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jugular

Famílias formalmente constituídas e assim

Independentemente da qualidade da decisão – a qual não vou comentar porque ainda não li o documento final que a estabelece - há afirmações que não se podem fazer, sob pena de entrar mosca ou sair disparate. Eis um exemplo, “A APFN acusa o Estado de se desresponsabilizar no apoio às famílias formalmente constituídas, o que terá consequências na natalidade, por um lado, mas também na criminalidade. Então e isso poruquê, hã?

Assim de repente e, repito, ainda mal informada, aqui ficam mais dúvidas. O abono de família não duplica com o segundo filho e não triplica com o terceiro e seguintes? Isto não é já uma realidade? E essa majoração não é um benefício para as famílias numerosas? E não existem famílias numerosas monoparentais?

 

Declaração de interesses: nenhuma. Faço parte de uma família monoparental* sem direito a abono de família.

*não posso, portanto, e mesmo querendo (safa…), contribuir para o aumento da natalidade e sou progenitora duma potencial criminosa.

"A modéstia do meu livro"

Apesar de ofendida pelos disparates de "um estruturalista" e de um "ressabiado social" (não é a mesma coisa?), a Drª Filomena Mónica furtou-se até agora a responder às críticas à mais recente produção do seu engenho, intitulada Cesário Verde: Um Génio Ignorado.

Resolveu agora, porém, reagir no Diário de Notícias à opinião de Mega Ferreira, presumivelmente por ele não ser suspeito de estruturalismo.

A Doutora concede que não gastou muito tempo a enquadrar Cesário na sociedade do seu tempo - embora isso fosse para ela muito "fácil" - por entender que o génio do poeta não se deixa explicar por trivialidades semelhantes. E reconhece que não revelou novos documentos porque está em condições de garantir que eles não existem.

Para outra pessoa menos afoita, a carência de material ou ideias novas seria razão suficiente para se abster de perpetrar o volume. Não assim a Drª Mónica, a quem essas pequenas dificuldades não atrapalham.

Mas o que ela principalmente entende dever explicar-nos é a razão pela qual taxou Cesário Verde de "génio ignorado".

Eis o que nos diz: "É evidente que Cesário Verde não é ignorado entre as camadas cultas, mas é-o junto da população." Para ilustrar a sua tese poderia ter invocado, como já fez noutras ocasiões, o exemplo da sua mulher a dias; ou, não querendo entrar em intimidades, poderia fazer notar o quase total desconhecimento do autor de O Sentimento de um Ocidental entre os papuas da Nova Guiné.

Em vez disso, preferiu dar-nos conta de omissões culturais bem mais significativas, como as de amigos "embaixadores e presidentes de grandes empresas" que lhe confidenciaram estarem a zero em relação ao pobre Cesário.

E conclui assim: "O que parece ter passado desapercebido aos meus críticos é o carácter extremamente modesto do meu livro". O país deve, de facto, um pedido de desculpas à Drª Filomena Mónica.

Do membro viril

Há verdadeiros cultores da palavra caralho (só não a escrevi no título do post para manter um ar de bem comportada, as aparências e tal...e porque membro viril me agrada de sobremaneira) um pouco por todo o lado -  lembro, por exemplo, Joaquim Pessoa e o seu "Poema Temperamental". Seria uma tarefa hercúlea tentar descobri-los a todos, razão que me leva a quedar-me na blogosfera e nesta consigo identificar alguns mestres na arte do uso do caralho (isto soa um bocadito estranho, adiante...). Inequivocamente o maradona e o Pedro - irmãozinho - Vieira fazem parte desse clube, mas há alguém que eleva o refinamento de artesão a outros patamares, porque teoriza sobre o uso do mesmo. Estou a falar do Segismundo, do Albergue dos Danados. Veja-se a sua última incursão em tais indecentes domínios (para ler na íntegra): Dele, uma das memórias mais certas da infância é a competência precoce no uso de vocabulário interdito e contrário à decência. Para que conste, ele profere «o caralho» com propriedade desde tenra idade, para opróbrio materno sobretudo.(...)

