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A realidade, agora a cores

 Depois desta notícia em que descobrimos também que o grupo do PSD na CML parece acreditar que é ilegal uma mãe ser lésbica ou um pai ser gay (o grupo do PSD pediu esclarecimentos e claramente precisa de ser esclarecido), António Costa vem explicar o que deveria ser evidente.  

 
1. A campanha da ILGA, executada pro bono pela Lowe, obteve o apoio na divulgação da SIC Esperança e da CML em Lisboa, através da cedência de um circuito de 40 mupis integrado na rede da CML que se destina a publicidade não comercial. O mesmo apoio aconteceu de resto em Janeiro 2005 com a campanha "Pelo direito à indiferença", na altura com um executivo camarário do PSD (liderado então por Carmona Rodrigues, pouco antes do regresso de Santana Lopes, após este ter cessado funções como Primeiro-Ministro).  
 
2. Para quem tem dificuldade em perceber, porque o preconceito frequentemente tolda o entendimento, e porque a ignorância também não ajuda à leitura, o objectivo da campanha é que cada pessoa seja capaz de pensar sobre si e sobre as pessoas que lhe são próximas e queridas e que perceba que lésbicas e gays são, espanto dos espantos, pessoas - com relações familiares e relações de afecto cujo fulcro se sobrepõe naturalmente à orientação sexual.

 

E claro que a campanha não é sobre adopção mas é também sobre parentalidade e sobre a irrelevância da orientação sexual para o seu exercício. Sim, há muitas mães lésbicas e pais gays em Portugal - só é preciso saber olhar à volta. Que isso "choque" quem quer que seja só prova aliás a necessidade da campanha. Em todo o caso, não deixa de ser impressionante a obsessão com a adopção (e aqui pelos vistos por parte de quem nem sequer percebeu que existe adopção singular em Portugal) sempre que se faz uma alusão a qualquer tema relacionado com parentalidade. É que há muitos outros
Mas é evidente que o "direito à indiferença" é o objectivo último nesta campanha também. Ao questionar-se, cada pessoa poderá perceber que a orientação sexual é só mais uma característica que não deveria justificar um piscar de olhos. Mas porque estamos longe dessa indiferença, como temos vindo a ver repetidamente, é fundamental haver muito trabalho de luta contra a discriminação. E é fundamental que os poderes públicos participem nessa luta, que está longe do fim. É isso, de resto, que a CML tem vindo a fazer em diversas iniciativas ao longo de mais de uma década, sob diferentes gestões. 

  

Vale a pena lembrar que o mote com que a ILGA lançou esta campanha foi "Unir e não fracturar", que poderia ser uma boa descrição da luta mais abrangente contra a discriminação. E vale a pena também lembrar que a discriminação é considerada um desvalor pela nossa Constituição - nomeadamente a que acontece com base na orientação sexual, de acordo com a redacção actual aprovada com a unanimidade dos partidos com representação parlamentar. O objectivo do PSD quer na AR quer na CML já foi também o desta campanha, portanto.
Parece que entretanto este PSD optou por incentivar a fractura - para além deste pedido de esclarecimento, basta ver que Pacheco Pereira inclui com orgulho fotos de neonazis no seu blog ou que Marcelo Rebelo de Sousa foi cantar o "We are family" para a Av. da Liberdade. Mas se algum PSD procura agora incentivar posições extremistas e de um populismo tosco que, tal como no passado, se revelarão certamente contraproducentes, esse aparente retrocesso civilizacional não consegue impedir o progresso no país - nem consegue impedir a realidade, agora a cores. 

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