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Insónia e deficiências cognitivas

Fernandez-Mendoza e colegas da Universidade de Penn State College estudaram 678 representantes da população em geral, para ver se detectavam diferenças na performance cognitiva devidas à falta de sono. O estudo envolveu 116 indíviduos que se queixavam de insónias crónicas, há mais de um ano, sendo os restantes o grupo de controle, abrangendo tão diferentes características como idade, raça, sexo, escolaridade, índice de massa corporal, saúde física e mental. A bateria neuropsicológica que foi utilizada incluiu testes de velocidade de processamento, atenção, memória visual e fluência verbal.

 

A equipa de investigação não encontrou nenhuma diferença de desempenho entre os insones softcore, aqueles que dormiam pelo menos 6 horas diárias, e o grupo de controle. Entretanto, os insones hardcore, os que dormiam menos de 6 horas, tiveram um desempenho cognitivo pior em todos os testes. A descoberta mais interessante foi a de que os insones hardcore apresentam deficiências claras na realização de tarefas que exigem o controle executivo de atenção (attentional set-switching).

 

A Igreja na Cruz,

por Valupi. Muito bom.

 

Um excerto: "Aqueles que consideram mais graves os casos ocorridos na Igreja do que numa instituição secular, ou na família, passam por entre as gotas da chuva porque não são obrigados a justificar a sua indignação selectiva. É que para se atribuir maior gravidade tem de se outorgar maior responsabilidade – e qual seria ela, uma responsabilidade religiosa?… Qualquer vítima de um membro, ou grupo, da Igreja Católica pode apresentar queixa às autoridades civis. O Estado fornece todos os meios para fazer valer os direitos dos cidadãos. O poder secular esmaga o poder religioso. Todavia, se a Igreja não é mais do que qualquer outra entidade cívica, também não será menos. A sua cultura deve ser respeitada, tal como se respeitaria uma tribo nativa por se reconhecerem as suas especificidade e determinantes étnicas. Com a Igreja não é diferente, pois se rege por princípios irredutíveis à racionalização contemporânea. E se a virmos como um Estado entre outros Estados, então teremos de levar essa lógica até ao fim e admitir a sua soberania e o direito à autodeterminação. A retórica inflamada contra o Vaticano, esquecendo a antropologia e a História, é combate ideológico oportunista, simulacro de justiça."

Deus existe e eu conto-lhe uma história todas as noites

Que Deus não existe, dizem. Parvoíce. Deus existe e eu conto-lhe uma história todas as noites — ando agora a ler-lhe o Pinóquio (antes foram os Maias para crianças — noto que ele estranha a mudança, vejo-o nos cocós, que andam menos consistentes). Há dois anos e meio, Deus escrevia-se com minúscula. Era o deus das guerras, o deus da barbárie, o deus redutor dos massacres em nome de, o deus das mortes nas gémeas. deus e o petróleo, a urina de deus. O diabo; deus era o diabo. O diabo dos homens e da puta que os pariu. Nunca me servi dele, com excepção de uma revolta intestinal sem casa de banho à vista. Nem ele de mim. Nasceu o Francisco e tudo mudou. deus cortou as barbas e passou a Deus. Era uma vez um puto. Este meu Deus tem um feitio tramado, porque aos 30 meses ainda se julga um deus. Eu sou o braço esquerdo, a mãe é o direito. Julga ele. Neste Deus, que está no sorriso e no choro, já assentei umas belas dumas palmadas. Já mandei Deus de castigo para o quarto. Este Deus usa fraldas, duas de pano para dormir e uma descartável para fazer as coisas que só Deus pode fazer por ele (vamos acabar com isso no Verão, introduzindo-lhe a tirania do pitó — e ele a nós a prepotência da cama molhada). Este Deus, ao contrário do outro, dá-me sorrisos. Diz-me "papá, não vás trabalhar" (traduzo para os incréus, ignaros na língua Dele). Eu explico-lhe as coisas e ele entende. Deus magnânimo assimila. O problema é a sopa e a negociação que a coisa envolve. Digo-lhe para comer só uma colher, ele diz não, eu proponho três e ele decide-se por dez. Done!, e damos cinco. Quando Deus está presente, sinto-me um negociador do FBI num livro de Kafka. Deus não quer, eu quero. Acabo por convencer Deus que é ao contrário, que ele quer e eu não. Raras vezes a coisa não resulta, ó tirania dos homens.

