Irão, um ano depois
Há exactamente 1 ano, a 15 de Junho de 2009, o mundo viu uma onda verde que alastrava no Irão em consequência das fraudulentas eleições de 12 de Junho. Hoje, o dia é recordado com amargura pela brutal reacção do regime islâmico contra o seu próprio povo, por exemplo pelo correspondente da Newsweek detido e torturado na infame prisão de Evin, durante quase 4 meses, desde 21 de Junho. Maziar Bahari conta finalmente a sua história no mesmo dia em que o Guardian apresenta o resultado de dois meses de investigação junto a elementos da Guarda Revolucionária e o Washington Post especula sobre o que poderia ter acontecido se Obama tivesse apoiado a onda verde.
A realidade é demasiado dura para especulações no relatório recentemente divulgado pela Amnistia Internacional. Intitulado «From protest to prison: Iran one year after the election», o documento descreve em detalhe as consequências das eleições contestadas.
Pelo menos 80 pessoas morreram nas ruas do Irão ou na prisão durante os protestos do Verão passado. O número real de vítimas poderá ser muito maior ainda. Actualmente, pelo menos seis presos políticos aguardam execução, condenados como mohareb (inimigos de Deus) pelo seu papel nas manifestações. Até à data da elaboração do relatório, a AI registou 115 execuções políticas no Irão. Centenas de jornalistas, estudantes e activistas políticos atrás das grades. Mas eles não estão sozinhos; advogados, professores universitários, ex-presos políticos e membros de minorias étnicas e religiosas sentiram o peso da repressão também. Apenas no sábado, foram presas mais 900 pessoas para prevenir manifestações contestárias das eleições roubadas.
Mas embora aparentemente o movimento verde tenha sido esmagado pelo regime e não tenha conseguido estabelecer o seu objectivo, repor a verdade das urnas, na realidade continua a promessa que sempre foi: o despertar de um Irão livre face à verdadeira face de uma teocracia.
Os Verdes conseguiram algo ainda mais improvável e difícil: enfraquecer a legitimidade de um regime que inicialmente não contestavam. Antes de Junho de 2009, apenas alguns, muito poucos, iranianos se atreviam a dizer que o líder supremo Khamenei é um vigarista, um número significativo agora duvida da sua probidade. Esse número não é por enquanto a maioria, mas é uma minoria vocal. Ou seja, se não conseguiram o seu objectivo de curto prazo, o reconhecimento da vitória de Mousavi, a brutalidade da retaliação do regime a essa legítima aspiração alicerçou um movimento social que terá certamente resultados a médio/longo prazo.
O regime iraniano é um regime que, agora, depende mais do poder (isto é, da imposição dos seus ditames pela força) do que da autoridade (a certeza de que uma ordem será obedecida voluntariamente). E os regimes sustentados por força bruta são sempre mais difíceis de manter do que aqueles baseados em autoridade.