Uf. Que ano. Tanto para reter, rever e digerir. Ficando por Portugal, comecemos pelo fim: o de 2011 e do prazo que o PR tinha para enviar o OE para o Tribunal Constitucional. Quando o orçamento ainda não fora sequer discutido no parlamento, Cavaco fez questão de dizer que extorquir os subsídios só aos funcionários públicos e pensionistas é "uma violação do princípio básico da equidade fiscal" - ou seja, é inconstitucional. Tendo como obrigação estrita e jurada fazer cumprir a Constituição, tinha de pedir a fiscalização preventiva de uma medida sobre a qual tem esta opinião; não o fez. O que só surpreende quem ainda não tivesse concluído estar no palácio de Belém um político inconformado com o facto de ter visto fugir, com a derrota de Ferreira Leite, a oportunidade de assumir uma presidência à francesa em que dirigiria, in loco ou não, o Conselho de Ministros, e que perante governos que não controla se especializou no toca e foge do discurso incendiário (quando não nas conspirações), sem jamais assumir as consequências. Que uma conduta deste teor possa passar sem sequer escândalo público (outra punição a Constituição, hélas, não prevê) indicia que o cargo de presidente, embora o mais alto da nação, é tão pouco levado a sério pelos portugueses como pelo seu actual detentor. O que suscita a questão óbvia: precisamos mesmo de um presidente? É que sempre se poupavam uns milhões, além das vergonhas.
A segunda lição do ano é para o PS. Como todos os partidos de centro-esquerda no poder quando a crise do euro levou a UE a mudar radicalmente a orientação das políticas, do hiper-investimento que foi a sua reacção ao crash financeiro mundial para a austeridade e a obsessão com os défices e as dívidas, cometeu o erro de não exprimir o seu desacordo e de não procurar dentro da União parceiros nessa oposição. Assumir as medidas de austeridade como suas e até como boas foi uma ingenuidade voluntarista que pagou, à bruta, nas urnas.
Terceira: parece que já se pode concluir com toda a certeza que, ao contrário do que BE e PCP tanto repetiram, o PS no governo não é igual ao PSD e ao PP. Pena que toda a gente, mesmo a que já suspeitava, tenha de pagar, e com língua de palmo, a aula prática. E que quem mais precisasse de a aprender dê mostras de ainda não ter percebido, o que - quarta lição - nos diz que jamais o BE e o PCP viabilizarão governos de esquerda, criando espaço (vide os 40% de abstenção nas legislativas) para uma nova força política, capaz de alianças com o PS.
Mas, claro, podemos não precisar mais de partidos. Se o golpe de Estado europeu que está a substituir a democracia representativa por um império "dos mercados" vingar, seremos governados por "especialistas". E, quinta lição, parece que é mesmo possível fazer isso sem enfrentar grandes indignações e resistências. Se calhar, andamos a levar o desígnio de Passos tão a sério que nos cremos - e queremos - pobres até no espírito.
Foi a Helena Matos que apelou à expressão e que dela se serviu para sustentar a sua posição. Também não explico, reponho o léxico. E supus, não considerei. Em todo o caso não tive grande eficácia, mantém-se a referência ao aluguer de uma barriga que não é alugada.
Se do primeiro post percebi que o problema da Helena Matos era a desadequação de uma expressão - que não é usada - e o aluguer de um corpo - que não é alugado -, sendo que não tem nada contra alugueres de corpos, daí não defender (e bem) a criminalização da prostituição, com este fui informada que as suas objecções à maternidade de substituição se prendem com o "possível sofrimento" de alguém que decidiu, não foi obrigada, a participar no processo, e de outro alguém que partilha com toda a gente o facto de não ser tido nem achado para a decisão de ser... filho, que é como quem diz de existir. Sem perceber fiquei, de novo, a que questões éticas a Helena se refere exactamente.
PS1: Ninguém substitui coisa nenhuma, alguém que pode e quer substitui outro alguém que quer mas não pode engravidar.
PS2: : A conversa da parentalidade, mais exactamente a maternidade, ser o fim último da existência e a materialização da felicidade é, de facto, outra conversa. Felizmente a minha filha nunca teve essa responsabilidade e detestei estar grávida (da amamentação nem falo).
... este esterco em forma de jornal publica uma "notícia" (clicar na imagem para ler) destas sem que se ouça um justificado clamor crítico de jornais e jornalistas perante este atentado óbvio ao que deve ser jornalismo. Para o caso são - ou deveriam ser - irrelevantes simpatias ou antipatias com Armando Vara, o que aqui está em causa é manipulação descarada da opinião pública, é um vale-tudo obsceno.
