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Sob o mesmo holofote em que que se vê Teddy Kennedy a discursar na convenção democrata, podemos observar a polícia norte-americana a proceder à detenção de quatro homens suspeitos de quererem assassinar Barack Obama. Um dos suspeitos, Nathan Johnson, devidamente encarcerado, já deu uma entrevista exclusiva, cheia de declarações de primeira página, à cbs4denver: "So your friends were saying threatening things about Obama?" Maass asked. "Yeah," Nathan Johnson replied. "It sounded like they didn't want him to be president?" "Yeah," Johnson said. "He don't belong in political office. Blacks don't belong in political office. He ought to be shot," Johnson told Maass. "Do you think they were really plotting to kill Obama?" Maass asked. "I don't want to say yes, but I don't want to say no," he said.
Pedro Marques Lopes, EMPRESÁRIO, COMENTADOR, BLOGUISTA, NOVO MEMBRO DO 'EIXO DO MAL' "Somos um país que acredita pouco na liberdade" Era suposto ser um almoço, mas ele preferiu jantar. Ficou pois para as 22 horas, no restaurante que o minhoto tripeiro lisboeta (Minho de família, Porto de nascimento e clube, coração da Lisboa onde chegou aos quatro anos - "Amo esta cidade como só os imigrantes amam a cidade que os acolhe") Pedro Marques Lopes frequenta e prefere há mais de 20 anos. "Ia muito ao Frágil [bar na mesma rua, que esteve no centro da 'fundação' do Bairro Alto como centro da vida nocturna lisboeta] e a primeira vez que tive dinheiro para vir aqui e me encostei àquele balcão achei-me um tipo importantíssimo". O tom é o dele, entre a ironia e uma certa grandiloquência - mistura estranha, mas que no caso resulta - e o balcão é o longo balcão do Pap'Açorda, que acolhe, num travelling estreito, os clientes à espera de mesa.
Nesta noite, ao fim do travelling está uma estrela. Não o Pedro - que também é uma estrela, e ascendente, como se irá demonstrar - mas uma estrela das que já quase não há. De óculos rectangulares, vestido bata negro de cavas e o célebre cabelo louro, Catherine Deneuve ocupa a melhor mesa, a do espelho, na primeira sala, a dos fumadores. Está a jantar com um homem moreno, de cara vagamente argelina, e deve ter estado ao sol mais do que devia - ou isso ou fez um peeling um bocado violento. Cool (ou, na versão francesa, blasée), nem pestaneja quando o Rodrigo Cabrita dispara, mesmo ao lado, uns flashes sobre o sujeito deste texto. Cool e meio, o Pedro espera até nos sentarmos à mesa - numa mesa mais longe - para, entre dois pimentinhos padron, referir a presença luminosa em que nem fotógrafo nem jornalista haviam reparado. "Adoro a Catherine Deneuve", garante, e ei-la a meio metro e a meio da caldeirada e dos linguadinhos fritos com açorda (dois pratos do dia), muito direita nos seus 65 anos, a caminho da casa de banho. Sim, a Deneuve também vai à casa-de-banho. Pior, a Deneuve também envelhece. Falamos disso - disso e da crise da meia idade, uma coisa de que se ouve toda a vida falar e que um dia se suspeita estar a ocorrer connosco. Uma espécie de redescoberta do mundo - outra idade das perguntas, agora em nostálgico, perplexo e amargo. "Luto para não ser amargo", diz ele. Que aos 42 anos logrou algo que faz parte da mitologia dessa chamada crise: mudar de vida. Filho de um empresário de hipermercados e de uma professora primária, tirou o curso de Direito na Católica e um MBA na Universidade Nova. "Queria ser actor, a maior paixão da minha vida foi o teatro. Mas venho de uma família de self-made men que olham para a cultura de lado. Também quis ser jornalista. Acabei merceeiro, como o meu pai. Também fui cauteleiro [administrador da Casa da Sorte] e gasolineiro [tem postos de gasolina]. Há quatro anos tive uma doença muito grave e estava deitado à espera de morrer quando percebi que nunca tinha feito nada na puta da vida, em termos profissionais, de que gostasse. Era como se fosse homossexual e tivesse medo de assumir." Parêntesis: Pedro é de direita - diz ele - e liberal (o que é óbvio). Defendeu a legalização do aborto até às 10 semanas, defende o casamento das pessoas do mesmo sexo, é ateu. Na direita portuguesa, não há muitos como ele, ou então andam bem escondidos - e é o primeiro a afirmá-lo: "Somos um