Ferreira Leite diz que não podemos onerar as gerações futuras...agora. Recordemos o belíssimo legado resultante do negócio da então ministra das finanças com o Citigroup. Para reduzir o défice, MFL limitou-se essencialmente a pedir um empréstimo ao banco, usando dívidas ao Estado como garantia do dinheiro recebido. Atenção: não vendeu, não alienou, não trocou cobranças futuras com risco por dinheiro certo — limitou-se a diferir despesas e a pagar por isso; e o Citigroup fez uma excelente operação sem risco. Extraordinário negócio...para o Citigroup. A coisa foi mais ou menos assim: como o Estado precisava desesperadamente de dinheiro, MFL —sempre astuta — dá 11 mil milhões de dívidas em troco de uns dinheirinhos que lhe permitiram mascarar a défice a curto prazo. Mas como não vendeu, a responsabilidade pelas cobranças não ficou do lado do citigroup. Não. Quem cobra é o Estado, que tem de compensar as perdas eventuais do Citigroup. E como é que financia esta responsabilidade sem aumentar o endividamento? Aumentando a eficiência fiscal (coisa que os apoiantes de Ferreira Leite tendem a classificar como políticas predatórias e que atentam contra a liberdade do contribuinte), aumentando impostos (coisa que os apoiantes de Ferreira Leite não aceitam), vendendo património (coisa que eu desconheço se os apoiantes de Ferreira Leite apoiam) ou, finalmente, defendendo políticas de crescimento económico (coisa que os apoiantes de Ferreira Leite ainda esperam que esta lhes apresente). Independentemente da solução, uma coisa é certa: Ferreira Leite diferiu responsabilidades financeiras e onerou brutalmente o futuro de todos os portugueses. Dir-me-ão: todos os políticos têm feito este tipo de truques. É verdade. Mas este truque saiu caro, muito caro.
Através do der terrorist cheguei à notícia do Guardian que anuncia uma sequela do Persepolis, autorizada por Marjane Satrapi mas não da sua autoria, cujo objectivo é, obviamente, a denúncia da situação iraniana.
A ideia de um estado empreendedor não se esgota na alocação de recursos públicos para grandes obras públicas. Por detrás de um projecto como o novo aeroporto ou como o TGV está uma visão para o futuro de Portugal. E é o futuro que interessa discutir.
A forma como vemos um país e a sua capacidade produtiva não acaba nas limitações e constrangimentos da nossa realidade. É possível, diria mesmo obrigatório, percebermos o país a médio e longo prazo. Como poderemos preparar Portugal? O que é que o Estado pode fazer pelas próximas gerações?
Esta crise obriga o Estado a um papel de maior intervenção, enquanto a poupança privada sobe, exigem-se maiores consumos (investimento) públicos, e é razoável que o Estado co-participe em investimentos que, pela sua dimensão, só sejam possíveis com o envolvimento do Estado. No entanto, o futuro não é só o TGV, nem a plataforma logística de Sines, nem o novo aeroporto, nem a auto-estrada para Bragança. É possível começar a preparar Portugal com medidas que não envolvem muitos recursos, apenas compromisso, visão e liderança.
Espanha foi um dos países pioneiros na energia eólica. Muitos acharam louca a aposta nas energias renováveis, especialmente vento, como parte fundamental do sistema de geração de energia. No entanto, com esta medida, e em boa parte por se ter antecipado a uma tendência que parece hoje inevitável, criou condições para empresas Espanholas apostarem no desenvolvimento desta tecnologia. Hoje, uma das maiores produtoras de motores de energia eólica é Espanhola. Os EUA, que chegaram tarde a esta festa, dependem, em parte, da capacidade de uma empresa Espanhola para concretizarem a sua aposta em energias renováveis. Nos EUA o tema foi discutido durante anos, com os lobbies das diferentes tecnologias e a oposição dos Republicanos a conseguirem protelar a decisão. Quem ganhou foram os Espanhois. Quem fez a aposta, o Estado Espanhol.