A crise de dívida soberana permite uma narrativa simples. Ninguém pode gastar mais do que aquilo que ganha durante um período prolongado de tempo. São inúmeras as pessoas, algumas delas supostamente bem informadas, que insistem no paralelo entre as contas de um Estado e o orçamento de uma família, por exemplo. O facto de este paralelo ser desadequado não o impede de ter grande aceitação; afinal, adoramos histórias que se enquadrem nos nossos preconceitos e não nos obriguem a pensar muito.
Claro que acreditar numa história simples vai desencadear soluções erradas. A teoria do empobrecimento enquadra-se que nem uma luva nesta narrativa. Permite dar aos sacrifícios a sensação de estarmos a fazer a coisa certa: é preciso ser poupadinho e os que pensam de forma diferente são uns estouvados.
Mas quando a decisão individual de poupar se transforma numa decisão colectiva de todos os agentes económicos (famílias, empresas, Estado), a história simples funciona exactamente ao contrário do que era suposto. O impacto no crescimento faz com que o nível de dívida, que é medido em relação à riqueza produzida no país, aumente. O que implica mais austeridade. O que implica mais recessão. E por aí fora.
O elogio de cada vez mais austeridade, como salvação de todos nós pecadores, tem tanto de apelo moral como de irracional. Quando estivermos mais pobres e mais endividados, a culpa há-de ser de outra coisa qualquer.
Um post divertido e inspirador sobre possíveis consequências da progressiva desmaterialização da indústria e dos serviços. Eis um excerto:
My Christmas shopping this year was 90% through Amazon Prime. Not having to fight the crowds and having it delivered free of charge to my home is a big plus, but as with the Kindle store, the online retail selection is much better that even the largest retail outlet.
Which is more enjoyable: Starbucks or Walmart? For the sane: Starbucks. So if you can accomplish your Walmart shopping at Starbucks, why do it any other way?
Also, imagine the 3D print shop of the future. You put in your order, probably from your smart phone, and then go pick it up. What does the lobby of such a business look like? Again: a coffee shop.
A falta de transparência do BCE é uma questão que se coloca com mai premência a cada dia que passa.
Ao que parece, houve nos últimos dias uma rápida mudança na sua atuação, sem que se compreeenda muito bem quais o seu contexto, sentido e consequências.
Na semana passada, desatou a emprestar aos bancos em larga escala, reduzindo as exigências de garantias colaterais. Porém, os bancos socorridos, em vez de emprestarem os fundos obtidos, voltaram a depositá-los no banco central, mantendo as economias à míngua.
Por outro lado, reafirmou a sua recusa em emprestar diretamente aos estados. Todavia, as baixíssimas taxas de juro conseguidas ontem pelo estado italiano, em manifesta divergência com a tendência registada no mercado sevundário, sugerem uma intervenção do BCE nos bastidores, tomando de imediato os títulos aparentemente adquiridos por instituições bancárias.
Mais do que a racionalidade destas operações, ficam por esclarecer as prioridades do BCE, designadamente no que toca à desigual diligência de que dá provas consoante o país e a cor política do governo que se encontra em dificuldades.
Já se sabe que o desmoronamento da Itália teria consequências gravíssimas para a zona euro, mas, no quadro da UE, não é aceitável que certos países e orientações políticas beneficiem de tratamento preferencial.
O BCE faz lembrar a nomeklatura soviética no seu desprezo pela opinião pública democrática e pelas instâncias eleitas da UE. A sua atuação encontra-se envolta num denso nevoeiro, prestando-se a todas as interpretações estimuladas por boatos provenientes das salas de trading.
perguntei-me, pergunto-me muitas vezes o que sucedeu depois disto. que pena levou o assassino. que destino tiveram os filhos da vítima. se existiu averiguação disciplinar em relação aos guardas e ao condutor da ambulância e, a ter existido, que resultado teve. e se o estado português fez o que lhe competia: indemnizar as duas crianças que ficaram sem mãe porque, estando à guarda dele, não a guardou.
para mim, este é o caso mais simbólico de violência de género de que me lembro em portugal. não consigo pensar nele, nesta mulher, nestas crianças, sem raiva. a raiva de saber que coisas como esta podem suceder no meu país, agora; a raiva de saber que nem neste, o mais exemplar dos casos, houve aquilo a que se dá o nome de consequências, nem mesmo quando o próprio homicida afirma que quando o viram chegar de caçadeira em punho os guardas da gnr nada fizeram.