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jugular

Criticar alguma polícia é dignificar a nossa polícia (e o Estado de direito)

Estou impressionada com a avalanche de comentários neste  post da Fernanda. Estou impressionada com o tom desses comentários. A imagem metralhada na televisão de insegurança, a insegurança real de muita gente, é meio caminho para uma adesão cega ao princípio do fim do sentimento de defesa da cidade moderna, do Estado de direito, cuja boa saúde se mede, em grande parte, precisamente pela forma como lida com aqueles que prevaricam, com os suspeitos de um crime, com os que são apanhados em flagrante delito e fogem da polícia, para raiva de quem assiste à cena, com os criminosos confessos, provados, que matam, que traficam drogam, que fazem aquilo que nos faz sentir o desejo secreto da vingança privada.

 Esse desejo é felizmente substituído por essa "coisa" que nós inventámos, que não deve ter emoções. Chama-se Estado e de entre os agentes que tem ao seu serviço contam-se os polícias, um corpo que devemos acarinhar, mas que falha, sim, que às vezes mata, que às vezes tortura, que às vezes nega aos detidos e aos condenados os direitos que a democracia confere às "pessoas", ainda que a fugirem de um local de crime, ainda que suspeitas dele, ainda que sob interrogatório, ainda que condenadas, ainda que presas num estabelecimento prisional.

A democracia, o Estado de direito, é assim. Protegê-lo significa apontar o dedo a quem infringe as suas regras, mesmo que contra alguém que a a "voz do povo" tem por um bandido.

Herói não é o polícia que saca da pistola, quando nem sequer o pode fazer, mesmo se o atingido é um filho da puta; herói é o polícia que, enraivecido com o filho da puta, recorda-se, no momento em que lida com ele, que há ali uma relação de direitos e deveres. Há polícias que sabem isto. Há polícias que cumprem este princípio, todos os dias, ao nosso serviço.

Fico impressionada ao ler tanto ódio na caixa de comentários da Fernanda quando recordo este relatório do Comité para a Prevenção da Tortura nas Prisões do Conselho da Europa, sobre Portugal, no qual se referem aspectos como: maus tratos; acesso a um médico; acesso a um advogado; prestação efectiva de informações sobre os direitos das pessoas; condições em que se efectuam as detenções, etc. Aqui não se está a analisar casos de morte, não, mas analisam-se situações de pancada, devidamente testemunhadas como se vê por esta passagem: "A titre d'exemple, un homme avec lequel la délégation s'est entretenue à la prison de Faro a affirmé que, une semaine auparavant, pendant sa détention au dépôt de la Police de sécurité publique de Faro et environ 24 heures après son interpellation, un membre de la PSP lui avait assené un coup violent sur le dos de la main gauche avec une arme à feu ; ceci lui a entaillé la main et a nécessité son transfert à l'hôpital pour y être soigné. L'examen effectué par l'un des médecins de la délégation a révélé que l'intéressé présentait sur le dos de la main gauche une plaie longitudinale avec tuméfaction, aux bords propres, suturée de huit points".

Já houve outros relatórios destes e há aspectos positivos, neles. Nem tudo é mau. O que diriam tantos dos que tenho lido naquelas caixas de comentários? Não se deveriam fazer estas "espionagens" à situação da violência policial em Portugal? Talvez em Cuba não se façam.

Ou será que as reacções das pessoas estão carregadas de preconceitos contra quem escreve o que escreve?

É que fico mesmo impressionada quando recordo esta notícia do Público e leio comentários tão díspares.

Estamos no mesmo país?

 

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