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jornalismo de paparazzi

Entre os jornalistas, vários paparazzi." Ouvida numa peça televisiva sobre o casamento do príncipe britânico, a frase terá passado tão despercebida à maioria dos que a ouviram como pareceu normal ao jornalista que a escreveu. E é-o de facto: quem hoje em dia sabe o que é um jornalista? Qualquer pessoa que apareça na TV de microfone na mão, certo? Qualquer um que capte imagens ou escreva textos. Mesmo se, como os paparazzi, persiga as chamadas "figuras públicas" para tirar fotos não autorizadas, captadas de longe e às escondidas, de situações da respectiva vida privada - fotos que configuram, ao ser publicadas, crime.

 

Mas não só a maioria das pessoas acha que os paparazzi fazem jornalismo como é provável que muitos tenham carteira profissional de jornalista. Afinal para a conseguir basta que uma entidade registada como órgão de comunicação social ateste que o cidadão em causa - que pode até limpar o pó na redacção - faz trabalho de jornalista. Como a entidade que emite as carteiras profissionais nunca verifica se aquela pessoa faz trabalho de jornalista, toda a gente pode ter uma carteira. E se tem carteira, faz "jornalismo": é tautológico.

 

Mas, dir-se-á, não há regras? Então não há. Vertidas em lei e tudo. Por exemplo: "Não recolher imagens e sons com recurso a meios não autorizados a não ser que se verifique um estado de necessidade (...) e o interesse público o justifique"; "Preservar, salvo razões de incontestável interesse público, a reserva da intimidade, bem como respeitar a privacidade de acordo com a natureza do caso e a condição das pessoas"; "Identificar, como regra, as suas fontes de informação, e atribuir as opiniões recolhidas aos respectivos autores"; "Informar com rigor e isenção, rejeitando o sensacionalismo e demarcando claramente os factos da opinião". Claro que não só jamais um paparazzo cumprirá qualquer destas regras como existem órgãos de comunicação social cuja definição programática é incumpri-las - caso da "imprensa rosa". No entanto, não há memória de um único gesto da entidade que tem a função de fiscalizar o cumprimento do Estatuto de Jornalista, a Comissão da Carteira, no sentido penalizar essa violação reiterada. Quanto mais retirar uma carteira: credo, que violência, que horror.

 

Pacífico mesmo é permitir que os jornalistas que cumprem as regras convivam, na mesma designação e estatuto e, não despiciendo, no mesmo mercado, com os que fazem profissão de não as cumprir. Que se confundam uns e outros, e que os maus (não, não tenhamos medo das dicotomias éticas) contaminem os bons. A ponto de ser tal a baralhada que quem isto denuncie passe por censor e inimigo do jornalismo e pária. Até que paparazzi e jornalistas não se distingam mesmo. Ou até que alguém tenha enfim a coragem de mudar a lei - já que os jornalistas não a têm para salvar o jornalismo.

 

(publicado hoje no dn)

Factos e estatísticas seletivas

Uma pessoa com dois dedos de testa sente-se compungida ao ler um post como este.

Já nem falo da confusão entre factos e estatísticas, porque os economistas não são treinados para distinguir uma coisa da outra.

Tampouco me incomoda excessivamente que Álvaro Santos Pereira recorra a algumas estatísticas duvidosas ou aproximativas ao mesmo tempo que esquece outras que poderiam embaraçar o seu propósito.

Mas a gente espera, talvez ingenuamente, que um académico entenda que correlação não é causalidade e que, por conseguinte, prescinda de proclamações inflamadas em proveito de análises mais esclarecedoras.

Porque a questão essencial, que ele menciona mas a que não tenta responder é esta: "O que é que ocorreu entre 1995 e 2011?"

Muita coisa, certamente, designadamente a adesão ao euro, o alargamento da UE a Leste, a abertura à concorrência chinesa e a grande crise financeira iniciada em 2007.

Logo, o que nós gostaríamos de saber era o que Álvaro Santos Pereira teria feito de diferente para reagir a tais circunstâncias - mas, se possível, sem nos gritar aos ouvidos.

Aguardemos o livro para ver se será melhor que o post.

Maior que o pensamento

 

O Dr. José Afonso trucidou gentilmente o caquético fado de Coimbra e ressuscitou a balada.

Com a preciosa assistência de José Mário Branco, Zé Afonso inventou para a música popular portuguesa um caminho alternativo ao nacional-cançonetismo e ao ié-ié de importação.

Justamente idolatrado por uma geração de seguidores, o Zeca imaginou-se líder ideológico pela força da canção.

