Pela Moral e os Bons Costumes I(inaugurando uma série)
(roubado ao Peão... bem, não foi bem roubado porque a Vallera ofereceu-mo)
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(roubado ao Peão... bem, não foi bem roubado porque a Vallera ofereceu-mo)
Acabei de chegar da primeira sessão de um julgamento por roubo/bullying ao meu filho mais novo, à saída da escola, há mais de um ano. Se é verdade que o tempo de espera não abona muito em favor da Justiça, tenho que confessar que no meio de todo este processo - doloroso e traumático para o miúdo, com 10 anos na altura do acontecimento - fiquei muito agradavelmente surpreendida com a sensibilidade demonstrada quer pelos polícias que receberam a minha queixa inicial (não desvalorizando o trauma do miúdo pelo valor ínfimo do roubo), quer pelo que ficou responsável pela investigação(um modelo de sensibilidade e compreensão) quer pelo cuidado que hoje tiveram, juiz e delegado do ministério público, na forma de o abordar e inquirir. Durante este tempo muitas vezes me questionei se tinha tomado a decisão certa ao apresentar a queixa, afinal, e como disse antes, o valor das coisas roubadas era insignificante e, mais importante que isso, de cada vez que éramos chamados a depor (na polícia ou, como hoje, no Tribunal) o meu filho ficava muito tenso, amedrontado com a possível confrontação com quem o tinha agredido. Teria sido mais fácil, é verdade, olhar para o acontecimento como um percalço "normal" na conquista da "independência". Logo de início decidimos em família o que fazer. Depois da decisão tomada o puto ter-se-à arrependido muitas vezes dela, por medo de represálias e eu, naturalmente, preocupei-me mas, no fim de tudo isto, estou convicta de que fizemos o que devíamos porque se há coisa que me chatearia era que meia dúzia de malandrecos tivessem ficado com a impressão que poderiam fazer o que lhes dá na bolha, saindo sempre impunes. De um apertão, pelo menos e no fundo era só isso que me interessava, não se livraram.
Um belo par de jarras Público, 03.03.2008, Rui Tavares Desde a estupenda entrevista de Luís Filipe Menezes na passada semana que tudo aqui em casa - digamos, um jantar fora ou o arranjo do carro - se decide em quilómetros de auto-estrada. Ó gentes do mundo, escutai! Menezes é um político português que fez uma promessa em directo e logo adiantou que sabia quanto ela custava. A jornalista fez-lhe a pergunta natural: pois quanto custa, então? Houve um silêncio. O político remurmurou: eu sei quanto custa - e depois lá rematou a coisa: é uns quilómetros de auto-estrada.
Sim, santinho: mas quantos quilómetros? Não lhe passou pela cabeça que qualquer coisa pode ser medida em quilómetros de auto-estrada como pode ser medida em euros. Vamos pôr um português na Lua? Vamos! Quanto custa? Alguns quilómetros de auto-estrada. Provavelmente, os suficientes para asfaltar o país. Talvez pela sua nabice exasperante, quando Menezes disse qualquer coisa importante já ninguém reparou, felizmente para ele. Ao referir-se à condenação do seu partido por financiamento ilegal, Menezes disse que era apenas uma irregularidade, que todos os partidos o faziam e acabou culpando a hipocrisia reinante. E agora queremos saber: é verdade que todos os partidos o fazem? A cada partido cabe defender a honra ou explicar o seu silêncio. Deixar que uma empresa pague dívidas a um partido não é uma "irregularidade": é ilegal e hoje em dia é crime. Se a empresa paga a nova imagem e o novo logótipo, quem nos garante que amanhã não paga as despesas do novo programa? E como retribuiria então Luís Filipe Menezes o favor: em quilómetros de auto-estrada? Paulo Portas acusou um ministro, e até o meteu em tribunal, por considerar que este lhe fez graves "insinuações pessoais". Tanto quanto consegui entender, perguntando a toda a gente à minha volta, a insinuação foi de que as explicações que Paulo Portas deve pelos casos suspeitos que o seu partido acumulou quando esteve no Governo não se branqueiam como os dentes "na cadeira do dentista". Era isto? Uma comparação entre os dentes brancos do político e as manchas do seu partido? É isto uma grave insinuação pessoal? Ouça então, Paulo Portas: vá passear. Vá ver se chove. A questão aqui não é o respeitinho que lhe é devido, é o respeito que você deve aos seus concidadãos. Os seus concidadãos querem explicações civis e políticas sobre o que se passou no caso dos sobreiros, querem saber por que raio recebeu o CDS um milhão de euros às fatias pequeninas em poucos dias, como se explica que os mecenas do partido tenham nomes imaginativos mas poucos outros dados de identificação, se é possível a todos obter "imperceptíveis" alterações legislativas de última hora e a pedido, ou se apenas os casinos o conseguem, e se entre os sessenta mil documentos que você mesmo levou reproduzidos do Ministério da Defesa há dados confidenciais, ou se podemos todos saber quais são. E nada perguntamos sobre os 24 milhões de euros que a construtora dos submarinos depositou no Banco Espírito Santo, embora curiosidade não nos falte.
