De paranóias e umbigos maiores que um país
O Centro Nacional de Inteligência (CNI) está a investigar o que está por trás dos ataques especulativos nos mercados financeiros contra a Espanha, em consonância com a crise fiscal grega e efeitos de contágio em vários países do sul europeu. A Unidade de Inteligência Económica, criada para defender sectores económicos, comerciais e industriais estratégicos, semelhante à encontrada em outros países europeus, investiga se os ataques dos investidores e a agressividade mostrada por alguns media anglo-saxónicos obedece à dinâmica do mercado e aos desafios da economia espanhola, ou se há algo mais por trás dessa campanha. ( lido no El País).
Parece mesmo que Zapatero se deixou contagiar pelo acrónimo com que alguns baptizaram os países considerados em risco de se serem arrastados por uma eventual queda da Grécia, nos quais a Espanha é talvez aquele que apresenta maior risco. De facto, como o El Pais fez questão de sublinhar durante o fim de semana, a Espanha está à beira do colapso financeiro. Com um défice de 11,3% das contas públicas, uma taxa de desemprego a rondar os 20%, e uma dívida de 280% em relação ao PIB, 55% correspondente à dívida pública e 225% correspondente à dívida privada, se a economia espanhola, que corresponde a cerca de 10% da economia euro, entrar em ruptura não há capacidade financeira no sistema europeu para a injecção de cerca dos estimados seiscentos mil milhões de euros necessários para salvar a economia espanhola.
Para além disso, considerando o que saiu ontem da reunião dos ministros das Finanças da Zona Euro, um aviso à Grécia de que a UE não está disposta a pagar pelos erros alheios, parece-me pouco provável que a Comissão Europeia estivesse disposta a financiar o descalabro financeiro espanhol.
Mas se a paranóia grassa em Espanha, por cá reina incontrolada a inconsciência, ou antes, o umbiguismo. De facto, embora a situação financeira nacional seja menos grave que a espanhola e o peso pluma da economia nacional não motive grandes sobressaltos nos meios económicos e financeiros europeus, é no entanto grave o suficiente para que me interrogue sobre as motivações dos que, nesta altura, acharam por bem despoletar uma crise de confiança nas instituições - excepto claro, da instituição Presidente da República que se tornou, propositada ou involuntariamente, no mentor moral desta última crise ao legitimar, em nome de uma suposta liberdade de imprensa, a violação do segredo de Justiça e a publicação de escutas que ninguém sabe se são ou não fidedignas.
Esta é a tragédia nacional, que muitos actores da cena pública nacional se preocupem mais com vitórias de Pirro ou com os seus umbigos, partidários ou outros, do que com os problemas reais do país.