país que acredita pouco na li berdade. Ser de direita é achar que a liberdade é um valor superior à igualdade". Diz-se próximo do PSD e há quem o diga "a cabeça" de Pedro Passos Coelho. Era ele o homem de gabardine bege que acompanhou o prospectivo líder ao anúncio da candidatura. Fim de parêntesis. "Então comecei a escrever num blogue, O Acidental [já acabou], na revista Atlântico [já fechou] e no respectivo blogue [ainda existe]; convidaram-me para fazer comentário político no Rádio Clube Português , meti-me na política, fui convidado pelo Nuno Artur Silva [das Produções Fictícias] para fazer um comentário-vídeo na Net sobre futebol [À lei da bola] e agora para o Eixo do Mal [vai substituir José Júdice a partir de Setembro]." Em pouco mais de seis meses, passou de ilustre desconhecido a vedeta do Jornal das Nove da SIC Notícias, onde esteve esta semana a comentar o Pontal, a ausência de Ferreira Leite, e o rumo do PSD. E a fazer o que gosta. Haveria muito mais a dizer sobre isso e sobre ele, mas não há espaço. Fica para a próxima. Vai haver muitas ocasiões para falar de Pedro Marques Lopes. (publicado no dn de 24 de agosto, na rubrica 'dois cafés e a conta')
Como será ser Madonna? Como será ser o supremo ícone pop e ter 50 anos, como será fazer ginástica de três em três minutos, comer sabe-se lá o quê receitado por quem, retocar aqui e ali e ali e aqui, butox, bisturi, laser, todas as técnicas de rejuvenescimento que o dinheiro pode pagar até chegar a esta cara que é ela, a dela, mas não é a mesma cara que conhecemos há 20, 15, 10, cinco anos? Como será ser isso tudo e dizer coisas como “as pessoas andam obcecadas com a aparência”, como diz à edição de Maio da Vanity Fair? Que pensa Madonna dela própria? Que espera ela de si, que espera ela que os outros esperem dela? Nenhuma resposta para isto: para saber o que é ser Madonna é preciso ser Madonna. A rapariga material de rosto um pouco vulgar e lábios finos de 1984 que 24 anos depois parece uma ninfa de Botticelli madura e futurista, uma heroína de BD esculpida a aeróbica e ioga e tudo o que o dinheiro, muito dinheiro, pode pagar, lábios cheios e rosto alisado, aristocrático como a nova voz, a voz cheia, suave e modulada de Frozen que sucedeu à voz pato donald de Holliday. Madonna, Madonna.
Tantos títulos, páginas e páginas de teorias e ensaios sobre este mistério. A filósofa e crítica literária americana Camille Paglia intitulou-a “a maior contribuição para a história das mulheres”, por ter “juntado e curado a ferida das duas metades da mulher: Maria, a Virgem e santa mãe, e Maria Madalena, a prostituta”. Em 1994, o escritor Norman Mailer, que celebrara Marilyn como a rainha trágica da América, chamou-lhe, na revista Esquire, “a rainha americana do sexo” e “filha bastarda de Warhol”. Ela, de vinil negro na sua versão Erotica, riu-se: “ooops, I didn’t know I couldn’t talk about sex”. Mas a altivez envernizada de Madonna encerra um paradoxo. Nascida como Warhol do vazio — existencial, narrativo, emocional — da segunda metade do século XX, ao invés de, como o nomeado pai, reduzir tudo a uma brilhante superfície e negar, sempre, a alma (ou a essência, ou a profundidade, ou o coração), quer a todo o custo provar o contrário. Que sob o glamour, sob a embalagem pop que ela tão laboriosamente (ou tão naturalmente?) é, há qualquer coisa de maior, qualquer coisa disso a que se costuma chamar verdade. Diz ela, na entrevista à citada edição da Vanity Fair: “Tudo o que faço é biográfico”. E garante: “Não posso evitar”. Em sintonia, o crítico cinematográfico João Lopes encontra-lhe uma componente trágica, uma ferida primordial que ele situa na morte da mãe aos sete anos, cantada em Mer girl, 1998 (“I smelt her rotting flesh, her decay, I ran and I ran, I’m still running away”). Trágica, Madonna? Mailer parecia achar que não. “Admirada, mas não amada”, escreveu. Precisamente porque, ao contrário de Monroe (de quem, já foi dito, ela é a vingança), a loira que mantinha os seus segredos e horrores lá dentro, para nos oferecer só a divinal doçura do seu rosto, esta loira não se imola por nós. Sobrevive. Desafia. Resiste. Ironiza. “É preciso ter um problema com a bebida ou as drogas. É preciso entrar e sair de clínicas para que as pessoas