Da democracia

Há uma frase célebre de Léon Gambetta que é usada de forma sistemática por aqueles que, em França, defendem a existência da Lei da Paridade (acabei de me lembrar dela ao ler uma notícia no El País sobre uma sentença do Tribunal Constitucional espanhol). Diz o seguinte, "Ce qui constitue la vraie démocratie, Messieurs, ce n'est pas de reconnaître des égaux, c'est d'en faire". Não me parece que a sua aplicação se esgote na questão da paridade (questão polémica que, aliás, me permite travar grandes batalhas com gente de quem, normalmente, me sinto muito próxima na maior parte dos temas "quentes". Ah!sou, para que não restem dúvidas, defensora de leis de paridade transitórias e farto-me de apanhar na cabeça por isso) e apetece-me deixar as palavras de Gambetta a pairar neste espaço, à laia de lenha para a fogueira das meditações.

Ecce homo

Finalmente, o ministro foi-se embora. Toda a gente respira de alívio. Quem está acima livrou-se da impopularidade da figura com as eleições no horizonte, quem está na oposição vê a confirmação da "política errada" e o recuo governamental, quem está abaixo festeja a vitória e já faz ultimatos à nova titular. Quanto aos eleitores, que nem parece que deram uma maioria parlamentar a este partido para que pudesse fazer as tão desejadas "reformas de fundo", esses bocejam. Afinal, parece que ninguém quer a reforma na saúde. Como ouvi hoje da boca de um dos cabecilhas do movimento de contestação da Anadia, "nos princípios estamos de acordo, não concordamos é com a prática". Pois o problema das reformas é sempre este. Todos concordamos com a sua necessidade, com o seu atraso, com a sua inevitabilidade. Não concordamos é com a prática. Enquanto a coisa se fica em declarações de intenções, remamos todos para o mesmo lado. Quando começa a doer é que são elas. E se tem que doer a alguém, que seja aos outros. A mim, não. É isto na saúde, na educação, na justiça, na administração pública. Et la nave va. Fazer sinal à esquerda e virar à direita, fazer alguma coisa para que tudo fique na mesma, são expressões velhas que me ocorrem de momento. Não há estudo, pesquisa, dossier que resista à inexorável voragem dos media, das baterias apontadas, do desgaste e da erosão a que uma reforma deste tipo está sujeita. As pessoas vão suspirando, de forma mais ou menos envergonhada, mais ou menos sussurrada, por soluções milagrosas, desde "um novo Salazar que endireite isto" até à integração no país vizinho. Pelo meio, lá vai mais um jogo do Benfica e um joguinho no Euromilhões. É tudo uma questão de fé. De fezada, melhor dizendo. E fé num ministro é coisa inédita. Não é casamenteiro nem faz milagres. Mas às vezes parece que era suposto fazê-los.

