Na véspera da morte de João Paulo II, numa conferência no convento de Santa Escolástica em Subiaco, o então cardeal Ratzinger endereçou aos secularistas uma proposta que considerou irrecusável. Essa proposta tem sido frequente e insistentemente reiterada por Bento XVI como sendo a única coisa racional a fazer para “salvar” a Europa: aceitar que tanto na esfera privada como na esfera pública (isto é, na discussão e promulgação das leis do Estado) , todos, católicos e não católicos, devem agir «veluti si Deus daretur» – como se Deus [o do catolicismo, claro] existisse.
A visita papal só teve como novidade a modificação do discurso de vitimização em relação aos casos de abuso sexual de crianças por membros da Igreja e o reconhecimento de que as tribulações por que passa a Igreja são causadas por «pecados» internos e não por inimigos externos. Todas as intervenções do Papa foram marcadas pela habitual rejeição de um mundo moderno que se recusa a aceitar as suas propostas e a viver «veluti si Deus daretur». Também habituais foram as constantes exortações de Bento XVI aos crentes para que resolvam esta «crise da verdade». Tudo somado, não me parece que, assente a espuma mediática dos dias, esta visita deixe marca.
IH, eu sei que não sou a Palmira, mas também me apeteceu comentar esse texto.
Todo o texto tem por objectivo fundamentar o catolicismo como modelo de toda a sociedade, ou seja, continua a insistir no ponto de que o catolicismo devia orientar-nos enquanto sociedade, por oposição ao laicismo (que associa de forma implicita ao ateísmo). Portanto voltamos ao mesmo: são católicos a quererem impor pontos de vista religiosos a toda a sociedade, sem respeitar os pontos de vista das pessoas que não se identificam com o catolicismo.
Vou-lhe relembrar uma frase "sagrada" das minhas aulas de filosofia do 10º ano: a sua liberdade acaba onde começa a minha. Se tenta impor uma sociedade que não respeita outros credos e outros pontos de vista está a retirar liberdade aos outros. É natural que a Igreja Católica não admita que faz isso (nunca admitiu em 1600 anos de existencia), por isso também é natural que quem não é católico fique danado com essa atitude dos católicos (e de outras confissões religiosas...).
Por fim, a teoria do caos e colapso na ausencia de religião é do mais demagógico que há! A construção da sociedade pelos homens que usam batina, e seus seguidores, é boa, mas se os homens e mulheres não usarem batina é má?!! Dê as voltas que quiser dar à questão, até porque sei que deve ter sido ensinado a isso, mas não se consegue ser coerente quando defende uma sociedade para todos orientada por valores religiosos. Se alguém quer excluir alguém da sociedade, são os religiosos que o incentivam.
A mania da perseguição costuma acontecer a quem não consegue ter razão, e por isso aponta a inimigos externos. Isto diz-lhe alguma coisa?...
Pedro S, também me apetece comentar. Vou começar pela sua frase: "a sua liberdade acaba onde começa a minha". Note bem, porque às vezes os livros de filosofia não explicam tudo. Se continuar "fundeado" nesses modelos não se dará conta que a liberdade não pode ser tratada como uma propriedade, consequentemente, pertença de um proprietário. Ela, a liberdade, não é propriedade, mas condição do ser humano. Assim, compreenderá que poderá cair nos mesmos erros que aponta a outros. A partir desta reflexão compreenderá o que penso a respeito de toda a outra retórica em que pauta seu comentário. Todavia, sou capaz analisar essa sua retórica à luz da dialética da dúvida, com ou sem benefícios.´
Zé do Telhado, a minha liberdade é mesmo propriedade minha. Não depende da minha condição de ser humano, porque senão dependia das opiniões sobre o que é a condição de ser humano, e lá voltávamos às teologias não é?
A minha liberdade é propriedade minha. Faço dela o que quiser, quando e onde quiser. Se invadir a liberdade dos outros é natural que os outros protestem e reclamem sobre essa invasão. É até natural que me retirem alguma liberdade para evitar novos abusos. Se não invado a liberdade dos outros, ninguem tem nada que opinar ou legislar sobre as escolhas que faço. É a minha liberdade (e sublinhe-se o "minha").
Para a ICAR não há liberdade individual, a liberdade de todos é pertença da Igreja, aliás negá-lo constitui mesmo a verdadeira revolta contra Deus e portanto o Mal. É esta pretensão “insensata” e “desumana” (segundo Wojtyla e Ratzinger) do homem à liberdade, em vez da obediência à “lei moral natural” debitada pela ICAR, que o século passado tem sido o século dos "totalitarismos".
Este seu comentário é ao mesmo tempo hilariante e ao mesmo tempo causa arrepios porque mostra que a Palmira deslocou definitivamente da realidade.
Eu estou na "ICAR" e nunca em momento algum a minha liberdade individual esteve em risco. Não tenho medo da "ICAR" mas tenho medo que pessoas como a Palmira um dia conquistem o poder. Aí tenho medo que a minha liberdade individual fique em risco
A sua liberdade individual não está em risco porque voçê aceitou que a sua liberdade ocorria dentro dos limites que a ICAR definiu. Se não aceitasse isso não diria o mesmo...
Sabe do que está a falar? Conhece a minha vida pessoal? Conhece o percurso da minha vida? Eu nunca me atrevo a mandar palpites sobre a vida de pessoas que não conheço.
Acho uma grande presunção da sua parte fazer essa afirmação. Não tem como a sustentar.