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Mundial proibido na Somália

A Somália não tem um governo central efectivo desde 1991, quando o governo anterior foi derrubado por milícias de clãs que mais tarde se viraram uns contra os outros. Em 2004, as Nações Unidas ajudaram ao estabelecimento de um governo interino na Somália, mas esse governo situado em Baidoa, a 250 km de Mogadiscío, não conseguiu entrar na capital, devastada, como toda Somália, pelos senhores da guerra. Em princípios de Junho de 2006, a União dos Tribunais Islâmicos, UTI, assumiu o controle da capital, expulsando os ditos senhores da guerra que a tinham controlado durante cerca de 15 anos. Os habitantes da capital somali sentiram-se inicialmente aliviados pela vitória da UTI, que pôs termo a décadas de insegurança e violência, mas rapidamente se revoltaram contra os fundamentalistas islâmicos por causa do futebol.

 

De facto, a milícia islâmica que controlava a cidade proibiu a transmissão do Mundial que teve início com o seu controle da cidade. Todas as (muitas) exibições públicas improvisadas dos jogos de futebol do Mundial foram interrompidas à força pelos fanáticos islâmicos, desencandeando uma onda de protestos dos milhares de somalis que pretendiam ver os jogos. «Não permitiremos a exibição do Campeonato do Mundo porque isso corrompe as nossas crianças a quem nos esforçamos por ensinar a via islâmica da vida», declarou na altura Abdul Kadir Ali Omar, vice-presidente da UTI, um grupo suspeito de ligações à Al-Qaeda.

.

Quatro anos depois a história repete-se com o Al Shabaab, um dos mais sanguinários grupos islâmicos, que há 3 anos aterroriza os cidadãos somalis, cortando mãos, apedrejando crianças e mulheres à morte, proibindo soutiens, televisão e música na sua procura de um estado islâmico perfeito, isto é,  de um retrocesso civilizacional ao século VII.  As milícias fundamentalistas, que controlam grande parte da Somália, incluindo quase toda a capital, Mogadíscio, têm-se devotado nos últimos dias a prender, torturar e matar os somalis «inimigos do Islão» que insistem em ver os sacrílegos jogos de futebol, uma imoralidade ocidental que os «distrai de prosseguir a sagrada jihad». No entanto, muitos somalis estão dispostos a arriscar a vida para se oporem aos ditames dos fanáticos do Al Shabaab. Ou seja, parece que a revolta contra as barbaridades dos fundamentalistas somalis passa não pela cabeça mas pelos pés. Nunca pensei que o futebol tivesse tantas virtudes :)

4 comentários

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    Palmira F. Silva 14.06.2010

    Sem tv, sem música, sem soutiens,  sem nenhumas modernices ocidentais ... enfim, mesmo um retrocesso civilizacional. Ah, claro, e impondo esse retrocesso à força...
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    Luís Lavoura 15.06.2010

    As feministas dos anos 60 também não usavam soutien, que consideravam um instrumento de opressão da mulher. Embora hoje já não seja vulgar, na minha juventude ainda se viam (em países da Europa desenvolvida) miúdas que faziam gala em não usar soutien.

    Ou seja, proibir os soutiens é tudo menos um retrocesso. Muitas feministas talvez o considerassem um progresso...
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    Palmira F. Silva 15.06.2010

    Eu sei que o Luís Lavoura tem dificuldades em distinguir escolha pessoal com proibições impostas à força mas chamar à proibição dos soutiens, em particular pensando nos moldes em que esta proibição é imposta, um avanço civilizacional é demasiado, mesmo para o Luís Lavoura...
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