A mim, que não tenho especial simpatia por Correia de Campos nem sou adepto do corte cego nas despesas ou do encerramento dos serviços porque sim, dá-me a sensação de que este foi um caso infeliz. O ministro caiu por causa de Anadia, da criança que morreu há dias e, sobretudo, do barulho mediático. Parece-me que há uma grande confusão entre "serviços de urgência", "ambulâncias do INEM" e "centros de saúde". As pessoas querem o seu serviço de urgência como querem o seu clube de futebol, a sua colectividade, quiçá a sua maternidade. Com doses maciças de desconfiança a minar a relação com o poder eleito e imagens de mais uma criança a nascer (ou a morrer) numa ambulância, está o caldo pronto. As pessoas reagem quase cegamente sem saberem, muitas vezes, porquê. Nestas situações, lembro-me sempre dos comentários pessimistas dos velhos quando falam dos assaltos e do aumento da criminalidade. O tom geral é invariavelmente o de que "isto está cada vez pior", ou "antigamente não havia disto". Poucos parecem perceber que "antigamente" havia censura e a penetração dos media era mais do que limitada, enquanto hoje devoram diariamente o Correio da Manhã com doses maciças de "casos de polícia". Um pouco como o alegado aumento dos casos de pedofilia, como ouvi muitas vezes da boca de familiares. Nem lhes passa pela cabeça que "dantes" não eram denunciados e, sobretudo, não vinham nos jornais. Voltando à vaca fria, quando "antigamente" alguém morria num centro de saúde, não era notícia. Afinal, o médico, o enfermeiro ou o serralheiro de serviço faziam o que puderam. Hoje, se alguém morre numa ambulância  caminho do hospital, onde há meios e pessoal médico habilitado, a culpa é do ministro, porque encerrou o tal centro de saúde. Bom seria ter um hospital D. Estefânia em cada localidade, para as crianças, um Santa Maria em cada aldeia, para a cardiologia, e por aí fora. Ninguém parece perceber o ridículo disto. No século XVI e XVII, os vice-reis da Índia eram nomeados por 3 anos. Dizia-se então que cada um passava o primeiro ano a pagar as dívidas e a tapar os buracos do seu antecessor, o segundo a inteirar-se dos problemas e das carências existentes, e o terceiro a desviar o seu pecúlio para preparar o regresso ao reino. Resultado, as crises agravavam-se e o Estado da Índia dava mais um passo no seu torpor imobilista e incapaz de reformas de fundo. Não foi por acaso que  estrutura básica criada por Afonso de Albuquerque, Ormuz + Goa + Malaca, se manteve estática e inalterada, apesar de todos os diagnósticos que apontavam para os graves inconvenientes desta situação, apesar de todos os projectos de mudança. Sim, já nessa altura, os portugueses eram pródigos em projectos e paupérrimos em reformas. Medina Carreira disse anteontem, na SIC-Notícias, coisas muito interessantes, no tom que lhe é peculiar. Mostrou simpatia pelo ministro, reconheceu a sua indesmentível capacidade técnica e a sua preparação para a tarefa, mas rematou logo a conversa com a ideia de que não iria muito longe, porque "não tem dinheiro". Portanto, das duas, uma: ou a demissão de Correia de Campos permite milagrosamente desbloquear os milhões necessários, ou a nova ministra está condenada. Há uma terceira hipótese, de longe a mais desejada por todos: adie-se a reforma do sector, deixe-se tudo como está. Depois das próximas eleições, logo se verá. Afinal, talvez um dia apareça um ministro capaz de uma reforma integral de um sector em menos de 3 anos. Porque se demorar mais do que isso, está condenado.

2008, Ano Internacional da Batata

Desidério Murcho parece ignorar (ler aqui) a diferença entre língua e ortografia, o que lhe permite investir contra aquilo que designa como tentativa de "legislar sobre a língua" a propósito do acordo ortográfico luso-brasileiro.

E, todavia, basta pensar um bocadinho para entender que nenhuma convenção ortográfica altera sequer o modo como as pessoas pronunciam as palavras, quanto mais a língua que elas falam. Se assim não fosse, elefante teria de escrever-se "ilfant"; Setúbal, "Stúbol"; e Portugal, "Pretegól".

Como seria de esperar, Desidério believes they order these things better in England: "Não há tal coisa [leis sobre a ortografia], tanto quanto sei, nos países de língua inglesa; e no entanto os livros americanos e ingleses circulam entre os dois países sem dificuldades". Sabe mal, pelo menos em relação à segunda parte da sentença, dado que as obras de autores ingleses, sobretudo ficcionistas, sofrem alterações significativas quando são editadas nos EUA, o que até tem dado lugar a conflitos entre escritores e editoras em certos casos em que as correcções foram muito para além da mera grafia, afectando inclusive a construção das frases.

Mas, sobretudo, Desidério não tem em conta que o mundo de língua inglesa não é esmagadoramente dominado pelos americanos do mesmo modo que o de língua portuguesa o é pelos brasileiros. Ora é essa a raiz do problema que o acordo ortográfico visa resolver.

