Imagens mentais
Vem no Público de hoje: a malta das ciências cognitivas diz que no futuro iremos poder visualisar as imagens mentais. Coisas como sonhos e recordações terão os seus equivalentes neuronais, ou sinápticos, ou lá o que é que eles usam para designar a constituição da mente (algo que, pelo conteúdo da notícia, parece ser equivalente ao cérebro). Hoje ainda não podemos, pois a técnica não está apurada; mas eles acreditam piamente que é teoricamente possível, e que um dia lá chegaremos. Eu tenho dúvidas. Ou melhor, eu tenho a certeza eles podem encontrar e visualizar muita coisa, mas não serão certamente sonhos nem imagens, nem nada que se lhes assemelhe. A última fronteira do conhecimento —é assim que se convencionou fala da mente— está tão envolvida em mistificações científicas que pôs um conjunto significativo de gente inteligente à procura de um fantasma. Fazia-lhes bem voltar à Crítica da Razão Pura, do velhinho Kant, para perceber porque é que a mente não é passível deste tipo de abordagem. O problema destes senhores é estarem presos a uma imagem que lhes distorce o pensamento—a ideia de que tudo o que "é" é uma espécie de objecto passível de conhecimento. O conceito de intencionalidade irredutível da mente —que a torna uma estrutura normativa e não um mecanismo cientificamente tratável— aparentemente não lhes interessa.

