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jugular

A ética do bufo

Parece "que um dos membros do Simplex mostrou ao Correio da Manhã documentos enviados ao longo de meses por João Galamba". Entretanto, dando uma volta pela blogosfera — ao calhas — verifico que, por exemplo, Carlos Santos, Professor de Economia e Analista de Política Internacional — assim se anuncia —, diz num dos seus blogues que por uma questão de "ética pessoal" não comenta este texto de Eduardo Dâmaso (vou evitar fazer piadas dirigidas ao nome do senhor e nem sequer farei qualquer alusão ao facto de ser director-adjunto de um jornal e de esse jornal ser o Correio da Manhã).

Por sua vez, Dâmaso, na sua coluna — o tal texto que professor e analista não comenta(m) —, fala em violação dos "valores da ética republicana". Com ética a jorrar pelos ouvidos, comprei o jornal — é verdade, comprei mesmo —, não resisti ao teaser e, como também estive no Simplex, quero mesmo muito entender que raio andei eu a perder, que parece — a fazer fé no texto do Dâmaso (que nome, céus, que nome; mas eu resisto!) — que andou por ali coisa grossa.

Na "investigação do CM" (assim lhe chamam), diz-se, além do mais — e até faz de subtítulo —, que “Sócrates foi apoiado por blogues alimentados em informação e argumentários feitos por assessores”. A frase é de pasmar, há mesmo alguém — três jornalistas, pelo menos — que se espantam com o facto de assessores fornecerem informação para blogues de campanha. De resto, estivesse o arremedo de garganta funda que lhes forneceu o texto um pouquinho mais atento e até teria reparado que com ele integraram o blogue de apoio alguns assessores. Ou seja, havia assessores a escrever no blogue. Só isto já seria, pelos vistos, notícia. Dito por outras palavras, a notícia vira notícia. E a nova notícia é que um assessor não pode assessorar.

Ultrapassado o subtítulo — começo sempre por aí —, avanço para o corpo da notícia que antevejo grave, tendo em conta o título — “Campanha com meios públicos”. Aí se alega que os tais assessores “usaram o seu tempo, pago pelo erário público, meios informáticos e informação privilegiada para produzir propaganda”. Quanto a esta imputação, que é sumariamente grave, pouco adiantarei, que seria dar pérolas a porcos. Apenas digo que dos mails que foram divulgados, que terão sido parte do todo ao qual eu, como membro do Simplex, tive acesso, não se pode retirar tal conclusão. O facto de o dia ter 24 horas talvez explique alguma coisa, mas quem sou eu para andar a desmamar meninos? Confesso que a meio da campanha fui jantar com o Galamba, mas em vez de documentos o gajo levou-me foi a um restaurante em Monchique (pagámos a meias) – comemos tão bem que nem sei até que ponto não violámos uma qualquer lei deste novo viver republicano.

Voltando à vaca fria, é igualmente de espantar a forma como se gera uma notícia. Há pois uma mistura de pinguim — por certo um gajo sem qualquer resquício de "ética pessoal", ao contrário do professor atrás citado — que revela as entranhas de um blogue. Mostra os mails que se trocaram, as estratégias que se montaram. A razão só a figurinha com boca de megafone a poderá dar. Esperava uma gratificação e não lha deram? Queria ser ministro, secretário de estado? Queria ser assessor, tu queres ver? Não andou lá por crença mas à espera de recompensa?

Por certo, teria muito — o naco de gente — a aprender com Carlos Santos, ético pessoal, analista e professor. Esse ensinar-lhe-ia que ética pessoal é reserva sim, mas não reserva mental.

Lido o texto — maravilhosamente romanceado —, e depois de todos aqueles factos e contrafactos, deparo-me com as colunas superiores, destacadas a vermelho. Por uma delas, qual não é o meu espanto, verifico que a folia continua. Sob o título “Blogues Depois do Simplex” elucida-se: “Os mesmos protagonistas do Simplex criaram outros blogues, onde os conteúdos são também muito favoráveis ao Governo. Entre eles, o País Relativo, Valor das Ideias e a Regra do Jogo”. Vem-me novamente à cabeça a notícia principal, onde se diz que “O blogue Simplex criado em Junho de 2009 para apoiar a candidatura de José Sócrates a primeiro-ministro foi alimentado por meios públicos a partir do Governo”. Recordo(-me) que o Valor das Ideias é da autoria do Carlos Santos e que a Regra do Jogo foi um blogue fundado, logo após as eleições, pelo mesmo ético pessoal, professor e analista. Neste ponto, só me posso solidarizar com o Carlos Santos e esperar que encontre depressa o misto de bufo e bufão que andou a despejar textos e mails privados pelos jornais. Se me acontecesse assim algo a mim, eu não gostaria. E garanto que a coisa não ficaria pelo papel de um jornal.

(não confirmo nem desminto a utilização de meios dos Estado na redacção deste post)

Adenda: fui agora ao Simplex e verifico que, afinal, o Carlos Santos agora já não participou naquilo. Caramba, eu quase que jurava. Deixa cá ir ver aos mails, se calhar era Carlos outra-coisa-qualquer e eu estou a fazer confusão. (Tudo se apaga, nada se tranforma)

3 comentários

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    Porfírio Silva 17.02.2010

    Guilherme, "o sem que ninguém desconfiasse delas" é que estraga tudo. Nós não desconfiamos...
  • Sem imagem de perfil

    Guilherme Pereira 17.02.2010

    Boa, Porfírio!...

    ....sucede que a frase que comentaste é do Marinho Pinto, e ele sabe PESSOALMENTE do que fala: em Coimbra, na faculdade, foi ele mesmo vítima de bufos que o denunciaram e à pala disso malhou com os ossos na cadeia.

    Idem ocorreu comigo: na Fac. de Letras ( crise académica de 69) tinhamos entre nós um magrizelas imberbe que não faltava a qualquer manif. ou acção nossas nesses tempos difíceis, mas inesquecíveis em partes iguais - sucede que só depois do 25 de Abril descobrimos todos, compulsados os nossos processos da PIDE, que afinal o magrizelas era informador dos gajos. Nunca dersconfiámos: o tipo era um actor genial e ocupa hoje um destacado tacho numa empresa pública ( nomeado pelo governo Cavaco), surge volta e meia na TV a perorar...e já não é magrizelas. Enfatuado, gravata da boa, palavra na ponta da língua, sermões de democracia, por aí adiante.

    Coisas, Porfírio...


     
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