O endividamento português
"O endividamento privado da economia portuguesa cresceu de forma muito acentuada a partir de meados dos anos 1990 – as dívidas das famílias e das sociedades não financeiras aumentaram de 26% e 47% do PIB, em 1995, para 99% e 115%, em 2009, respectivamente. As baixas taxas de inflação e de juro (que se seguiram à adesão ao Sistema Monetário Europeu e ao Euro), taxas de crescimento do PIB elevadas até 2000, o desenvolvimento do sistema financeiro e um processo de urbanização acelerado estão entre as principais causas daquelas tendências. Embora o alisamento do consumo seja a explicação mais óbvia para o comportamento das famílias (antecipação de consumo na expectativa de rendimentos mais elevados no futuro), as razões do elevadíssimo endividamento das empresas não é tão óbvio (ele não se vê nas estatísticas da produtividade, por exemplo). A dívida pública em percentagem do PIB permaneceu razoavelmente estável, apesar do aumento do peso da despesa pública no PIB. A tendência crescente do endividamento privado coincidiu com uma tendência decrescente da poupança das famílias. Grécia, Espanha e Irlanda partilham algumas destas tendências e o seu corolário: um aumento significativo dos défices externos."
Fernando Alexandre, Dívida expectativas e realidade