Os véus da democracia
Stephen Joseph Harper, 1º ministro do Canadá, parece considerar, desde que tomou posse em 2006, que os direitos das mulheres se restringem à sua condição de parideiras. Assim, não espanta que o governo canadiano só agora, depois de mais de dois anos de pressões, pareça disposto a fazer algo por uma das suas cidadãs, Nazia Quazi, retida na Arábia Saudita contra sua vontade desde Novembro de 2007. De acordo com as leis arcaicas em vigor na teocracia wahabita, as mulheres de todas as idades estão sujeitas a tutela masculina por um mahram ou guardião. O guardião de Nazia é o pai, que lhe confiscou todos os documentos e não lhe assina o visto de saída que lhe permitiria voltar para o Canadá.
Como escreveu em Fevereiro no The Nation a jornalista Katha Pollitt, «How far have women come if a democratic, secular country like Canada permits a father to imprison his adult daughter in the cage of Saudi laws?». No Canadá do partido Conservador, parece que esta caminhada dos direitos das mulheres conheceu um sério retrocesso nos últimos anos. Mas não apenas no Canadá e em particular no que respeita a mulheres muçulmanas ou de famílias muçulmanas. Há demasiadas pessoas que pensam que a defesa dos seus direitos se restringe, como aconteceu hoje na Bélgica, à proibição do uso do niqad e da burqa em democracias ocidentais. Pelo menos é o que depreendo do destaque, discussões acaloradas e prioridade que se dá à «defesa» dos direitos da meia dúzia de mulheres que os envergam e do silêncio e inacção em torno de casos como o de Nazia.