Esta manhã, na habitual passagem pelos jornais on-line, fiquei siderada ao encontrar no Sol o que a imagem documenta. Perante a repugnância que me inspiraram tais palavras, e tendo dificuldades em acreditar que não se estava perante um exemplo de descontextualização do que tinha sido dito pelo Cardeal Patriarca, apelei a que me arranjassem a entrevista integralmente, já que no site do Sol apenas se pode ler o início. A Joana Lopes fez o favor de me enviar o que pedia e, descobri agora, resolveu tecer uns comentários às incríveis e inaceitáveis declarações de D. Policarpo. Não me apetece acrescentar grande coisa ao que ela escreve, apenas reforço a minha incredulidade. A isto, meu caro D. Policarpo, chama-se xenofobia pura e dura e não há alusões bíblicas que amaciem a mensagem.
Do Sermão Pregado por Vieira na Baía, à Irmandade dos Pretos de um Engenho, em dia de S. João Evangelista, ano de 1633:
"Oh se a gente preta tirada das brenhas da sua Etiópia, e passada ao Brasil, conhecera bem quanto deve a Deus e à sua Santíssima Mãe por este que pode parecer desterro, cativeiro e desgraça, e não é senão milagre e grande milagre! Dizei-me: vossos pais, que nasceram nas trevas da Gentilidade, e nela vivem e acabam a vida sem lume da Fé nem conhecimento de Deus, aonde vão depois de mortos? - Todos, como já credes e confessais, vão ao Inferno, e lá estão ardendo e arderão por toda a eternidade."
Pois é, recua a gente um pouco mais de trezentos anos, e já começa a falecer-nos o entusiasmo pela civilização ocidental, mesmo quando a memória dos feitos que lhe são imputáveis nos chega pela boca dos seus mais recomendáveis representantes.
O dia está lindo, não há vontade para escrever nem para ser ácida, mas há uma promessa a mim mesma por cumprir. Eis os The Apartments, para o NunoCostaSantos. Enjoy it!