a questão do panteão
não sou uma leitora de aquilino. li um ou dois livros, há muito muito tempo. não sei se é ou não um grande da literatura portuguesa. mas, caramba, está lá o joão de deus, li não sei onde. acho que isso arruma a questão do mérito literário -- a não ser que o joão de deus esteja lá por outras razões, o que é possível, sei lá eu (e, sim, não me dei ao trabalho de saber). a outra questão, muito debatida, com direito a abaixo assinado e tudo, é a da alegada/suposta/suspeita participação no regicídio. da participação parece não haver provas incontroversas -- ou provas tout-court, mas isso será normal nesse tipo de actividade. há a suspeita e as opiniões de aquilino. ele não terá sido desfavorável ao regicídio. é qualquer coisa. percebo que a ideia de matar -- um rei ou seja quem for -- e daquela forma surja como tenebrosa. não me parece é que se possa falar disso sem ter em atenção uma série de condicionantes contextuais. uma é a de que me parece que o regime monárquico em vigor no princípio do século xx podia ser visto como uma tirania -- democracia é que decerto não era. matar o rei era matar um regime baseado na ideia de uma desigualdade fundamental entre os cidadãos. na essencia, o corpo do rei é o estado. matar o rei não é, pois, do ponto de vista político, matar uma pessoa, mas um regime, uma forma de estado. resta, naturalmente, que o rei e o princípe eram pessoas. e que foram mortos de forma horrível. mas falar do regicídio como se se pudesse comparar a um atentado terrorista numa democracia, num estado de direito, é um total disparate. a propósito, ler eduardo pitta (hoje é o meu dia de citar eduardo pitta).