Para perceber as motivações de Tony Blair em invadir o Iraque, vale a pena ler dois artigos, um no Guardian e outro na Times. Do último, retiro este pequeno excerto:
“After September 11,” Blair replied, “I realised we could not take risks with these people at all.” These people. Which people? But Tony Blair does not confuse them. He acknowledges (he did later) that Saddam had no links with al-Qaeda.
"Repugna-me o que a burca simboliza, evidentemente, mas a questão era sobre a proibição do símbolo versus a obrigatoriedade. Em ambos os casos os direitos da mulher são diminuídos.
No início de Dezembro de 2008, para evitar uma moção de confiança que derrubaria o seu governo minoritário, o 1º ministro canadiano achou por bem suspender por 2 meses o Parlamento e a democracia. Em finais de Dezembro de 2009, Stephen Harper deve ter considerado que o Parlamento é uma maçada irrelevante e prorrogou de novo a democracia, considerando que os parlamentares só devem voltar do limbo depois de devidamente entretidos pelos Jogos Olímpicos de Vancouver, ou seja, em Março.
A oposição, que detém 2/3 dos lugares da Câmara dos Comuns, não apreciou sobremaneira as medidas que o PM canadiano considerou essenciais para combater a crise, entre elas a suspensão durante três anos do direito à greve dos funcionários públicos e do direito das mulheres a salários iguais para trabalho igual. Também não considerou muito interessante a intenção da oposição de investigar a forma como o governo conservador tratou prisioneiros afegãos. Entretanto, Harper nomeou cinco conservadores para o Senado, formado por membros vitalícios indicados pelo PM, o que lhe dá maioria nesta câmara. De acordo com Harper, as nomeações dos seus colegas de partido são um passo na direcção de um Senado democraticamente eleito (?) e são necessários para o governo implementar a sua agenda do crime. Mais, considera que «The opposition have abused their Senate majority by obstructing and eviscerating law and order measures that are urgently needed and strongly supported by Canadians».
Sobre este assalto inesperado à democracia em terras nominalmente de Sua Majestade, vale a pena ler este artigo no Chronicle Herald.
Não disse nada disto. Limitei-me a dizer que consolidação orçamental não implica uma redução da despesa pública, pois consolidação é sobretudo um conceito qualitativo. Para a direita, consolidação significa reduzir o peso do Estado, pois tudo o que o Estado faz é desperdício. Para a esquerda, isto não é necessariamente verdade. Se o Estado aumentar o investimento ao mesmo tempo que reduz despesas corrente no mesmo montante, a direita diria que não houve qualquer consolidação. Para alguém que não diabolize o Estado, isso não faz qualquer sentido.
O peso do Estado na Suécia é maior do que em Portugal. Será que as finanças públicas suecas estão menos consolidadas do que em Portugal? Pedia que o João Miranda não transformasse uma disputa ideológica num atestado de estupidez do adversário. Eu não faço o mesmo com ele, limito-me a pedir reciprocidade.
"Mas dizer que tapar o rosto corresponde à negação da existência é equivaler a individualidade e a integridade do Eu ao reconhecimento dos outros - reconhecimento visual, ainda por cima."
Apesar de concordar com o que a Fernanda escreve neste post, tenho alguma dificuldade em perceber a passagem supra. Pior: acho que esta passagem contradiz o repúdio que a Fernanda diz sentir em relação a burkas e niqabs, pois torna-o ininteligível. O repúdio da Fernanda não é estético: é etico. E é esta dimensão ética do repúdio da Fernanda que sai prejudicada quando a Fernanda diz que o Eu não depende do reconhecimento dos outros. Se isto fosse verdade — não é — um escravo poderia ser livre, como defendiam os Estóicos.
«A individualidade existe com ou sem desenvolvimento... [só que] apenas a ‘boa’ cultura da individualidade poderá (e deverá) produzir seres humanos evoluídos... o que mais podemos dizer sobre as ‘boas’ actividades humanas, senão que estas conduzem cada Homem à sua melhor realização pessoal e individual?... e o que de pior podemos dizer das obstruções à ‘boa’ cultura individual, senão que frustram esta realização?» On Liberty, Stuart Mill.
No post anterior, foi referido que «Em filosofia política, o perfeccionismo é a ideia de que o estado deve promover o que é tido como objectivamente bom para todas as pessoas. Tanto se pode defender que o estado deve fazê-lo coercivamente, como se pode defender que o estado deve apenas estimular, mas não coagir.» O problema da concepção do que é objectivamente bom para as pessoas, que o Estado deve impor ou estimular, fora já apontado, no século XVIII, no contratualismo Kantiano, «uma sociedade, sendo composta por uma pluralidade de pessoas, cada qual com as suas expectativas, interesses e concepções do ‘Bem’ e do ‘Mal’, será melhor orientada se for governada por princípios que não pressuponham qualquer concepção particular sobre o ‘Bem’ e o ‘Mal’».
Por outras palavras, quem e como se determina o que deve ser objectivamente bom para todas as pessoas numa sociedade democrática, com tudo o que o termo democracia implica? A maioria por referendo? Mas isso não é democracia, é ditadura da maioria...