Raras vezes um filme me suscitou tantas expectativas, sobretudo depois de ler a crítica de Roger Ebert, o decano do Chicago Sun-Times que compara o filme à Guerra das Estrelas e ao Senhor dos Anéis. Enquanto assistia, a minha reacção foi ambivalente. Acabei por guardar na memória o que me agradou e por exorcizar a frustração do que me desagradou sob a forma de um texto. Este mesmo, que aqui o vosso criado agora serve em ocasião imprópria e a despropósito, em vez de votos de um feliz 2010. No fundo, acaba por ser um mero pretexto para escapar aos preceitos desta coisa de passagem-de-ano, que sempre considerei o mais puro exercício de artificialidade sem graça. Ainda por cima, os pobres de espírito decidiram, e reincidiram, que se trata de uma "mudança de década", o que é falso e funciona somente como um modo de vender "balanços" acerca de um conjunto de 10 anos, transformados em "bloco" (como os 80's ou os 90's) uniforme e distinto do antes e do depois. Nunca um zero moldou de forma tão persistente a percepção da realidade e do passado. Mas isso são outras histórias.
Acreditar que Deus existe é uma convicção profunda, mas acreditar que não existe, curiosamente, não o é. Alguém, munido de um aparelho próprio, mediu a profundidade das convicções e deliberou que as do crente são mais fundas que as do ateu. Quando alguém diz acreditar em Deus, está a exprimir legitimamente a sua fé; quando um ateu ousa afirmar que não acredita, está a agredir as convicções dos crentes. Ser crente é merecedor de respeito, ser ateu é um crime contra a humanidade. Ainda assim, esperava ter sido saudado. Eu não acredito em Cristo, mas sempre acreditei nos cristãos. É a primeira vez que vejo um deles recusar ao menos uma saudação a um pecador.
Alex Freyre e o seu companheiro Jose Maria Di Bello casaram no registo civil de Ushuaia, capital da Terra do Fogo, na segunda-feira. Este foi o primeiro casamento de pessoas do mesmo sexo na América Latina.
(...)Estamos perante um cínico que ainda não saiu do armário, mas que já abriu as portadas e permitiu a contemplação do vazio que o envolve. Não tem projectos nem ambições, não tem doutrina nem manifesto, não quer nada; apenas que o deixem berrar palavras de ordem. Ouvindo-o na TSF, no seu exercício semanal de anti-humor, fica patente que a realidade, mais do que interpelar, o aborrece. É nesse aborrecimento existencial, um spleen remunerado, que tem alinhado com a maralha anti-Sócrates por razões meramente circunstanciais. Porque é fácil, porque se tornou colunisticamente correcto
(...) O pior, todavia, não resulta desta epistemologia de Procópio, antes da impotência que se cultiva como ideal. O texto que lhe valeu um processo assumia serem verdadeiros, e suficientes, os boatos que sobre Sócrates são derramados desde a campanha para as eleições de 2005. Este Tavares não utilizou as informações para questionar a sua veracidade ou exactidão, nem para clamar por mais investigação ou justiça, antes as aceitou como acusação provada e a pedir a sua mão de carrasco. Vai daí, tratou de espalhar a crença de que Sócrates é criminoso. O que tal opinião faria ao visado e aos seus – familiares, amigos, colegas, parceiros, terceiros – ou as consequências de se difamar um cidadão acerca de quem se constrói uma acusação com base no que se leu nos jornais, já não o entusiasmava, muito menos lhe despertava interesse. Ele era um publicista, e um publicista publica. Publica não importa o quê, porque é o que acha em si próprio; trata-se do direito à livre expressão de uma qualquer subjectividade. Estamos, pois, de volta ao futurismo: a opinião é movimento, passagem, jorro. Ai daqueles que tentem travar o progresso da infâmia.
Este post do Valupi põe a nú uma das maiores falhas de um certo tipo de colunismo português, que se tornou num mero exercício literário, abdicando de qualquer tipo de responsabilidade democrática no exercício da sua liberdade. "A livre expressão de uma qualquer subjectividade" é (mais) uma estética sem ética.
o rogério escreveu isto a propósito desta resposta do joão miguel a este meu texto. agora o joão miguel responde ao rogério que lhe respondia a ele que me respondia a mim (uf, a ver se paramos com isto antes de 2011)