Pois é,
já éramos taradas. Acordei e perguntei ao meu pai "morreu o Américo Tomás?", ao que ele responde, "não, querida, porquê?", "está esta agitação toda mais o hino nacional tantas vezes na rádio", e ele reponde-me "é uma Revolução, filha, vais perceber". Percebi, percebi um dia depois quando vi os presos políticos a sair de Caxias e disse à minha mãe "ó mãe, ainda bem que houve a Revolução, tu sabes como eu tenho medo da dor física, se fosse adulta antes de ontem era antifascista e não podia saber nada, porque se me magoassem eu ia dizer tudo e não podia. Ainda bem que existiu antes de ontem, mãe, quando não eu diria coisas que não podia dizer só porque me faziam doer, ou então não as podia saber, o que seria difícil, porque eu estaria a lutar contra a ditadura. Acreditas e percebes, não percebes, mãe?".