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A sustentável leveza da tecnologia

 

Acho adorável o elogio à insustentável leveza deste telemóvel  (ou antes, teletransportável) de meados da década de 80, que pesa 30 onças ou seja cerca de 0,9 kg. Isto, claro, sem o indispensável carregador (a autonomia do Motorola DynaTAC 8000X era muuuuito reduzida, cerca de meia hora de conversação), que pesava 2 kg, ou seja, somava para o conjunto uns levissimos 3 kg. Tudo por uma módica quantia de 4000 dólares.

 

Mesmo assim, este primeiro hand set foi um enorme progresso em relação aos telefones móveis da altura, destinados a serem usados nos carros. Esta pérola que encontrei no Engadget, que recupera apreciações dos gadgets que faziam furor em 1985, explica porquê com a descrição do que foi um dos primeiros Nokia's, o Mobira Talkman: «They're probably best known for their tires, but lately Finnish industrial conglomerate Nokia's been making a big push into the wireless biz with its Mobira subsidiary (best of luck with that, Nokia!). Mobira just introduced its latest ultraportable cellphone, the Talkman (positively no relation to the Walkman, so don't sue, ok, Sony?); clocking in at a mere 11 pounds (uns meros 5 kg), this bad boy will have you walking and talking in no time.»

 

Mais divertida ainda, se pensar que o meu Nokia E66 pesa 120 g e tem incorporado, entre outras coisas, um GPS, é a descrição do TI4100 da Texas: «Damn, dude, GPS (that stands for global position system) receivers are shrinking like crazy. We thought things were getting out of hand when we saw those $140,000 four-channel receivers that only weigh 80 pounds (apenas 36 kg) and need two car batteries to run, but the Texas Instruments TI4100 gets away with reducing that size by halving the channels, yet it still plots longitudinal and latitudinal coordinates... simultaneously, no less. Welcome to the future, friends.»

 

Umas décadas antes, em 1945, um número da Tomorrow’s Technology tinha um artigo de um proeminente perito que afirmava que a televisão estava condenada para todo o sempre a ser um brinquedo para uns muito poucos e muito ricos felizardos. Felizmente, nessa altura, nem todos pensavam como ele, nomeadamente a nível das organizações estatais que apoiaram a tecnologia emergente (e muito cara). A previsão pessimista do «perito» assentava na assunção de que a tecnologia subjacente permaneceria inalterada. Lembro-me que a mesma apreciação foi debitada por muitos em relação aos telemóveis quando estes fizeram a sua aparição no nosso mercado e continuam a ser debitadas constantemente a propósito de tudo e mais umas botas que tenha como base a inovação tecnológica, Estou a referir concretamente as Cassandras mediáticas que invectivam o investimento na mobilidade eléctrica.

 

A televisão e toda a electrónica foram revolucionadas pouco depois do augúrio debitado na Tomorrow's Technology, com a descoberta do transistor em Dezembro de 1947. O transístor permitiu a substituição das válvulas, autênticos monstros, em dimensões e consumo de energia, que demoravam a aquecer e falhavam amiúde, precisando ser substituídos com alguma regularidade. O ENIAC,  o primeiro computador electrónico construído (em 1946, na UPenn), tinha 17 468 válvulas, pesava 27 toneladas e ocupava uma área de 63 m2. Em 2000, um grupo de alunos de engenharia electrónica da UPenn reproduziu as capacidades de cálculo do ENIAC num chip com menos de 40 mm2, ou seja, um milhão e meio de vezes mais pequeno e vários milhões de vezes mais leve, com cerca de 174 mil transistores (actualmente, o processador central de um computador pode ter mais de 2 mil milhões de transístores).

 

De igual forma, a transportabilidade dos telemóveis melhorou imenso com as evoluções notáveis a nível electrónico mas também com o desenvolvimento de novas e melhores baterias, em particular com o aparecimento das baterias de lítio, desenvolvidas em meados dos anos 80 por John B. Goodenough para a Sony e comercializadas desde 1991.

 

O lítio, o metal de número atómico 3, é o metal menos denso (mais «leve»), e com potencial normal mais baixo, isto é, permite o desenvolvimento de pilhas não só com a melhor razão energia/peso como com maior força electromotriz ou maior voltagem. A sua baixa estabilidade térmica tem limitado o seu campo de aplicação a aparelhos electrónicos portáteis, pouco exigentes em consumo, mas esses e outros problemas estão a ser resolvidos, por exemplo, pela Li-Tec, que começará já em 2011 a produção em massa das suas baterias CERIO®, primeiro para a Mercedes e depois para outras marcas.

 

Desde a sua invenção há mais de 200 anos, quando Alessandro Giuseppe Antonio Anastasio Volta rejeitou o «fluido eléctrico animal» proposto por Luigi Galvani e inventou a primeira célula voltaica, em 1800, pilhas e baterias são utilizadas num enorme número de aplicações mas a sua substituição de derivados do petróleo como alimentação de veículos automóveis tem apresentado algumas dificuldades, nomeadamente porque até há bem pouco tempo as baterias disponíveis eram pesadas, com pouca autonomia e difíceis de recarregar. Mas a tecnologia subjacente às baterias tem conhecido progressos estonteantes nos últimos anos e o estado da arte é muito mais favorável à «democratização» do carro eléctrico do que o era, nos idos da década de 40-50 em relação à televisão ou na década 80 em relação às comunicações móveis. Imaginem que, devido aos problemas e preços da televisão, o governo português não tivesse decidido criar a RTP em 1955 ou se, em finais nos anos 80, os então CTT/TLP tivessem considerado que esta história dos telefones (pouco)  móveis era uma coisa arriscada, cara e em que por isso não se devia investir...

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