Zapatero hace el amor en campaña y Rajoy reza casi todas las noches
se o imi veio substituir, de uma penada, a contribuição autárquica e a sisa, e portanto calculado para 'compensar' as nossas queridas autarquias na perda das duas, isso deve significar que a malta como eu, que pagou a sisa, está a pagá-la outra vez, não?, mas desta vez em suaves prestações. coisa mai linda. (adenda, para quem não tiver pachorra de ler os comentários: meti água. a sisa afinal agora chama-se imt. estou de castigo, sim)
Há sempre um dia – muitos, aliás – em que isto de escrever parece não fazer sentido. Em que o gesto de alinhar letras e palavras e querer dizer qualquer coisa surge inútil, patético. É estranho, isto de escrever. Quem nunca teve de o fazer – e ter de fazer significa viver disto, ter prazos e horários e uma espécie de ultimato permanente sobre os dedos no teclado – não pode conhecer esta espécie de determinação cega que faz avançar o texto, esta espécie de coragem sob fogo (a bateria antiáerea do “que raio estou para aqui a dizer”, a bazooka do “nada disto é importante”, o míssil intercontinental do “isto é patético”) que não desiste. Avança-se na brancura do ecrã ou do papel por aquilo a que se dá o nome de “puro esforço de vontade”. Porque é preciso.
Para sentir a premência desse ditado, o império majestoso dessa determinação, é necessário ter um dia trabalhado num meio diário – um jornal, uma agência, uma TV, uma rádio. Saber que se tem uma hora, 30 minutos, 10, para fazer isto que nos pagam para fazer, para traduzir nestes símbolos que fazem as vezes de sons uma noção ou duas, cinco ou seis informações, talvez um estado de alma, talvez uma ideia ou uma perspectiva mais ou menos original. Saber que aquele espaço na página, aquele desenho por preencher é nosso, que é preciso fazer coincidir o que há para dizer sobre vacas loucas ou o debate parlamentar ou o bombardeamento de Gaza ou o julgamento da mulher acusada de mandar matar o marido -- ou nada (uma melancolia, uma memória, um desejo, a história de um peixe de aquário ou de uma iguaria de praia), como é o caso desta e de tantas crónicas – com o número de linhas, o número de “batidas”. É preciso pensar, arquitectar uma estratégia ofensiva e defensiva, uma apropriação do campo e do espaço, e fazê-lo no tempo disponível (e é sempre menos do que pareceria necessário, o tempo disponível). É preciso admitir que nos vamos enganar, e que não é possível querer fazer perfeito – como as mulheres que, li num livro há anos, tecem os tapetes persas e quando se enganam não emendam porque, explicava-se, “só Alá consegue a perfeição”. É preciso fazer as pazes com a ideia de ser só mediano, só banal, só indiferente, nada de especial e mesmo assim prosseguir no paradoxo do propósito maior. Há um truque para fazer isso, um único, e funciona para isto como para tudo: nunca pensar que não se é capaz, que não se consegue. Acreditar sempre que é possível. E avançar. Não há segredos a não ser este, e vale sempre, em todas as circunstâncias (na escrita e nas outras). Lobo Antunes chama-lhe “a mão inteligente”, essa espécie de rédea solta da escrita, um quase transe associado aos grandes feitos da literatura, aos poemas escritos em pé, de jacto, por Pessoa, aos monólogos de Becket ou do Herzog de Saul Bellow, esses encadeados perfeitos de palavras que não podemos senão imaginar em torrente, em convulsão, como uma revelação divina. Mas é assim, um pouco assim, o quase anónimo trabalho dos jornalistas, a pirueta sem rede sobre o abismo disso a que chamamos verdade ou factos ou realidade ou acontecimento. É nessa vertigem que se fazem as notícias e as visões do mundo servidas diariamente aos milhões que o compõem. Recolher o mundo e devolvê-lo, como se tudo tivesse um sentido declinável, unívoco, passível de ser organizado e traduzido, de ser estruturado em princípio meio e fim, premissas, desenvolvimento e conclusão: a tarefa é impossível, e no entanto todos, os que a assumem e os que a recepcionam, fazem de conta que pode ser. A linguagem cria o seu próprio sentido e levanta o mundo. Escrever é sempre isso, mesmo nesta página, mesmo quando se escreve sobre escrever, mesmo quando se escreve para, por escrever. (publicado na coluna 'sermões impossíveis' da notícias magazine de 24 de fevereiro)
A propósito disto, lembrei-me disto: aqui fica mais "gente vinda do terror"
Rogério da Costa Pereira
Rui Herbon
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The times they are a-changin’. Como sempre …
De facto vivemos tempos curiosos, onde supostament...
De acordo, muito bem escrito.
Temos de perguntar porque as autocracias estão ...
aaaaaaaaaaaaAcho que para o bem ou para o mal o po...