Neste momento, passa da meia-noite, Deus está a dormir. Antes de dormir, disse-me, como faz todas as noites: àputo-puto (amo-te muito, na língua de Deus). E depois pregou-me um susto: “Bu!”.

Se o diabo está nos detalhes, Deus está ali ao lado, a dormir. Aquela tábua onde me agarro, onde ele se agarra, onde a minha mulher se agarra. Tudo o que nos une aos três. Isso é Deus. O outro, o do paga agora e livra-te do fogo dos infernos, nunca se mostrou e não o concebo. Não lastimo a minha falta de fé, porque a tenho. Fé no amanhã. No próximo passo do meu filho, o pontapé na bola, o dizer puta em vez de porta (que embaraços já me causou). Que mais se pode querer de Deus, para além da vontade de correr para casa para o ver? O meu pequeno grande Deus. Quinze quilos de matéria divina (com a fralda limpa pesa menos).

(também neste arquivo de coisas)

Nem sei que diga, cada tiro cada melro?

O pregador da Casa Pontifícia, o franciscano Raniero Cantalamessa, a única pessoa autorizada a pregar para o Papa, comparou hoje as críticas ao comportamento da Igreja católica relativamente aos crimes de pedofilia envolvendo padres à «violência colectiva» sofrida pelos Judeus. Na homilia que se seguiu à leitura da Paixão de Cristo na basílica de São Pedro, Cantalamessa referiu que as acusações de encobrimento dirigidas à Igreja «lembram-me os aspectos mais vergonhosos do anti-semitismo».

 

As reacções de grupos judaicos e de vítimas de abuso sexual a semelhante tolice umbiguista oscilaram entre a incredulidade e a fúria.

Não tenho quaisquer simpatias por charlatães mas isto é uma barbárie

Ali Hussain Sibat é um «psiquíco» libanês que dava conselhos e previa o futuro numa estação de televisão libanesa com transmissão via satélite para todo o Médio Oriente. Infelizmente para Sibat, o seu programa era popular na Arábia Saudita e quando, em Maio de 2008, resolveu ir em peregrinação a este país, foi reconhecido pela polícia religiosa, pomposamente denominada Comissão de Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, que o deteve e acusou de bruxaria. Durante o interrogatório que se seguiu, as autoridades pediram-lhe que assumisse por escrito a sua profissão, prometendo-lhe que se o fizesse iria para casa ao fim de umas semanas. Sibat que, como a maioria dos charlatães, é burro, confirmou que de psiquíco não tem nada e acreditou nos clérigos. Estes usaram a confissão em tribunal como prova da acusação e Sibat foi condenado à morte por decapitação em 2009, num processo em que não teve sequer direito aos serviços de um advogado.

Quando os manipuladores são os adultos

A propósito do, tudo assim o indica, acidente mortal de um jovem durante uma viagem de finalistas o JN publica uma peça jornalística onde são tecidas considerações e feitas generalizações que, mais uma vez, me tiram do sério e reforçam a minha convicção do quão errado, contraproducente e perigoso é  a "psicologização" da vida em geral, e dos comportamentos adolescentes em particular.

 

Estamos a falar de gente no final da adolescência, na maioria dos casos, espero, gente que já teve outras experiências de férias sem progenitores e que, pelo menos uma parte significativa, estará na faculdade daqui a poucos meses, alguns fora da casa da família de origem. Aconteceu-me a mim nessa idade, há uns anos atrás, e eventualmente acontecerá à minha filha no próximo ano. Estará ela menos preparada que eu para essa "autonomização"? Francamente não me parece.

 

Há que não fazer extrapolações vindas do nada, acima de tudo há que não baralhar conceitos, um acidente é isso mesmo, um acidente, e ninguém deprime por ouvir um não, sobretudo se for manipulador. Falemos dos riscos, anotemos a necessidade das regras - de facto os adolescentes precisam de regras, quanto mais não seja para as quebrar, também faz parte do crescer -, mas não sejamos alarmistas nem, sobretudo, manipuladores.