Desidério, que manifestamente nunca se debruçou a sério sobre o tema, alvitra que a melhor maneira de conseguir a uniformidade ortográfica - à qual, presumo, reconhecerá alguma utilidade - é deixar que ela se inspire nos "dicionários, gramáticas, enciclopédias e outras obras de consulta, além da escrita académica em geral e também da popular, como é o caso dos jornais."

Não fica claro que espécie de mecanismo de selecção impedirá que um dicionário opte por "elefante" e outro por "ilfant", dado que se trata de uma mera convenção, mas a questão central nem é essa.

Desidério Murcho parece ignorar que na generalidade dos países, e também em Portugal, a normalização da ortografia tem estado a cargo de instituições da sociedade civil aptas para tal, por regra Academias das Artes ou das Ciências, e que os Estados se têm limitado a sancionar essas orientações tendo em vista o seu ensino nas escolas e a sua aplicação em documentos oficiais. Como a leitura dos nossos jornais diariamente o comprova, ninguém vai preso pela prática reiterada de erros de ortografia - embora às vezes cheguemos a perguntar-nos se a pena de morte não deveria ser prevista em certas situações particulares.

Em Portugal, a única vez em que o Estado tomou a iniciativa de intervir directamente na fixação da norma ortográfica, nomeando especialmente uma comissão para o efeito, foi, creio eu, em 1911. De resto, a regra tem sido deixar o assunto a cargo da Academia das Ciências de Lisboa, a qual por sua vez discute desde 1980 com a Academia Brasileira de Letras (retomando, aliás, uma tradição já antiga) os termos de uma possível uniformização válida em todo o mundo de língua portuguesa.

Os Estados português e brasileiro só são chamados a intervir no processo para sancionarem os termos do acordo conseguido.

Suspeito que Desidério Murcho não sabe nada disto. Ele coloca-se na posição do mero técnico de ideias gerais, e a ideia geral que, neste como noutros casos, tem para nos propor é esta:
"A discussão sobre o acordo ortográfico não deve abordar exclusivamente a questão de saber se é linguisticamente acertado ou comercialmente vantajoso. Deve abordar também a questão mais fundamental de saber que tipo de sociedade queremos ser: uma sociedade que preza a liberdade, ou uma sociedade centralista, sufocada por leis sem as quais a vida não seria previsivelmente pior."

Este é precisamente o tipo de abordagem doutrinária que dá má fama ao liberalismo, uma ideia de grande valor que, pela minha parte, não estou disposto a abandonar a quem dela faz tão mau uso.

O autor da citação afirma que sem o acordo "a vida não seria previsivelmente pior", mas recusa-se a ponderar as vantagens e as desvantagens linguísticas e comerciais do acordo. Como pode ele então estar tão certo de que a ausência do acordo não afectará negativamente as nossas vidas?

Não sabe, evidentemente, nem está interessado em saber, porque toda a sua argumentação parte do dogma indiscutível segundo o qual a uniformização ortográfica destrói a liberdade. Retire-se esse postulado insensato, e não fica nada.

Não é amiguismo (e se fosse também não tinha mal nenhum)

Apetece-me recomendar o texto do Mouro porque gostei muito de o ler. Podia ter-me armado em melga  e obrigado o rapaz a publicá-lo aqui no cinco dias  mas estou com preguiça de fazer seja o que for.  Começa assim:  "Às 2 da manhã sentei-me, desanimado, olhando a sala num caos. Atrás de mim, Jorge Luís Borges discutia com o chefe dos bombeiros de Bradbury. Quase me apetecia dar razão a este e queimar todas aquelas arrobas de papel. Nunca irei reler – ou simplesmente ler – grande parte. Então porque é que me dou a este trabalho insano de os arrumar? Porque sim. Porque estão ali e quero que estejam. Porque gosto de os ver. Porque eles me falam, mesmo que nunca mais os abra.(...) "

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