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Volta Marx, estás perdoado

Uma das coisa mais insuportáveis nos partidos à esquerda do PS é o seu moralismo puramente acusatório e a irresponsabilidade da maioria das suas posições. Para o Bloco e o PCP cada drama, cada injustiça, cada sofrimento humano dá automaticamente direito a um direito. Quem ousar mexer em certos direitos "adquiridos",  torna-se num ser perverso e diabólico. É preciso deixar uma coisa bem clara: não pode haver direitos adquridos sem atender às condições de possíbilidade dos mesmos - e isto não é uma opção ideológica, é uma fatalidade inultrapassável.

 

Mas o Bloco e o PCP vivem noutro mundo, não conhecem o princípio da realidade (só o do prazer), desprezam o pragmatismo e concordam com Zizek: sejamos realistas, exijamos o impossível! A partir do momento em que se adopta esta perspectiva, a escassez de recursos e a necessidade de se fazerem escolhas ou são irrelevantes ou são invenções da direita neoliberal. Só falta mesmo o enxofre para o quadro ficar completo.

 

Tudo isto a propósito da histeria sobre o novo regime do subsídio de desemprego. A posição do Bloco e do PCP é muito simples: o novo regime é inaceitável porque é mais restritivo. Ponto final. Mas afinal o que propõe o PS? Basicamente o seguinte:

 

a) revisão da relação entre o subsídio de desemprego e a remuneração líquida anteriormente auferida pelo trabalhador

b) diminuição do nível de salários oferecidos que obrigam à aceitação do subsídio de desemprego

 

Não é possível avaliar da justiça destas medidas sem atender a alguns factos. Portugal é um dos países da OCDE onde a diferença entre o subsídio de desemprego e a remuneração líquida anteriormente auferida pelo trabalhador é menor. Num contexto de desemprego elevado, como o actual, não repensar o regime de subsídio de desemprego implica pôr em causa a própria sustentabilidade financeira desta prestação social, pelo que a proposta do PS é do mais elementar bom senso. Podemos, é certo, discutir como pomos estes princípios em prática, podemos também discutir como distribuimos os sacrifícios; enfim, podemos discutir muita coisa - só não podemos é negar que algo semelhante a isto é necessário. Mas a irresponsabilidade do Bloco e do PCP tornam impossível que este debate se faça à esquerda. É triste - e quem perde é a própria esquerda portuguesa. Tudo isto é trágico. E o maior problema é que nem o Bloco nem o PCP são capazes de lidar com o conceito de tragédia. Mas isso é outra história. Ou talvez não.

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