O Markl chama-lhe abuso, eu chamo-lhe filha-da-putice
«(...) Numa secção da revista dramaticamente intitulada "A Dor..." (assim mesmo, com reticências; não percebo se para efeito poético ou para deixar um espaço em branco para preencher, semanalmente, quem são os diferentes doridos), o texto integral que aqui escrevi sobre a morte do meu pai surge numa coluna toda jeitosa com o título "A Carta Aberta da Semana", com uma fotografia minha e, rematando todo um conjunto de espectacular gosto tendo em conta o assunto do texto, uma outra foto minha e da minha namorada Ana, por coincidência vestidos de preto (conveniente) mas à saída da maternidade, em Junho passado, sorrindo alegremente e segurando o ovo onde estava deitado o Pedro. O mau gosto de tudo aquilo que está impresso é o menos; cada um tem o gosto que tem e nem todos podem nascer com o dom da sensibilidade. O mau gosto profundo e imperdoável está na maneira como, com uma falta de respeito, de consideração, dos mais elementares mecanismos da vida em sociedade; em suma: de decência, pura e simples, a Nova Gente estampa a homenagem que aqui fiz ao meu pai naquela página não se preocupando nem em pedir-me permissão pela publicação do texto integral, nem fazendo a mais pequena referência ou enquadramento sobre de onde o tirou. Quem veja aquela página da Nova Gente pensa o que pensaram algumas pessoas com quem falei e que viram esta edição da revista: que escolhi a Nova Gente como nobre plataforma para a despedida do meu pai. Que, eventualmente, lhes dei ou vendi o exclusivo da minha dor. Não há nada naquela página, naquela coluna, que explique que aquilo foi um texto publicado num blog pessoal. (...)»

