Alma bela
Depois do comentário do Zé Neves, vem o Miguel Serras Pereira dizer que o meu problema resulta de ter capitulado perante "a ideologia económica dominante: a naturalização sacralizadora das opções instituicionais e políticas que articulam qualquer regime económico". O Miguel parece ignorar que eu estou farto de criticar a actual arquitectura institucional europeia. Se há coisa que não sou é um essencialista, nem naturalizo o que quer que seja. Não sou nada disso que o Miguel me atribui, mas não sou totalmente irrealista. É óbvio que a configuração institucional que caracteriza a nossa situação não é "natural" e muito menos desejável. Mas também devia ser óbvio que, para um pequeno país como Portugal, é um bocado como se fosse. O Miguel discorda e acha que Portugal está em condições de, heroicamente, desafiar os mercados financeiros, a Alemanha, a Europa e rejeitar a "verdade" da necessidade de reduzir o défice. Eu também quero tudo, mas querer não chega; é preciso poder. E Portugal não pode. Nenhum governo responsável pode embarcar nesse tipo de aventura. O sonho comanda a vida, mas não convém desprezar totalmente a realidade.
A constituição imaginária da sociedade, que o Miguel preconiza, é muito bonita mas é uma não-acção. Quando desligada de qualquer realidade material, isto é, quando assenta numa negação abstracta e não-dialéctica do presente, não passa de uma enunciação romântica vazia, um "vapor sem forma que se dissolve no ar". O Miguel Serras Pereira é o típico exemplo de uma alma bela*