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jugular

estou cansada

disto.

 

de escrever a mesma coisa, ano após ano, disparo após disparo, morte após morte. estou cansada de ouvir dirigentes sindicais 'justificar' disparos fatais contra carros em fuga com 'falta de formação no uso da arma' ou, como ouvi hoje, 'um arma atribuída diferente daquela com que tinha feito formação'. estou cansada de saber de comunicados toscos e mentirosos das forças policiais, alegando ameaças, tentativas de atropelamento e armas na mão de 'suspeitos' que são simplesmente inventadas. estou cansada de ser informada de absolvições escandalosas que fazem a pedagogia da irresponsabilidade e do crime fardado.

 

estou cansada de lembrar em sucessivas reportagens, entrevistas, crónicas e posts que a lei não admite que se use a arma a não ser quando está em causa perigo de vida para alguém. que é simplesmente obsceno ver polícias a dizer que o problema não é disparar contra um carro em fuga cujo ocupante ou ocupantes mais não fizeram que -- alegadamente, friso -- desobedecer a uma ordem de paragem, mas a falta de pontaria. estou cansada de evidenciar, na comparação com números de disparos de polícias de outros países, que as polícias portuguesas fazem demasiado uso das armas de fogo e matam mais que as suas congéneres de vários países europeus. estou cansada de sublinhar declarações de dirigentes da inspecção geral da administração interna no sentido de assegurar a ilegalidade -- ilegalidade, leram bem -- do uso da arma contra pessoas em fuga (fora ou dentro de veículos) quando não se esteja em situações de legítima defesa ou de perigo de vida para terceiros. estou cansada de ver responsáveis políticos a calar a censura inequívoca destes crimes que mancham a polícia portuguesa, crimes que nos dizem a todos que a polícia que existe para nos proteger e para nos dar segurança pode ser e muitas vezes é exactamente o contrário disso.

 

nenhum polícia português pode achar normal disparar contra alguém só porque desobedeceu a uma ordem; nenhum governante pode aceitar que isso suceda. matar quem desobedece só por ter desobedecido é algo que só faz sentido em estados totalitários. a ideia de que a ordem do funcionário, ou seja, do estado, vale tanto mais que a vida dos cidadãos que se justifica executá-lo -- ou, no caso, correr o risco de o executar, o que vai dar no mesmo -- por desobedecer é uma absoluta barbaridade.

 

(gostava de ver os grandes defensores da liberdade e da democracia, que defendem o direito à desobediência a ordens de tribunal, defenderem, já agora, o direito à desobediência a ordens de polícia e a indignarem-se com esta morte e com todas as que como esta nos envergonham a todos -- ou pelo menos àqueles que como eu consideram que entre as garantias fundamentais que um estado democrático e de direito confere aos cidadãos a da vida está em primeiro lugar, como suprema liberdade. gostava de os ver a convocar manifs para a porta da assembleia da república, com ou sem megafone, e a imprimir tshirts. podem dizer só: licença para matar, não. not in my name. ou 'fugir não dá pena de morte'.)

 

adenda: ler este post da isabel  e este do rogério sobre este post e sobretudo sobre os comentários a este post

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