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jugular

simplicíssimo, simplício

por acaso num jornal cujo anterior provedor analisou a questão da veracidade do que é afirmado como facto em artigos de opinião e o que pode (e deve) ser feito pelos meios a esse propósito, questão que faria todo o sentido discutir isoladamente se nos artigos identificados como notícias não se passasse a vida a afirmar como factos coisas que ninguém se deu ao trabalho de verificar, helena matos escreveu na sua coluna sobre inês de medeiros certificando que a deputada independente eleita nas listas do ps tinha 'dado uma morada falsa' e que tinha 'exigido ao parlamento que lhe pagasse as deslocações'. helena matos escreveu isso porque isso saiu, mais ou menos nessa formulação, em vários jornais, sob a forma de notícia. helena matos escreveu ainda que inês de medeiros teria afirmado 'eu é que não as pago', frase que foi publicada no i como tendo sido dita pela inês.

 

inês de medeiros enviou ao público um direito de resposta em que nega as três 'factualidades' citadas por helena matos, a insta a provar a respectiva veracidade e a produzir a respectiva fonte e anuncia tencionar processá-la.

 

em face desta reacção de inês de medeiros, um co-blogger de helena matos veio em sua defesa. este co-blogger de helena matos começa a sua defesa da honra de helena matos achando estranho que alguém defenda a honra de inês de medeiros. no caso, este blogue, cujo nome não parece capaz de citar devidamente. esta voluntária imprecisão, que podia ser só acinte, revela-se no resto do post uma marca de, digamos, pensamento.

 

'do que percebo do caso', diz o o blogger. e prossegue: 'helena matos limitou-se a ter como válidos os factos que o jornal ‘i’ e a revista Sábado noticiaram. E que, julgo, a deputada Medeiros não contestou junto dessas publicações'. anotemos: o blogger reconhece que talvez não tenha percebido bem, o que é muito apropriado, para a seguir certificar que, apesar de não saber se inês de medeiros contestou ou não -- ele 'julga', portanto ele não sabe com certeza e sabe que não sabe -- a helena matos 'se limitou a'. portanto, o blogger limita-se também a. no caso, a limitar-se a não cuidar de saber com precisão do que fala, aliás à imagem da co-blogger, que se limitou ao mesmo.

 

o giro é que a seguir, logo logo a seguir, exactamente na frase seguinte, o 'julgo que' passa a certeza absoluta: 'a opinião de Helena Matos baseou-se em factos tornados públicos e, até aí, indisputados, logo, tidos como certos e seguros'. portanto de repente o que era incerto agora é certo: os factos passaram a indisputados. e indisputados porquê? ora bem, vem na frase seguinte: 'Ainda por cima, não consta que a deputada Medeiros tenha mencionado o intento de accionar o jornal ‘i’ e a revista Sábado, as fontes que divulgaram e não desmentiram a informação que a própria acusa de ser falsa…' portanto, não constou nada ao blogger sobre desmentidos efectuados pela própria e eventuais processos, e os jornais em causa, consta-lhe, não desmentiram (coisa que, como se sabe, os jornais fazem sempre que alguém lhes chama a atenção), logo, ele passa, no espaço de três frases, de 'julgar saber' para afirmar.

 

assim escudado em factos indisputáveis, o blogger que ainda há bocadinho tinha admoestado inês de medeiros por não pôr processos ou por tendo-os interposto não o ter notificado termina intitulando de 'desesperada fuga para a frente' o facto de inês de medeiros ter anunciado um processo a helena matos. resumindo: inês de medeiros foi vilipendiada por helena matos com toda a razão porque ao que o blogger julga não desmentiu aquilo que se escrevia sobre ela e ao que consta ao blogger não manifestou intenção de accionar mais ninguém a não ser a helena matos, logo, se não accionou mais ninguém ou mesmo que tenha accionado não fez constar ao blogger que accionou, não pode accionar helena matos.

 

vamos passar por cima do facto de o blogger em causa ser jurista e portanto não dever ser completamente ignorante quanto a factos jurídicos como por exemplo não ser costume toda a gente saber dos processos que se colocam mal são colocados ou mal se solicita a um advogado que os accione, nem poder ignorar que, se a ignorância da lei não aproveita a ninguém, alegar que a ignorância e a distracção e de um modo geral a preguiça e a vontade de dizer mal podem ser justificação para se se darem como certos, numa coluna de jornal, factos com grande potencial de calúnia, é no mínimo, além de muito pouco respeitável, a dar para o super estulto. vamos antes tentar perceber esta coisa tão simples: se o blogger não sabe -- nem quis, claramente, saber -- um caracol sobre o assunto e só pode apresentar como defesa da sua co-blogger 'coisas que lhe constam' e que 'julga', para além de uma circularidade argumentativa e auto-contraditória de dar dó, por que raio se dá ao desfrute de vir a terreiro?

 

ao contrário do que o blogger escreve, inês de medeiros desmentiu, e várias vezes, a história da assinatura falsa e da exigência de pagamento (esta carta enviada ao expresso e publicada -- embora com edição do jornal -- é disso exemplo). e enviou uma carta ao i a desmentir a frase que lhe é atribuída. o blogger, como a sua co-blogger, não reparou. não lhes constou. isto apesar de por exemplo no diário de notícias e neste blogue cujo nome o blogger não consegue pronunciar se ter dado uma versão bastante diversa dos acontecimentos, versão essa assente no conhecimento dos documentos supostamente falsificados.

 

um conselho ao blogger e também colunista, e para que conste: tente saber do que fala antes de falar. ninguém está livre de se enganar ou de tomar como boas informações falsas veiculadas como verdadeiras. mas convém ter a honestidade de não só reconhecer enganos como não persistir neles -- por militância ou outra idiotice qualquer. 'opiniões' como a sua, assim fundamentadas, dão mau nome à opinião. já temos disso que chegue. e não julgo, tenho a certeza.

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