Resposta ao Zé Neves e ao Miguel Serras Pereira
Sinceramente, não vejo onde o Zé Neves quer chegar com "o que é importante sabermos é se o João Galamba entende que existem processos de definição de uma situação e de uma determinada realidade histórica em que a subjectividade de quem define não se implica na objectificação/definição de uma situação". Sim, é óbvio que reconheço que toda a realidade é mediada, que a subjectividade está implicada em qualquer definição do real e que "o ponto de vista" resulta da finitude da existência humana. Eu sei isso tudo. E daí? Isto não é uma crítica do meu ponto de vista, mas apenas uma elucidação daquilo que está envolvido em todo e qualquer processo de entendimento. Adiante.
O que importa não é o facto de eu ter um ponto de vista (todos temos um, incluindo o Zé Neves), mas sim a discussão substantiva sobre o mérito ou demérito das propostas do Bloco e do PCP no contexto histórico no qual estamos situados. O problema é que o Zé Neves torna esta discussão difícil, pois raramente fala da viabilidade das propostas do PCP e do Bloco (atenção: eu concordo com algumas e já o defendi publicamente), porque acha que isso nos leva ao situacionismo. Mas o verdadeiro situacionismo não é o meu; é o do Zé Neves e do seu pseudo-radicalismo que abomina toda e qualquer forma de reformismo e pragmatismo em nome de um ideal que se diz mas ao qual falta a eficácia da acção.
Isto leva-nos à acusação feita pelo Miguel Serras Pereira de que eu teria capitulado ideologicamente - e ele diz isto com aquele auto-comprazimento dos virtuosos, dos que não capitulam nem desistem. Bem, eu já fiz várias críticas ao PEC, já disse que se devia aumentar um pouco mais a tributação sobre o sector financeiro, até fiz uma declaração de voto contra a manutenção da isenção sobre as mais valias-mobiliárias no OE de 2010 - mas isto não chega; é preciso rejeitar tudo (seja lá o que isso for) e exigir outras políticas.
O Zé Neves e o Miguel Serras Pereira criticam-me a partir de um não-lugar, atribuindo-me o pecado de ter cedido ao pragmatismo. Sinceramente, não tenho paciência para aqueles que se julgam imaculadamente de esquerda e que desprezam e acusam outros, como eu, de não estarem à altura dos seus nobres ideais. Isto tem um nome: moralismo. Por muito que se pensem herdeiros de Marx, são dignos representantes do utopismo que este tanto criticou.