Escatologia orçamental
Na interpelação ao governo de hoje, o Bloco escolheu o tema política orçamental. Na verdade, o Bloco queria era que o governo assumisse, de uma vez por todas, que vai ser necessário mexer no 13º mês. Quando a bancada parlamentar do PS referiu que a execução orçamental* é muito melhor do que aquela que estava implícita no OE (em termos de receita fiscal, de despesa e de crescimento do PIB) e que, por isso, não há qualquer dado que justifique o alarmismo e as ansiedades do Bloco, o deputado Pedro Soares saiu-se com esta maravilha: "o PS mistifica a realidade, esses indicadores não nos dizem nada porque são contingentes, temporais". Repito: são irrelevantes porque contingentes e temporais. Realidades há muitas, é certo, mas a do Bloco parece ser uma realidade que transcende a realidade; a realidade do Bloco é não-empírica, transcendental, necessária a priori. A realidade não empírica que a luta do Bloco pressupõe, obriga que este decrete que, independentemente de todo e qualquer indicador, com o PS, a coisa só pode caminhar para o apocalipse. Os boletins de execução orçamental não são mais do que um instrumento manipulador do aparelho ideológico do Estado.
*A execução orçamental não inclui qualquer das medidas adicionais que foram aprovadas após o OE. Ou seja, a execução orçamental legitima o que o Governo disse durante o debate do OE e que muitos juravam ser uma - mais uma! - 'fantasia' deste governo, que insiste em 'negar a realidade'.