"A ampola miraculosa" | Irene Pimentel por Anabela Mota Ribeiro
Jornal de Negócios | 27 de Janeiro de 2012
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Jornal de Negócios | 27 de Janeiro de 2012
Não havia ninguém melhor para escrever Assis Pacheco, ponto.
Ps: ficaste impressionado, e invejoso, com a organização do escritório, Nunico, confessa lá ;-)
de 1985 a 2010, a espanha teve uma lei da interrupção voluntária da gravidez praticamente igual à portuguesa de 1984. restringia a ivg a casos de violação, malformação e doença grave do feto e risco para a vida e saúde da mulher.
durante esse período, o entendimento da lei imposto pela prática tornou a espanha num país de aborto disponível por vontade da mulher, um país onde as portuguesas iam aos milhares abortar nas clínicas da fronteira, muitas delas sem suspeitar que a lei em vigor daquele lado era muito idêntica à do seu país, onde a interpretação era muito mais restritiva.
em 2007, como todos sabemos, fez-se um referendo em portugal e mudou-se a lei, finalmente. tornou-se desnecessário passar a fronteira para interromper uma gravidez não desejada. e zapatero, pouco depois, colocava no seu programa eleitoral a alteração da lei espanhola para um figurino mais condizente com a prática e semelhante ao da nossa actual, com a diferença assinalável de aumentar o período da interrupção legal por motivos não médicos nem criminais para 14 semanas. uma espécie de assunção da verdade, a determinação de acabar com aquilo a que o colégio da especialidade de psiquiatria da ordem dos médicos portugueses apelidou de 'fraude à lei' (os motivos invocados nas interrupções eram 'perigo para a saúde pasíquica da mulher').
agora rajoy anuncia o regresso aos termos da lei anterior. significa isso que está disposto a levar a tribunal as cerca de 100 mil mulheres que anualmente abortam em espanha, que é um sonso e sabe que tudo ficará na mesma mas quis dar esta borla aos fundamentalistas religiosos, ou está determinado em dar o seu amável contributo para a nossa balança de pagamentos?
aguardam-se os próximos capítulos.
Veio parar-me às mãos um argumento para uma nova séria portuguesa, uma espécie de parente pobre dos Homens do Presidente, que a TVI transmitiu há uns anos. Vem sem autor, mas nestas coisas, não demorará muito que alguém se chegue à frente a reclamar a autoria. Afinal, os Emmys estão à espreita.
Num país imaginário mas semelhante a Portugal e no presente ano, a intriga gira em torno dos actores políticos e das suas relações. Um carismático líder de esquerda perdeu recentemente as eleições para uma coligação de centro direita. O sistema político do país, tal como o nosso, conta com um Presidente da República, que é de um dos partidos da coligação governamental. A oposição é liderada por um homem do principal partido de esquerda, que há muito esperava a sua oportunidade. O país está sob o jugo de um acordo com uma troika do FMI/BCE/UE.
A intriga é interessante porque assenta em maquiavélicos jogos palacianos que se têm que adaptar à crise internacional que o país vive. Até agora o que me tem seduzido mais é a clivagem, ainda mais ou menos latente e pouco explorada pelos media, no seio do Governo (isto até ao episódio 4). Parece que a personagem do Ministro das Finanças lidera uma facção, que tem inicialmente o ascendente, e que é composta por ideólogos de uma terrível austeridade. São personagens complexas que, por um lado, têm o condão de irritar com a sua austeridade maníaca e obsessiva e, por outro, o condão de despertar alguma admiração quando percebemos que são, afinal, as únicas personagens que acreditam no que estão a fazer. Esta facção, contudo, está a ser minada por uma fascinante intriga que conta com o Presidente da República, importantes figuras do Governo que odeiam o Ministro das Finanças e o próprio partido que lidera a oposição!
Foi aqui que fiquei preso ao argumento (a partir do episódio 12): por um lado, fartos do carácter de snobismo moral e de austeridade ideológica e, por outro, com os olhos nas sondagens e com medo de que a crise, ao invés de passar, pudesse agravar-se, levando os eleitores a não suportarem mais austeridade, os membros do Governo que estão contra o Ministro das Finanças e seus acólitos começam a divisar um plano para lhe tirarem o tapete e manterem o poder.
Em primeiro lugar, inventam uma querela entre Presidente da República e Governo, na pessoa do Ministro das Finanças, conseguindo fazer passar a ideia nos media de que o Presidente simboliza o Estado Social e o Ministro das Finanças o ultraliberalismo destruidor. Esta parte do argumento é tanto mais deliciosa porque até há alguns meses, quando a série começa, o grande paladino do Estado Social era o Governo do anterior líder de esquerda, contra tudo e contra todos, sendo que nesse momento já ninguém se lembra do principal partido de esquerda como o defensor do Estado Social. Então, cumprindo à risca o plano montado, os membros do Governo de Direita que apenas pretendem manter o poder celebram um pacto secreto com o líder da oposição para se remeterem ao silêncio e não levantarem ondas, passando uma ideia de grande concórdia e responsabilidade. A ideia é de que a querela entre Presidente e Governo/idéologos da austeridade faça o seu caminho sem prejudicar a imagem daqueles que podem mais tarde vir dizer que é preciso temperar a austeridade. Ou seja, os inimigos do Ministros das Finanças e a Oposição de Esquerda em conluio.