tenham pena. Ou é preciso cometer suicídio, basicamente. O facto é que nenhuma destas coisas me aconteceu.” (na Esquire citada, Madonna por si própria). Nada disso lhe aconteceu, não. Nenhuma desgraça, nenhuma queda, nem sequer ainda a decadência, apesar da espiritualidade tardia. Nem grande cantora, nem grande compositora, nem sequer grande bailarina nem bela de cair, que tem então Madonna de grande senão o facto de nos trazer hipnotizados (mais hipnotizadas) pela sua vontade, energia e resiliência? Cada canção como uma página arrancada ao seu diário, uma etapa mais do seu caminho, uma passagem mais sobre o abismo. It’s called survival – a cena dela, o mistério dela. Um evangelho carnal, profano, biográfico – entregue por nós (publicado na coluna 'sermões impossíveis' da notícias magazine a 16 de agosto -- dia dos anos dela)
Depois de exaustiva selecção, apresento um resumo das reacções da líder da oposição aos principais acontecimentos de Agosto (o caso das massagens que terminam sabe-se lá como, o uso de snipers no caso BES, a vaga de criminalidade que vem assolando o país, o veto presidencial à nova lei do divórcio e, na secção desportiva, a ida de Quaresma para o Inter e o Caso Vanessa - Fortes)
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Já me esquecia, sobre o caso Pinho - Phelps: «zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz-zzz»
* da autoria do meu amigo Gibel (quem mais?), publicado num blogue defunto, em Março de um ano defunto. É fundamental desmontar quais as técnicas de falsa argumentação - vulgo falácias – mais habituais na discussão diária e que medram (e merdam!) na blogosfera nacional. São técnicas clássicas, mas que, reconheço, talvez apanhem alguns jovens mais desprevenidos - o sistema de ensino já conheceu melhores dias e duvido que a malta nova ainda aprenda estas coisas. - O apelo à emoção: tenta-se convencer através do recurso a argumentos emocionais ou sentimentais, geralmente negativos, em vez da apresentação de premissas ou evidências convincentes. Geralmente, as emoções mais instrumentalizadas são a raiva, a culpa, a vergonha, o medo, etc. O apelo à emoção anda paredes-meias com a falácia da reductio ad absurdum. (“Como é que podes ser católico depois da Inquisição?” “Como é que podes ser comunista depois dos Gulags?” “Como é que podes ser Alemão depois do Holocausto?” “Como é que podes ser físico nuclear depois de Hiroshima?”, and so on and so on) - A analogia imprópria, ou non sequitur: é uma falácia argumentativa clássica, consistindo em retirar conclusões de premissas que não têm nenhuma conexão de implicação lógica. (“Ando com as regras atrasadas porque tenho o salário em atraso” argumenta a Celeste ou “Há muita sida em África porque o Papa convenceu o pessoal a não usar o preservativo” o que pressupõe um poder notável do Papa em face de um continente maioritariamente animista e islamista, onde a generalidade dos homens considera culturalmente o preservativo como um empecilho à sua virilidade (!), o mesmo Papa que igualmente pediu aos Estados Unidos que não invadissem o Iraque e não é que os gajos invadiram?! Logo! Pôrra da lógica! Se invadiram foi porque o Papa-Todo-Poderoso certamente não se esforçou o suficiente!...). - O apelo ao ridículo: introduz-se uma passagem de presuntivo humor (geralmente o humorista de serviço ao argumento acha-se muita piada, pelo que o presuntivo é nosso) ou ridícula no argumento, procurando desta forma o espertalhão encobrir a sua incapacidade ou laxismo intelectual para responder à altura do argumento adversário. É uma falácia bastante eficaz: geralmente a força lógica do argumento adversário é completamente ensombrada pela tirada humorística do outro – a assistência aplaude e agradece o circo, pois é da natureza das massas simpatizar com a facilidade mental, preferindo-a à trabalhosa e, porque não dizê-lo, opressora e fria inquirição do mérito das premissas usadas em debate. - O acento impróprio: acrescenta-se um acento ou expressão maliciosa à apresentação de um facto para desacreditar as suas motivações. Admito, às vezes é irresistível: tipo quando se informa que o Morais Sarmento disse que “vai alternar como Deputado por Castelo Branco”, está mesmo a pedir um acento impróprio...