Por defeito ou virtude, tomou-se demasiado a sério; mas a sua música continuou a melhorar enquanto ele se entusiasmava com o assassinato de Aldo Moro às mãos das Brigadas Vermelhas.

Amargurado, morreu primeiro por dentro.

Julgamento dia 3 de Maio

(...)Margarida Fonseca Santos (autora), Carlos Fragateiro e José Manuel Castanheira (ex-directores do Nacional D. Maria II) – somos acusados, pelos sobrinhos de Silva Pais, dos crimes de difamação e ofensa à memória de pessoa falecida. No seu entender, denegrimos a imagem do último director da PIDE com a adaptação para teatro do livro A Filha Rebelde (de José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz), feita para o TNDM em 2007, com encenação de Helena Pimenta.
O Ministério Público não acompanhou a queixa.
Conquistámos, no 25 de Abril, a liberdade de expressão, que está agora posta em causa. Mas, mais grave ainda, esta é uma tentativa de branquear a imagem daquele que foi o responsável máximo da PIDE – a polícia política que perseguiu, torturou e matou muitos opositores ao regime, entre eles o General Humberto Delgado.

Errata

O Correio da Manhã diz que o programa eleitoral do PS erra no défice de 2010: em vez dos 9.1% reais refere 6.8%. Em vez de apresentar a citação truncada, o CM podia (e devia) ter referido o parágrafo todo:

 

Tendo em conta a base comparável, isto é, o mesmo universo das administrações públicas considerado para a determinação do défice de 2009, o défice de 2010 foi de 6,8% do PIB, isto é, menos 2,7 pontos percentuais do que no ano anterior. Este é um indicador evidente do esforço de consolidação realizado (pg 27)

 

Dão-se alvíssaras a quem encontrar um erro nesta passagem. É que, como o INE referiu, a execução orçamental de 2010 levou a um défice de 6.8, exactamente aquele que o PS colocou no seu programa. A alteração do universo das administrações públicas, que levou, primeiro, a um défice de 7.6% e, depois, a 9.1%, não tem nada a ver com a execução orçamental e, portanto, não pode ser utilizado para aferir se houve ou não esforço de consolidação orçamental. Se quisermos ser mais rigorosos, temos de descontar os efeitos (extraordinários) dos submarinos e do fundo de pensões da PT. Nesse caso o défice seria superior a 6.8%, mas não ficaria muito longe dos 7.3%, o objectivo definido pelo governo. Em qualquer dos casos, a consolidação orçamental é evidente. E isto - repito - independentemente das revisões efectuadas pelo INE e pelo Eurostat, que, como é óbvio, por alterarem a base comparativa não podem ser usados para formular quaisquer juízos (positivos ou negativos) em relação à execução orçamental de 2010.

In Memoriam

 

Foi ontem anunciada a morte de Vitorino Magalhães Godinho. A Shyznogud e a Irene já prestaram a devida homenagem ao homem, ao cidadão, ao intelectual e ao historiador. Não podia, contudo, deixar de acrescentar algumas palavras e de destacar alguns aspectos do significado que teve, para mim, aquele que foi talvez o maior historiador português da 2ª metade do século XX, autor da mais marcante, inovadora e abrangente obra historiográfica das últimas décadas. Vitorino Magalhães Godinho marcou várias gerações de historiadores, antes e depois da minha. Ninguém, nos anos 80, ia para História sem sentir um fascínio especial pelo autor que, logo nos manuais do 10º ano, nos mostrava uma História-Ciência, longe das estorietas heróicas, bolorentas e com ar de romance de cordel que ainda ecoavam, mas também distante da história-daguerreótipo que igualmente proliferava, cheia de chapas, tiques e receitas universais tão inexoráveis quanto simplistas. Magalhães Godinho foi também um intelectual que pensou e reflectiu sobre a democracia, a cidadania e o futuro de Portugal. Foi simultaneamente incompreendido e idolatrado, reverenciado pela frente e desdenhado pelas costas, vítima, primeiro, do "obscurantismo salazarista" de que falava Barradas de Carvalho e, depois, do turbilhão do Portugal pós-74, onde nunca se adaptou, não compreendia e com o qual não pactuava. Foi ministro e director da Biblioteca Nacional, demissionário, em rota de colisão com o mundo da política, a feira nacional das vaidades e o carrossel mundano dos poderes e das influências. Um intelectual endeusado por uma legião de indefectíveis, também. Ainda hoje não é pacífico criticar a sua obra e os seus erros (que não foram poucos). Morreu na noite de terça, suscitando um coro de homenagem unânime. Não seria mau se não o fosse tanto.

 

...! )

 

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