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jugular

a família

leio no meu jornal (o meu jornal é aquele de cuja redacção faço parte, o dn) uma notícia, que é manchete, sobre o anúncio de uma manifestação, dia 20, em lisboa, a favor do referendo ao casamento de pessoas do mesmo sexo.

 

no primeiro parágrafo, lê-se: 'Os defensores do referendo ao casamento entre pessoas do mesmo sexo vão sair à rua no dia 20, numa manifestação a favor da família'. nesta frase, aparentemente anódina, está todo um programa. e o programa diz: os defensores do referendo ao casamento das pessoas do mesmo sexo são a favor da família. é objectivo? quem assinou a notícia decerto acha que sim, até porque os organizadores da manifestação dizem que esta é a favor da família. sucede que 'a família' não é uma marca registada dos defensores do referendo, nem tão-pouco dos católicos referenciados na notícia em título. escrever que a manifestação é 'para defender a família' e fazendo-o sem aspas é assumir que não é controverso que a família se defenda assim ou que não haja outras noções de família. as aspas tinham de estar ali para assumir o carácter de citação, e portanto de apropriação do conceito por parte dos organizadores da manif.

 

ao contrário do que possa parecer, isto não é irrelevante: no centro deste debate está exactamente a divisão entre os que se arrogam o direito de dizer o que é ou não é uma família e que famílias são ou não 'correctas', 'aceitáveis' e 'boas' e os que defendem que a palavra família designa muitas realidades diferentes.

 

um exemplo iluminador? noticiar uma manifestação de ultra-nacionalistas contra a imigração nos mesmos termos: 'os defensores do fim da imigração e da expulsão de todos os imigrantes vão sair à rua no dia 20, numa manifestação a favor de portugal'. perante esta frase, não faltariam as vozes indignadas: portugal não é património ideológico de nenhum grupo, diriam; escrever assim faz equivaler a expulsão dos imigrantes à defesa de portugal. ah pois é. aliás, não creio que esta frase passasse o crivo das edições de qualquer jornal português que não tivesse uma redacção de extrema direita xenófoba.

 

sucede que como portugal a família é património de nós todos e nenhum grupo pode arrogar-se o exclusivo de falar por ela. todos mas todos sem excepção temos família. não é uma abstracção: famílias temos e somos todos. como portugal.

 

a próxima vez que alguém usar a expressão 'jornalismo de causas', é favor pensar neste exemplo.

passiva está a compreensão do ricardo alves. ou é isso ou usa burqa

num comentário a este post em que designa o jugular como 'barricada do feminismo pós-moderno' rebatendo aquilo que percebeu da posição de algumas jugulares, ou seja, que vemos o véu como uma 'expressão de liberdade', ricardo alves assina isto: 'eu escrevi este artigo justamente por me revoltar a passividade das feministas perante as burcas. Parece que não querem ver o que significam. Ou querem «angelizar» o islamismo - o que é ainda pior.'

 

quem leia o post de ricardo alves e os seus comentários e leia os posts do jugular a que ele se refere só pode concluir que ou ricardo alves pirou ou ricardo alves pirou. já eu acho que ele pirou -- para não dizer (e fazer) o que me vem à cabeça de cada vez que alguém me acusa de islão lover.

Nem mais

Começa assim o imprescindível post do Daniel:

 

“Aquilo que o país precisa neste momento não é de políticos, é de estadistas”, disse Manuela Ferreira Leite para explicar a viabilização do Orçamento de Estado. É extraordinário o subtexto que se esconde em algumas frases de circunstância. Antes de tudo, Ferreira Leite comete o erro suicida do populismo: associar a sua própria actividade – a política – a algo de negativo e estéril.(...)

Os véus do perfeccionismo - I

Numa altura em que se dividem as opiniões sobre os véus islâmicos, ou antes, sobre a sua proibição,  importa clarificar alguns pontos. Penso não me enganar quando afirmo que o seu uso merece o repúdio quasi unânime entre os jugulares e os nossos comentadores. A questão neste como em muitos outros casos parece-me, mais uma vez, ser uma confusão nos moldes daquela que levou muita gente a confundir democracia com ditadura da maioria... Ou seja, uma lei não deve proibir algo considerado «imoral», «repugnante» ou «imperfeito», mesmo que pela maioria da população, caso contrário não passa de uma prescrição autoritária, moralista e completamente arbitrária, que depende apenas dos padrões de perfeição do legislador.

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