Tudo isto para falar de carros eléctricos. Muitos dizem que esta tecnologia é experimental e que implicará consumos excessivos de energia ao qual hoje não podemos responder. Não sendo um entendido, apenas um curioso, vejo neste tipo de argumentos a capacidade para um país como Portugal se antecipar e, com essa antecipação, assegurar uma participação na construção e desenvolvimento dessa alternativa. A visão de um país com consumos mínimos de combustíveis fósseis, teria um impacto significativo na grande maioria dos indicadores de contabilidade nacional com que o grupo dos 28 tanto se assusta, e a vantagem de propor uma alternativa de crescimento à economia Portuguesa.
E porque estamos no defeso, o Jugular anuncia a contratatação de mais um escriba: Gonçalo Pires. Para sossego de Helena Matos, informamos que já criou postos de trabalho e teve de pagar contas para ver como no fim do mês paga salários, cumpre obrigações fiscais, paga a fornecedores e, claro, ainda investe na modernização do negócio/empresa. Um cidadão modelo. E pai, já agora - é sempre bom lembrar que a esquerda também sabe constituir família e alguns até já viram o sorriso de uma criança.
o que é um documento exclusivamente técnico. Que eu saiba, qualquer dos manifestos pressupõe uma interpretação da nossa situação, das suas "causas" e dos desafios que enfrentamos no futuro. Mas nada disto é "científico" ou "objectivo", isto é, a informação que está na base dos dois manifestos é necessariamente mediada por interpretações valorativas, logo políticas. Eu sei que há quem goste de achar que pessoas na posse da mesma informação chegam necessariamente às mesma conclusões. Isto é, digamos, o ideal de qualquer ciência. Mas o problema é que, neste caso, não existe informação imediata, não interpretada, o que limita este tipo de pretensões. Um exemplo: a ideia de que, face à incerteza e risco futuro, o melhor é o estado abster-se de fazer grandes obras públicas, depende de alguns presupostos, como o de que não devemos por os ovos todos no mesmo saco - o melhor é diversificar (leia-se: baixar impostos para aumentar o rendimento disponível dos privados). Diversificar parece ser uma estratéga prudente. Até pode ser, em geral; mas sê-lo-à sempre, sobretudo num contexto em que as empresas privadas estão a reduzir investimento e onde acções individuais descentralizadas parecem ser contrários ao interesse geral? A ideia de que só as empresas que criam riqueza e emprego não é uma verdade ahistórica, não é uma lei universal - para além de ser uma ideia historicamente falsa, também há contextos em que é muito pouco provável que tal acontecer. No contexto actual, tudo parece apontar para que o "combate à crise" (conceito que não é do meu agrado) seja um "bem público", o que confere ao Estado um papel fundamental na dinamização da economia. Mais: esta crise parece exigir que se recupera um conceito que se julgava ultrapassado e que os liberais abominam: um estado empreendedor. Não é que o estado vá produzir isto ou aquilo; falo apenas da possibilidade - e da necessidade - de o estado ser o único com capacidade para criar novos contextos e novos mercados que podem beneficiar os privados - e o país - a médio longo prazo. Aqui não há certezas científicas; há opções e leituras políticas. Era bom que fossem assumidas claramente. Por todos.
Não sei se estão recordados, mas esta história da baixíssima taxa de execução do QREN foi a principal bandeira de Paulo Rangel (e de Nuno Melo, que salivava ante cada estatística apresentada) contra o PS nas eleições Europeias. Como os partidos de direita não tinham nada de substancial para dizer sobre a Europa, agarraram-se a isto. Mas isto, sabe-se agora, não tem ponta por onde se pegue. Só não percebo porque é que o PS não se lembrou de avançar com esta informação. Teria sido importante. Teria
Opinião, opinião, opinião, opinião, opinião, opinião, opinião, opinião, opinião, opinião. Chama-se a isto antecipar e sabotar eventuais críticas. Não será um mecanismo mediático, mas é um truque típico de Pacheco Pereira. Até ver, resulta.