Ultrapassado o necessário período de estágio, o Governo já fala sobre a Europa e já tem posição sobre as eurobonds. Aliás, duas posições. A posição do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, da semana passada: «as eurobonds podem ajudar a resolver a crise». E a posição do Primeiro-Ministro, conhecida hoje: «Acompanho em grande medida aquilo que disse a Senhora Merkel». Percebe-se agora melhor porque é que Carlos Moedas, confrontado com este tema fracturante, respondeu, de forma enigmática, que o Governo não tinha «uma posição oficial».
Andamos sempre nisto. “O que é o amor?”, perguntava alguém no outro dia, no Twitter. O que é o amor, pergunta-se em quase todos os livros, em quase todos os filmes, em quase todas as canções pop, em quase todas as óperas. Enviei a quem perguntava um texto bíblico, a espantosa primeira carta de São Paulo aos Coríntios.
“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como um gongo que soa ou uma campainha que retine.
Ainda que tenha o dom da profecia e conceba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha tão grande fé que mova montanhas, se não tiver amor, nada sou.
Ainda que eu dê tudo o que tenho aos pobres e me entregue à chamas, se não tiver amor, nada alcançarei.
O amor é paciente, o amor é bom. Não inveja, não se gaba, não é orgulhoso. Não agride, não é egoísta, não se zanga com facilidade nem conta os agravos. Não se delicia com a injustiça, alegra-se com a verdade. Protege sempre, confia sempre, espera sempre, persevera sempre. O amor nunca falta.” (tradução minha de uma versão inglesa).
Parece, claro, mais uma definição de santidade que do amor romântico, uma relação com a humanidade que com uma pessoa. Não será por acaso que é um texto religioso – mas o étimo de religião é, afinal, “ligar” – e não há ligação mais espantosa e transcendente que o sentimento que nos faz alguém infinita e incompreensivelmente precioso, único e insubstituível (no tempo que dura) e suscita em nós toda a doçura e desvelo de que somos capazes, toda a vontade de providenciar felicidade que logramos abrigar. Mas o problema, claro, quando se pergunta o que é o amor, não é exactamente da compreensão do que se sente – mesmo se tantas vezes custa tanto a realizar e admitir – mas porquê. Porque é que amamos quem amamos? Porque é que não amamos quem não amamos? Qual o ingrediente, a qualidade, a característica, o acontecimento, o momento que distingue uma pessoa de quem gostamos, que apreciamos, que achamos atraente e interessante e até “certa” de outra que, podendo não acumular todas essas qualidades e não raro não contando mesmo nenhumas – et pour cause? -- nos arrebata e subjuga?
Nenhuma resposta para isso, claro. E não é por falta de elucubrações sobre. Há 20 séculos, o romano Ovídio, no seu célebre A arte de amar (Cotovia, 2006), em que se dedica sobretudo a ensinar truques de sedução a homens e mulheres – mais como sobreviver a um coração partido --, certificava-nos de que se trata sobretudo de um jogo de estratégia. Uma guerra, até. Em que, como no tratado de Sun Tsu, o máximo efeito depende da percepção que o outro tem da nossa força e poder. Daí que, aconselha Ovídio, devamos sempre tentar colocar-nos em vantagem em todas as circunstâncias: em termos físicos, conhecer com rigor os nossos defeitos e qualidades, para esconder uns e colocar as outras na maior evidência; no relacionamento, fazermo-nos distantes, misteriosos, jamais disponíveis. Nunca “fáceis” (e não, não falo da via rápida para as libações, mas da acessibilidade emocional e da disponibilidade temporal). É uma verdade primária que, no amor como em tudo, o desejo se intensifica e desvaira na distância. Sendo porém certo que é também na lonjura (olhos que não vêem, coração que não sente) que se mata um amor infeliz ou uma paixão não correspondida. Exila-te, diz Ovídio, se queres libertar-te de alguém: uns meses longe e tudo muda. Ou, pelo contrário, não faças mais nada senão saciar-te dessa vontade, até que lhe ganhes fastio (e quando não se ganha? Ah, pois).
As receitas para o fim dão-nos então, em espelho, uma pista para o início. Amaremos quem saiba, por ciência ou distração, dosear a distância e a proximidade, a fome e o alimento. Amaremos quem se souber fazer belo e cobiçável. Amaremos quem encaixar no arquétipo que, desconhecido, trazemos como talismã ou maldição. Amaremos quem calhar, se calhar. Ao calhas. E deixaremos de amar tal qual. Como se um vírus alienígena nos tomasse e largasse, sem antídoto que não o tempo, sem redenção que não a memória. Ou a falta dela.
(publicado na coluna 'sermões impossíveis' da notícias magazine de 28 de agosto)
passa hoje na Cinemateca portuguesa, pelas 19h, uma das obras-primas do cinema português, o magnífico Sangue, de Pedro Costa. Depois, não digam que não avisei.
Depois de há uns dias ter culpabilizado pelo desvio colossal nas contas da Madeira «todos aqueles que, em Lisboa» recusaram à região uma maior autonomia, Alberto João Jardim considera que está em marcha uma ofensiva contra a Região Autónoma. E aponta o dedo em riste a uma conspiração alargada que envolve, para além dos suspeitos do costume no "Contenente", a comunicação social, quiçá os bastardos de que falava em tempos, a «parte da Troika que está infiltrada pela Internacional Socialista», a Maçonaria e até o Governo dos Açores, que, depois de tudo o que roubou da Madeira, Jardim dixit, não teve pruridos em entrar na palhaçada.
Palhaçada com o objectivo "claro" de intervir nas eleições da Madeira. Como explicou AJJ, «O que se está a passar é aquilo para que eu já avisei o povo madeirense. É mobilizar-se a comunicação social do continente, mobilizar-se agora até, neste caso, sectores da União Europeia que são afetos à Internacional Socialista e que estão a trabalhar neste grupo da troika. A maçonaria mobilizou tudo quanto podia em termos de utilizar este período para atacar a Madeira», «para também fazer que quadros da União Europeia possam também intervir nas eleições da Madeira» a que se soma a «Mobilização da Comissão Nacional de Eleições* e da Entidade Reguladora da Comunicação Social** contra o PSD [Madeira]; mobilização da Comunicação Social de Lisboa para intervir nas eleições da Madeira; identificação clara dessas intervenções com a esquerda e com a Maçonaria». Haja paciência para tanta palhaçada!
** ou antes, de acordo com AJJ, contra o JM: «a guerra da Entidade Reguladora da Comunicação Social, dominada politicamente por todos aqueles que a dominam, é contra o Jornal da Madeira». Tudo isto sem perceber que «Pelo contrário, a comunicação social da Madeira - no caso do Diário de Notícias do Funchal, no caso dos correspondentes de cá para aí e no caso da RTP/Madeira, dominada aí por uma administração socialista - essa gente é que transmite aí, para o Continente, imagens e notícias que não correspondem à realidade».