre assim será .
Isto, para já não falar de que, for the sake of the argument, termos passado de pouco mais de 3 milhões de habitantes para quase 11 milhões. Mas como bem refere, isso não importa nada.
Caro João, não tenho grande opinião sobre Vasco Pulido Valente, nem é isso que me traz aqui. O que me faz comentar é a frase "História de Portugal recentemente publicada por Rui Ramos e mais dois autores". Esses dois autores que no seu post não merecem nome, Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro, parecendo assim figuras sem importância, são historiadores da mesma importância de Rui Ramos, ou mais ainda. Lá porque Rui Ramos é coordenador, continuam todos a ser autores.
Tem razão. Na altura não tinha à mão o livro e a minha falta de memória para nomes fez o resto. A ausência de referência a Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro não encerra qualquer menosprezo por ambos. Curiosamente, li na íntegra as partes da História de Portugal que ambos escreveram, e só uma fracção daquela que ficou a cargo de Rui Ramos.
Apesar de algumas qualidades, VPV sempre teve tendência para achar que o essencial da realidade se apreende em 10 minutos, além de e beber amiúde em historiadores mediáticos do tipo Simon Schama, para quem as fontes são um obstáculo inconveniente quando não provam a tese que se pretende validar. No caso de Rui Ramos, nem as qualidades do 'padrinho' VPV são visíveis. A sua biografia de D. Carlos é um embuste. Quanto à história de Portugal coordenada por este último, ainda vou mais longe que a Irene. Não fosse a colaboração de historiadores da envergadura de Nuno Monteiro nem a teria folheado. Tudo em Rui Ramos se resume à ideia "I went to Oxford, you know!"