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jugular

Haja boa fé (2)

O que é que se passa hoje? Houve alguma inspiração colectiva para a malta desatar a escrever com enviesamentos propositados? Agora é o amigo da vida humana César das Neves a fazer o aparente elogio da ciência como última instância de referência na nossa sociedade perdida, para depois nos explicar como a dita, "a ciência torturada", coitadita, tem sido manipulada - ó Ana Matos Pires, tu tem cuidado - assim, por exemplo:

"Também na medicina a pressão político-social gera mudanças suspeitas. A melhor forma de combater a sida é evidentemente uma alteração de comportamento sexual evitando promiscuidade. Só que os médicos, que não se importam de impor as limitações mais dolorosas aos doentes noutras áreas, aqui preferem evitar polémicas e falam de preservativo. Será por motivo profiláctico ou mediático? Pode até dizer-se que, promovendo o deboche, esses conselhos fomentam a maleita.

Também a homossexualidade, que sempre foi considerada uma doença do foro psiquiátrico pelos especialistas, deixou de o ser em 1973 na Associação Americana de Psiquiatria e em 1981 na OMS. Foram novas investigações incontestáveis e descobertas revolucionárias, ou mera pressão política e jornalística? A discussão de muitos outros temas, da gripe A aos transgénicos, passando pela energia atómica, e radiações de telemóveis ou redes de alta tensão, sofre do mesmo drama.

Em todos estes casos a verdadeira ciência está totalmente inocente. Ela segue o seu caminho paulatino, demonstrando o que pode e garantindo solidez do que afirma. O mal, que chega a ser criminoso, é o uso abusivo que supostos utilizadores e divulgadores fazem dos torturados resultados científicos".

Eu até podia passar ao lado disto. Eu até podia não dar importância ao professor que se engana nas datas. Mas acontece que ele escreve de má-fé. Acontece que ele difama quem dá o melhor de si todos os dias contra o flagelo da SIDA, passando-lhes um atestado de menoridade intelectual. Acontece que ele escreve um artigo inteiro que passa pelo TGV e pelas alterações climáticas para chegar onde sempre chega: à sua homofobia primária e ao seu totalitarismo, esse que sonha com uma sociedade em que a lei seja o reflexo não da Constituição ou do parlamento, numa sociedade aberta e plural onde ele também tem lugar,  mas da sua doutrina que defende com tanta (má) fé.

mal(des)empregada #1

Uma pessoa começa o ano a juntar-se ao quase meio milhão dos que por via da crise ou quejandos passam a reportar ao centro de emprego. Uma pessoa descobre que o dito fica mesmo ali no bairro, é só descer, virar uma esquina, dobrar outra e pronto já lá está (e isto não é despiciendo, daí em diante a pessoa está obrigada ao “dever de apresentação quinzenal”, i.e, a fazer o trajecto a cada 2 semanas*). Uma pessoa lá vai inscrever-se, recebe uma senha cor de rosa (há 3 cores no sistema), nem espera por aí além e é recebida por uma profissional cortês, eficiente q.b. e capaz de esclarecer quase todas as dúvidas que a desempregada neófita traz consigo. A pessoa sai do centro de emprego com um suspiro de alívio e a certidão do seu novo estado debaixo do braço: uma pasta catita em cuja capa se pode ler, a verde (esperança?),
- Em acção para o emprego - dossiê de apoio
e cujo interior está recheado de separadores verdes. É um arquivo pessoal para ser preenchido com o plano pessoal de emprego*. A pessoa desempregada tem um momento de reminiscência dos seus anos  escolares, descobre numa gaveta a coisa de fazer furos e começa a dispor folhas na pasta catita e de argolas. Tem um plano que é pessoal e é de emprego e não vê a hora de o pôr em acção*.
Passados nem bem 30 dias recebe um cheque no correio. O seu primeiro subsídio de desemprego, ena. O fundo optimista da pessoa desempregada pensa
- o sistema funciona
e congratula-se. Começa a marcar reuniões com vista ao plano que é pessoal e é de emprego. Um mês e meio mais tarde a pessoa desempregada abre o envelope em correio registado que contém o  documento essencial para dar início ao processo de candidatura para deixar de ser uma pessoa desempregada: a declaração da Caixa de Previdência a que pertence, estabelecendo o montante do subsídio de desemprego a que tem direito e o período durante o qual este é concedido. A pessoa desempregada recorre a todas as técnicas zen de que ouviu falar para não desatar aos berros no meio da estação dos Correios
- aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaargh

continua )

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Género e Participação Política: a Experiência do Chile
Fundação Calouste Gulbenkian
2 de Dezembro
 

A Embaixada do Chile em Portugal e a União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) têm o prazer de convidá-la(o) a assistir a uma conferência da Exma. Senhora Presidente da República do Chile, Dra. Michelle Bachelet Jeria, sobre “Género e Participação Política: a Experiência do Chile”, na quarta-feira, dia 2 de Dezembro de 2009, no auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, pelas 17 horas.

