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juncos silvestres

Vou confessar uma coisa: quando me convidam para falar sobre a discriminação em função da orientação sexual, já não sei que diga.

Não me entendam mal – não é que ache o assunto desinteressante (caso em que não estaria aqui), é porque ao fim de tantos anos a pensar e a falar e a escrever sobre isto sinto que já esgotei todas as abordagens. A interrogativa, a explicativa, a agressiva, a reivindicativa, a contemporizadora, a sensível, a sensata, a paciente, a impaciente. E, no entanto, é preciso paciência. É preciso reciclar. E continuar. É preciso continuar não só porque o problema continua a existir como porque há demasiadas pessoas a pretender que ele não existe. A maneira mais perversa de discriminar – e que é, significativamente, a que tem sido adoptada nos últimos tempos por quem quer boicotar esta luta pela igualdade – é dizer que não há discriminação. Que as ‘diferenças’, entre aspas, que existem, até legalmente, no tratamento de umas pessoas e outras se devem às diferenças intrínsecas entre essas pessoas. Que gostar, amar, desejar pessoas do mesmo sexo e querer viver de acordo com isso é assumir uma dissensão, uma diferença voluntária, acintosa, que convoca e justifica, como preço a pagar, todos os exílios. Vou confessar outra coisa: não tenho a menor paciência para esta conversa. Não tenho e acho que ninguém deve ter. Não se trata de não saber encaixar uma opinião diferente, trata-se de não contemporizar com a intolerância e com um discurso e uma atitude que só têm um objectivo: discriminar. E portanto fazer sofrer. Humilhar, causar dor, fazer outras pessoas infelizes. Juncos Silvestres, que vi há muito tempo, quando estreou, é, como o recordo, um filme sobre a adolescência e portanto também um filme sobre o amor e o sexo e sobre a natureza – a natureza do amor, do sexo e da própria natureza. É um filme muito bonito e muito recomendável como filme – mas também como pedagogia. Apetece-me aliás prescrevê-lo como tratamento. A toda a gente, e sobretudo a quem ainda hoje se atreve a falar da homossexualidade como doença e a propôr-se tratá-la. Com que autoridade o faço, perguntar-se-á. Com a mais alta: a do respeito que exige respeito, a do igual que exige igualdade. É só o que é preciso: respeito e igualdade. E em doses reforçadas, porque o diagnóstico é de grande carência. (lido hoje as 21.30h na cinemateca, antes da projecção de juncos silvestres -- les roseaux sauvages, andre téchiné, 1994 --, a convite da comissão para a igualdade)

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