Blasfémia em Espanha
Este vídeo, realizado em 1978 por Javier Krahe, em Super 8 e para consumo caseiro, foi referido (mas não foi mostrado) brevemente durante uma entrevista, em 2005, ao cantor satírico no Lo+Plus (Canal+). A «blasfémia» enfureceu o Centro de Estudios Jurídicos Tomás Moro que interpôs uma acção no Juzgado de Instrucción número 3 of Colmenar Viejo, em Madrid, contra o cantor e a directora do programa, Montserrat Fernández Villa. A organização católica, cujo lema é «Cristianizando el Derecho. Cristianizando la Sociedad», entende que a referência a tão blasfema coisa atenta contra os seus sentimentos religiosos, um crime previsto no artigo 525 do Código Penal espanhol. Quem, como eu, achar absurda a acção movida pela organização fundamentalista pode manifestar o seu apoio a Krahe aderindo no Facebook ao grupo Yo a Cristo me lo como crudo.
Não sabia que a lei espanhola penalizava a blasfémia e penso que o Parlamento Europeu partilha a minha ignorância em relação a tão anacrónica disposição legal. Só assim percebo que há escassos dias o PE tenha aprovado uma resolução que pede ao Paquistão para rever as suas leis da blasfémia, que considera abertas a abusos, e tenha apontado a contradição entre a sua pretensão de defesa da liberdade religiosa e o seu papel activo na ONU em prol de uma resolução condenando a «difamação da religião». Não seria melhor arrumar a casa, ou seja, aprovar uma resolução análoga para os países integrantes da Comunidade, antes de apontar o dedo ao exterior? Ou será que o PE considera que é completamente diferente blasfemar contra o catolicismo e contra o islamismo? Porque pelo menos dois países europeus, a Irlanda e a Espanha, mantêm leis da blasfémia.