 
Apenas as pessoas que confirmarem a sua presença poderão assistir.

Crucifixos e minaretes: haja boa fé, sim?

A propósito do resultado do referendo pedido pela extrema direita na Suíça, com o resultado conhecido, acerca dos minaretes, com manifesta má fé, (ou confusão apenas?), vem-se dizer que "logo num ímpeto de luta pelo apagamento dos sinais religiosos resolveram proibir os minaretes. Por cá há quem queira fazer o mesmo aos crucifixos nos edifícios públicos".

Vou tentar ser muito simples: edifícios públicos não é o mesmo que espaços públicos.

E quanto a isto de haver "quem" queira retirar os crucifixos, sei lá, por exemplo das escolas, como o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, e como, sei lá, a Constituição portuguesa, não se trata de de agredir a Igreja católica, mas de defender a liberdade de todos, eu cá gosto de reler isto e isto.

É fantástico que se aproveite uma decisão idiota, xenófoba e que demonstra, como explica o Daniel, o perigo dos referendos a darem às maiorias o poder de limitar os direitos das minorias, para se equivaler a mesma à proibição de crucifixos (ou de símbolos de outras religiões) em edifícios públicos de um Estado laico.

E mais blasfémias

No dia em que  os suiços decidiram em referendo proibir a construção de minaretes, uma medida além do mais profundamente idiota já que só servirá para alimentar a vitimização indissociável dos fundamentalistas de todas as religiões, fui inundada de notícias blasfemas. Algumas foram decididamente divertidas, como a condenação do filme 2012 pelo Conselho Nacional dos Ulemas indonésios, que consideraram o filme um inadmissível proselitismo cristão - devido ao facto de no apocalipse ficcional se ver uma mesquita destruída lado a lado com uma igreja incólume.

 

Outras dever-nos-iam fazer reflectir como aquela que assinala o 30º aniversário da Vida de Brian, a sátira dos Monty Python à religião organizada e fé cega. E dever-nos-ia fazer reflectir porque, 30 anos depois, a possibilidade de um filme destes ser realizado é quase nula devido ao ressurgimento anacrónico de leis da blasfémia um pouco por todo o mundo.

 

Outra inteligência ao quadrado a não perder

Acabou há minutos outro debate na BBC, a que assisti em directo (enfim, com algumas interrupções). Desta vez, a moção em debate é algo que me irrita, «É o ateísmo o novo fundamentalismo?» A defender, muito mal, a moção estavam Richard Harries, o ex-bispo de Oxford, e Charles Moore. o ex-editor do Daily Telegraph e do The Spectator. Contra a moção, uma dupla de luxo: Richard Dawkins e A.C. Grayling. Mal os vídeos estejam disponíveis no Youtube voltarei a este debate que foi muito, mas muito bom. Tão bom que o hashtag do programa já é um dos must do Twitter.

Em política, o timing é tudo

Excelente timing do nosso parlamento ao cancelar o pagamento por conta do IRC:

The credit default swap spreads for Irish banks have widened signficantly — even relative to HSBC, with its direct Dubai involvement. In part, this is hedge funds betting that others will want to insure against the rising risk of an Irish default, but what’s the connection?
The thinking is that a partial bailout – with creditor losses – for Dubai from Abu Dhabi implies something about how Ireland will be treated within the European Union (and the same reasoning is also more vaguely in the air for Greece).
This may make sense for three reasons.
1. If Dubai can effectively default or reschedule its debts without disrupting the global economy, then others can do the same.
2. If Abu Dhabi takes a tough line and doesn’t destabilize markets, others (e.g., the EU) will be tempted to do the same (i.e., for Ireland and Greece). “No more unconditional bailouts” is an appealing refrain in many capitals.
3. If the US supports some creditor losses for Dubai (e.g., because of its connections with Iran), this makes it easier to impose losses on creditors elsewhere (even perhaps where IMF programs are in place, such as Eastern Europe).
The main effect will be to strengthen the hand of Ben Bernanke in Fed policymaking discussions – so US interest rates will stay low for a long while.
If financial intermediaries draw the appropriate lessons from Dubai, Ireland, and Greece (and Iceland, the Baltics, Hungary, etc), they will be more careful about extending credit to places that are becoming overexuberant – even when it is cheap to increase debt levels.

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