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Discernimento e ausência dele

Vasco Pulido Valente leu no jornal que mais portugueses confiam em Bruxelas do que no seu governo nacional para resolver a crise. Deduziu disso (v. Público de hoje) que "a Europa serve de conforto ao desespero do indígena", que "a democracia levou os portugueses à irresponsabilidade" e que esperamos que "a salvação venha de uma força superior estranha à mísera realidade portuguesa". Se tivesse consultado o Eurobarómetro que cita, saberia que, tirando a Roménia e o Reino Unido, em todos os restantes países da União Europeia se acredita que Bruxelas tem mais condições para resolver a crise internacional do que os respectivos governos nacionais. O que, diga-se, só abona em favor do discernimento popular. (VPV reproduz levianamente uma série de outras mentiras constantes do artigo de jornal que leu. É normal, num patarata que não tem qualquer preocupação de se informar previamente do que fala.)

Contos de fadas irlandeses

No For a fistful of euros, P O Neil propõe uma interessante análise sobre a evolução no longo prazo do défice público irlandês: nem baseada na redução da despesa, nem sustentável. E os últimos dois anos terão bastado para eliminar a redução do endividamento conseguida entre 1994 e 2006.

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uma das lições a tirar, antes mesmo do protesto que esta tarde vai unir lisboa a mais 110 cidades de todo o mundo, é que mesmo num caso aparentemente tão claro de barbárie e selvajaria as hostes se organizam em função do que pensam serem as identidades e objectivos de quem organiza. blogues habitualmente tão críticos de tudo o que cheire a islão mantêm ou um rigoroso silêncio sobre a iniciativa ou reproduzem textos de confrangedora infantilidade (para não dizer estupidez pura), espécie de 'não contem comigo para ir para a rua gritar, eu cá é mais bombas' -- como se a inacção perante o horror fosse uma alternativa mais 'pura' que a expressão do horror perante o horror, e como se mais não houvesse no mundo senão egos televisivos.

 

alguém sabe o nome de quem organizou este protesto, além do grupo de pessoas que estão desde o início -- há uns dias, no facebook -- nele? alguém sabe mais que o facto de serem pessoas ligadas à esquerda e à defesa da liberdade individual e dos direitos das mulheres que o subscrevem? não. e porquê? porque nenhum dos que organizaram quer palco -- quer apenas que hoje, em lisboa como em sidney, nova york, ancara e rio de janeiro, haja gente na rua a dizer não às repugnantes decisões de tribunais religiosos e às execuções decididas por um governo teocrático e brutal (e se foi eleito democraticamente ou não, francamente, não interessa para o caso: não age como um governo democrático).

 

é instrutivo, sim, assistir ao silêncio e aos insultos que são a reacção de uma parte considerável da blogosfera portuguesa e dos grupos organizados da sociedade em relação a isto.

 

de um lado, a direita caceteira e sempre pronta a arrasar tudo o que cheire a islão mas que recusa associar-se a um protesto contra a lei islâmica do irão porque lhe parece ter objectivos 'esquerdistas'; do outro aquilo que passa por esquerda mas mais não é que a putrefacção das ideias mais totalitárias, que acusa milhares, talvez milhões de cidadãos autónomos e anónimos que não suportam a ideia de execuções arbitrárias ou simplesmente de execuções tout court de serem 'manobrados' pela cia e pelo 'sionismo'. gente tão desgraçada, esta, que nada mais vê que 'instrumentalizações' e 'maquinações' naquilo que há de mais espontâneo e generoso e justo: protestar contra a barbárie.

 

nós escolhemos dizer não. vocês escolhem calar-se ou, pior, escolhem tentar calar-nos. fica escrito, fica dito.

 

adenda: miguel madeira e miguel serras pereira.

januário torgal ferreira sobre sakineh e o protesto desta tarde em lisboa, no camões, às 18

'Estou fora de Portugal e por esse motivo não estarei presente nesta manifestação contra a iniquidade. Mas quero agradecer às organizadoras e aos organizadores por provarem que neste país ainda há pessoas sensíveis e civilizadas.

 

Queria também lembrar que morrem em Portugal muitas, tantas mulheres assassinadas pelos maridos e namorados e que quase ninguém fala delas.

 

Neste caso, porém, trata-se de uma morte decidida pelos tribunais, pelo Estado e pela religião, o que é ainda mais terrível e revoltante.'

 

(declarações anotadas após um telefonema deste bispo português. januário torgal ferreira é a primeira voz da hierarquia da igreja católica portuguesa a declarar o seu apoio ao protesto por sakineh e contra a lapidação e as execuções no irão. entretanto, são já 111 as cidades que se juntaram a este protesto mundial)

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