- A descida escorregadia: sugere-se geralmente que a opção numa determinada direcção desencadeará necessariamente um processo irreversível de consequências ainda mais radicais. (“Se se privatiza a gestão dos hospitais acaba-se o serviço nacional de saúde!”; “Se deixo o Ruben André beber antes dos vinte e um anos, acabará nos Alcoólicos Anónimos”; “Se se descriminaliza o aborto, as mulheres vão todas desatar a fazer abortos”, etc.) - A ignoratio elenchi: não podendo atacar o argumento original que lhe é proposto, o adversário trata de introduzir material irrelevante para o ponto em discussão de forma a desviar o argumento para outra conclusão em geral mais fácil de ser atacada que o argumento original (é muito vulgar o uso desta falácia por Pastores da Igreja Ateísta Militante). - O wishful thinking toda a gente sabe o que é, não se fala noutra coisa na blogosfera. - A petitio principii é o vulgar argumento circular: a falácia consiste em usar a conclusão a que se tenta chegar como componente ou suporte de uma das premissas. A melhor forma de desmontar a falácia é reescrever o argumento do adversário numa forma que demonstre a respectiva circularidade: “Ou seja, Vossa Eminência está afirmando que se o gato tinha botas, então é porque o gato tinha botas!” - O ataque ad hominem (ou ad mulierem, para não ser acusado de sexista): consiste em atacar o adversário, geralmente diminuindo-o, em lugar de atacar os seus argumentos. Ao contrário das restantes falácias, e do que as pessoas geralmente pensam, esta técnica, além de muitas vezes ser irresistível e saudável para mantermos o bom metabolismo dos nossos fígados, é também lícita em muitos casos: é admissível quando se trata de atacar a credibilidade de um mero testemunho ou opinião apresentado pelo adversário. Argumentar é coisa mais séria do que parece. Opiniões, factos, descrições, questões, emoções, não são argumentos. O pessoal argumenta só para persuadir? Ou para crescer intelectualmente com o conhecimento de todos? Querem a verdade? Certamente que a repetição não é a verdade: proposições e lugares-comuns, bastantes dichotes e bocas que se tornaram hábito em quem aplica a régua da tolerância aos outros mas que raramente a aplica a si próprio, designadamente nos clichés com que classifica quem lhe é diferente, não se tornam verdadeiros por serem ditos e re-ditos, lidos e re-lidos à exaustão.
eduardo prado coelho morreu há um ano. o chiado ardeu há 20.
uma vez por outra, concordo com o que dizem umas pessoas inesperadas. é o caso deste texto de jacinto bettencourt. ele exagera um bocado, mas eu percebo-o e simpatizo. é que já não há cu para tanta idiotice. só uma observação que o jb não fez -- que eu tenha dado por isso -- e que não dei conta de alguém ter feito (mas a verdade é que ultimamente tenho lido pouco os blogues e os jornais): há uns anos, ninguém esperava que portugal ganhasse medalhas. tudo o que vinha era inesperado e milagroso. havia assim uns fenómenos -- rosa mota, carlos lopes, o fernando não sei quê que desistia apesar de favorito, os irmãos não sei quantos. agora mandamos uma data de gente (como se fosse óbvio e simples chegar aos jogos olímpicos) e há quem ache que temos de ter não sei quantas medalhas e que se não temos é um escândalo e os atletas são uma cambada de ronhas inúteis. isto, para além de se dever a algumas das coisas que o jb enumera, deve querer dizer que a auto-estima do país está num bom momento. atrevemo-nos a achar que podemos. e até que devemos. e a reclamar quando não conseguimos. claro que no meio disto tudo há algo que o maradona já disse que o filipe moura disse e que eu subscrevo: ver os jogos olímpicos como uma competição entre países é uma idiotice. de criança se aprende o arrepio de um salto perfeito, de um sprint final, do improvável equilíbrio na trave, da vertigem das paralelas assimétricas. só corpos e rostos e vontade, sem bandeiras. mas claro que quando eu era criança não havia ou quase não havia portugueses nos jogos. agora há -- e qualquer coisa, não sei bem o quê, muda quando o nelson évora ganha o ouro, ou quando nos 3 mil metros barreiras a jessica augusto perde a qualificação para a final por um triz, porque caiu mal na última vala. ficamos contentes quando um atleta português ganha, tristes quando perde. é normal e humano e essas coisas todas. mas não muda o essencial, e o essencial é que os jogos olímpicos têm qualquer coisa que sobreleva isso. a superação implícita no citius, altius, fortius é também a superação dessa mesquinhez tribal, dessa contabilidade da qual me dei conta este ano pela primeira vez (se calhar andei toda a vida distraída), a do número de medalhas com ranking de países, própria de ditaduras de terceiro mundo. os jogos olímpicos representam um ideal de romantismo e generosidade. um ideal lírico, é certo, no tempo do doping e dos contratos publicitários, mas mesmo assim um ideal. até uma cínica como eu vê e sente isso.
"Dois cafés e a conta", Pedro Marques Lopes à conversa com Fernanda Câncio.
Rogério da Costa Pereira
Rui Herbon
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
olá. pode usar o endereço fernandacanciodn@gmail.c...
Cara Fernanda Câncio, boa tarde.Poderia ter a gent...
So em Portugal para condenarem um artista por uma ...
Gostava que parasses de ter opinião pública porque...
Inadmissível a mensagem do vídeo. Retrocedeu na hi...