Assim, quando a crise se agudiza (antepenúltimo episódio) e esta facção percebe que o discurso de austeridade do Plano A não vai resultar e se arriscam à destruição e perda do poder, põem em marcha o plano B: o Presidente, forçado e instigado, baseando-se na querela, já amplificada pelos media, arranja uma desculpa constitucional para deitar abaixo o Governo, coloca como condição a saída do terrível Ministro das Finanças e seus partidários, sobrando apenas aqueles que sempre se opuseram ao excesso de austeridade (e que nesse momento de climáx aparecem agora a dizê-lo publicamente): os membros rivais dentro do Governo e o líder da oposição, que já previamente haviam acertado um Governo de União Nacional, para trazer de novo a austeridade a limites conciliáveis com o Estado Social que sempre todos defenderam. A série acaba com o Ministro das Finanças a olhar para o cais das colunas e a apanhar um táxi para Bruxelas, enquanto o Ministro dos Assuntos Parlamentares e o ex-Líder da Oposição, agora Ministro de Estado e da Reforma Administrativa, almoçam num restaurante em Lisboa.
Alguém tem que pegar nisto, que isto é ficção da boa! Espero que façam uma segunda época.
(Público de hoje)
*ou, como dizia o Luis Grave no twitter há pouco, "Com um simples vestido preto…"
Mail das 00:32 "Drª, acha que eu sou maluco?". É isto, não é?
Dia 1 | quarta-feira | Conversas Bravias | O significado da ditadura com Irene Pimentel.
organização: Marta Lança
Título de uma notícia publicada no Negócios online: "Krugman recomenda corte de 20% nos salários da periferia do euro". Vai-se procurar a entrevistano Le Monde, e o que se lê? Isto:
"Pour restaurer la compétitivité en Europe, il faudrait que, disons d'ici les cinq prochaines années, les salaires baissent, dans les pays européens moins compétitifs, de 20 % par rapport à l'Allemagne. Avec un peu d'inflation, cet ajustement est plus facile à réaliser (en laissant filer les prix sans faire grimper les salaires en conséquence)."
Um bocado diferente, certo? Para começar, nem neste trecho nem em qualquer outro da entrevista Krugman "recomenda", "sugere" ou "propõe" o que lhe é imputado.
Concordaria a jornalista que eu resumisse assim as ideias do entrevistado: "Krugman recomenda aumento de 20% nos salários da Alemanha"? Note-se bem que, como se fala de movimentos relativos, tanto faz, desse ponto de vista, que os salários desçam cá ou subam lá. Embora, é claro, as consequências económicas e políticas - já para não falar da factibilidade - das duas alternativas sejam muito diferentes.
O que Krugman tem repetidamente defendido é que seria bom que a taxa de inflação aumentasse significativamente na zona euro. Por um lado, isso facilitaria o processo de ajustamento salarial relativo que ele entende apropriado ao longo de um período dilatado de cinco anos; por outro, desvalorizaria o endividamento que presentemente sufoca as famílias, as empresas e os estados.
O que a jornalista nos transmite no citado título não é, pois, a opinião de Krugman, mas a sua. Tem naturalmente todo o direito a fazê-lo, mas não assim.
A minha opinião também diverge um tanto da de Krugman, mas isso é problema meu.
É oficial: Eva Gaspar não sabe ler. No início de janeiro, Eva Gaspar inventou um post onde Krugman teria defendido a tese de que Portugal e Grécia poderiam não ter alternativa a uma política de austeridade. Hoje, Eva Gaspar diz que Krugman terá dado uma entrevista ao Le Monde onde defendeu que os chamados periféricos devem cortar os salários em 20%, uma solução que, assegura a jornalista do Negócios, este economista tem vindo a defender nos últimos dois anos. Qualquer pessoa minimamente familiarizada com o que Krugman escreve sabe que este nunca poderia defender tal coisa. Aliás, basta ler o que Krugman diz na entrevista para se perceber que, em momento algum, Krugman defende a posição que Eva Gaspar lhe atribui:
Le problème de compétitivité viendrait donc de salaires trop élevés en Europe du Sud par rapport à l'Allemagne ?
Au final, le problème est celui d'un déséquilibre des balances des paiements. Mais, si on prend l'exemple de l'Espagne, les salaires espagnols n'ont pas toujours été au-dessus de la moyenne. C'est un phénomène récent. Après la création de l'euro, il y a eu des afflux massifs de capitaux dans les pays dits à la périphérie de l'Europe qui ont provoqué une bulle du crédit.
Ainsi, que faut-il faire ?
Le problème de la zone euro, c'est sa construction même. Tout cela n'arrive pas par surprise : il y a vingt ans déjà, cette union monétaire provoquait des débats académiques, on se demandait comment ce système pouvait gérer un choc asymétrique, une récession plus profonde dans un pays que dans un autre. Mais la question a été négligée. Aux Etats-Unis, ces chocs asymétriques sont gérés, pas toujours parfaitement, grâce à un système budgétaire intégré et une mobilité très élevée.
L'Europe n'a aucun de ces deux atouts. II lui faut donc quelque chose d'autre pour donner plus de souplesse au système. Une politique monétaire moins stricte avec une inflation plus élevée - autour de 4 % - offrirait une part de la flexibilité qui manque à la zone euro.
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Rogério da Costa Pereira
Rui Herbon
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Cara Fernanda Câncio, boa tarde.Poderia ter a gent...
So em Portugal para condenarem um artista por uma ...
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