 

(Em estéreo)

Da total falta de vergonha na cara e da necessidade de um aggiornamentto

 

Na homilia de ontem, que tratou, entre outras coisas, das vocações sacerdotais e da renovação dos votos de celibato, Bento XVI afirmou que os cristãos deveriam ser pessoas que lutam e se insurgem contra injustiças. Para além disso, afirmou que «Hoje, é importante que os cristãos se submetam à lei, que é a fundação da Justiça». Um observador mais incauto pensaria que, aproveitando esta época de renovação e renascimento, o Papa se iria em seguida referir ao encobrimento pela hierarquia da Igreja dos crimes de pedofila cometidos por membros da ICAR e exigir que todos os implicados respondam pelos seus crimes. Ou, pelo menos, insurgir-se, ao vivo e a cores, contra as injustiças que durante décadas a sua igreja cometeu contra os muitos milhares de vítimas de abusos sexuais por vocações sacerdotais nada fiéis aos seus votos e apelar à luta pela reparação dessas injustiças.

 

a causa dos santos

O cardeal Saraiva Martins falou do encobrimento dos casos de abuso sexual de menores por padres como sendo algo "típico das famílias": "Não lavar roupa suja em público." Depois de assim admitir a possibilidade de uma maquinação hierárquica para abafar casos de abuso sexual de menores, o cardeal entendeu certificar que as denúncias de abuso "servem para atacar a Igreja" e que "existe uma maquinação, um objectivo muito preciso, bem claro". Chegou ao ponto de trazer à colação "uma progressiva descristianização e indiferença religiosa" - ou seja, a culpa disto tudo, está bom de ver, é dos ateus.

 

Este pronunciamento, que ocorreu há oito dias e não foi desmentido, mereceu já algumas indignações. Não as suficientes: o prefeito emérito da congregação para a causa dos santos (é esse o título do cardeal) não se limitou à litania da vitimização; desculpabilizou publicamente - justificou, aliás - o encobrimento de crimes. Ora não só o encobrimento de crimes é crime - chama-se cumplicidade e obstrução à justiça e pode significar encorajamento à continuação da actividade criminosa - como falar das denúncias de crimes como "maquinação contra a Igreja" é uma pressão indecorosa sobre as vítimas.

 

Entendamo-nos: estou-me nas tintas para a hierarquia católica e para as suas regras - obsessão com o sexo e celibato incluídos. Mas abusos de crianças não são assunto interno de uma organização ou família. Que durante uma semana não se oiça, dos restantes prelados portugueses e do Vaticano, uma voz a contrariar a ignomínia do cardeal, só pode confirmar, para além da habitual (ainda que avassaladora neste caso) relatividade ética dessas instâncias, um profundo comprometimento. Sucede que também os habituais e tão vocais denunciantes de pressões sobre a justiça se calaram. Mais: gente por regra avessa a teorias da cabala está neste caso atreita a crer que a avalanche de notícias sobre o assunto é "dirigida" - como se o mimetismo histérico dos media não tivesse nascido para todos.

 

Porquê? É simples: quer a vitimização bélica de Saraiva Martins quer a consternação de tanta gente perante o que apelida de "ataques ao Papa" pretendem fazer equivaler o questionamento da hierarquia da IC ao pôr em causa a crença e a própria divindade. Como se não fosse obrigatório exigir explicações ao chefe de uma igreja envolvida em décadas de abusos sexuais silenciados - um chefe que está na estrutura dirigente, e nomeadamente na respectiva área disciplinar, há décadas -; como se a responsabilidade política não se aplicasse ao Estado que é o Vaticano e ao governo que é a hierarquia católica. O governo que nomeou Saraiva Martins para chefiar o departamento da santidade - ou seja, para decidir quem merece ser louvado. É caso para dizer: por amor de Deus.

 

(publicado hoje no dn)

De Submarinos e Kryptonite: 3 Portas em baixo


Como parte da investigação, as autoridades alemãs descobriram uma série de pagamentos ilegais aos destinatários em Portugal, Brasil e Grécia em relação à construção e venda de submarinos. Fontes disseram à Kathimerini que as provas iniciais recolhidas a partir de testemunhos sugerem que o dinheiro pago em subornos a intervenientes [decision-makers in the Portuguese government, ministries or navy] e mediadores portugueses foi «brincadeira de crianças» em relação às luvas pagas aos gregos. (in Kathimerini)

 

O escândalo actual de corrupção interna na Ferrostaal gira em torno da entrega de dois submarinos Tipo 209 a Portugal. A Ferrostaal, que concorreu contra o construtor de submarinos HDW e o construtor naval Thyssen Nordseewerke, ganhou o contrato de 880 milhões de euros em Novembro de 2003 - com a ajuda de subornos e uma série de falsos contratos de consultoria. (in Der Spiegel)

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