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jugular

Lomba medita a Europa e fica exausto

A redação de Pedro Lomba começa hoje muito bem no Público, com ele a reproduzir informações sobre a União Europeia recolhidas na Wikipedia que tinha mais à mão.

Chegado à linha dezanove, porém, tropeça logo da primeira vez que tem que acrescentar uma pequena elaboração mental própria, ao afirmar que cada país da União tem "um povo nacional".

Este deslize tem consequências para o argumento principal da prosa, a saber, que "jamais existiu no mundo uma democracia à escala transnacional".

Se tiver a bondade de deslocar-se a Badajoz, poderá, virando-se para leste, contemplar uma dessas democracias multinacionais cuja existência desconhece. Circunstância idêntica encontraria no Reino Unido e na Bélgica, já para não falar da quase totalidade dos países do leste europeu, de cuja solidez democrática é, porém, permitido duvidar-se.

Atravessando o Atlântico, mesmo que prefira ignorar o Brasil, poderá pôr os olhos nos EUA, um mosaico de variadas nações que recebe novos e originais influxos em cada ano que passa.

Coloca a multiplicidade de nações e culturas dificuldades particulares à edificação de uma democracia? Sim, mas já se fabricou disso e continuará a fabricar-se.

Vamos lá a pensar melhor no assunto.

Santa ignorância

A obra publicada de Miguel Sousa Tavares acaba de ser enriquecida com uma colectânea dos seus "escritos políticos" dispersos, ensejo para algumas entrevistas que lhe permitem expor o pensamento com maior profundidade.

Ontem, na SICN, explicou-nos via Ana Lourenço que lhe dá vontade de chorar ver o país persistir em seguir por um caminho que ele, desde a sua mais tenra mocidade, avisou conduzir-nos ao desastre.

Os apertos financeiros em que nos encontramos devem-se, na sua essência, a nenhum de nós - desde o poderoso homem de estado ao humilde trolha - lhe ter dado ouvidos. Se Relvas fosse jornalista e Tavares primeiro-ministro, teríamos jornalistas objectivos e políticos competentes, mas assim está tudo trocado.

Tavares sempre percebeu que não somos "um país rico como o Brasil", logo não podemos fazer auto-estradas, TGVs e aeroportos como se o fossemos. "Nem estádios de futebol", acudiu Ana Lourenço, para demonstrar que estuda atentamente os escritos políticos de Tavares.

Tavares não sabe que o grosso do custo das auto-estradas foi pago pela UE e convém-lhe esquecer que nem o TGV nem o novo aeroporto chegaram a ser construídos. Por outro lado, nem Ana nem Miguel, questionados, saberiam dizer quanto custaram os estádios do Euro 2004, mas eu sempre os esclarecerei que foi muito menos que a nossa participação em aventuras militares na Bósnia e no Afeganistão.

Tampouco suspeitam que, por muito criticáveis que tenham sido os investimentos que o país fez no último quarto de século em infra-estruturas, isso em muito pouco contribuiu para o crescimento da dívida pública - de resto, muito inferior ao da privada. Se Tavares quer denunciar "loucuras" deveria antes concentrar a sua ira nas despesas com a saúde e a educação - como hoje faz o governo que ele justamente execra.

Tavares tem firmemente implantada nas sinapses uma interpretação da história de Portugal que detecta um fio condutor de ruína e desgoverno ligando o império do oriente ao ouro do Brasil e aos fundos europeus, e não se cansa de repeti-la. Sucede que esse pensamento, plasmado nas centenas de páginas que compõem a sua obra de análise política, sendo partilhado por uma esmagadora maioria de taxistas, professores primários e moços de forcados, nada tem de original.

A única peculiaridade da nossa condição histórica - se é que alguma existe - reside na santa e atrevida ignorância que, ascendendo das profundezas da massa ignara que sabe pouco e não quer saber mais, chega aos meios supostamente incultos que, na verdade, pouco se distinguem em nível cultural do povinho que se comprazem em desprezar.

 

(Relevante adenda a este post: É só fazer as contas...?

o filme ao contrário

Em conversa que tive há já quase uma década com o então diretor do centro de formação de jornalistas, perguntei-lhe que regiões da Ásia eram suscetíveis de suscitar maior interesse e motivação por parte dos profissionais, e que tipo de ações de formação, que o instituto universitário a que eu estava então ligado podia oferecer, seriam mais úteis para a classe. A resposta dele foi lapidar: aqueles países que fossem notícia nos meses seguintes; "se para a semana houver uma crise nuclear envolvendo a Coreia do Norte, teriam todo o interesse em fazer já hoje um curso sobre história, cultura e atualidade dessa região". Houve, inevitavelmente, uma gargalhada na sala. Antecipar a realidade, conhecer o futuro, vislumbrar o porvir é, de facto, uma velha aspiração, em todos os campos da vivência humana, da existência pessoal às opções estratégicas das sociedades.

Como as artes de adivinhação ou os palpites não possuem, que eu saiba, validade científica, gostava, portanto, de saber em que se baseiam estas alterações; que estudos, que análises, que prioridades levaram a considerar a metalurgia ou a metalomecânica, a caça e as pescas como áreas prioritárias na formação profissional dos jovens, em detrimento da informática, da multimédia ou do marketing. São setores em expansão? Áreas que necessitarão de mão-de-obra nas próximas décadas? Setores estratégicos da economia nacional? Quem acredita? Eu, não. Sei, sim, que foram importantes no passado. Alguém, concluo, está literalmente a ver o filme ao contrário. Ou então aposta no regresso de Portugal à década de 1950.

Hoje é dia de aprender uma palavra nova: evergetismo

"Na eterna busca de bens posicionais que os distingam dos pequenos e médios ricos, cujas fileiras engrossam a olhos vistos, mansões na Côte d’Azur, iates de 150 metros e ilhas privadas não bastam hoje para sinalizar o nababo genuíno. De modo que, quem quer ser alguém, compra antes um clube de futebol, como fizeram Abramovich ou o xeque Mansour Nayhan. Ou então, imitando Berlusconi, opta por comprar um cargo de primeiro-ministro, com os resultados que se sabe. Num plano incomensuravelmente mais perverso, pode fazer como Bin Laden, que aplicou a riqueza familiar na construção de uma rede terrorista internacional dedicada a chacinar infiéis."

O resto do meu artigo de hoje no Negócios pode ser lido aqui.

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