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jugular

Uma questão de prioridades

Nos idos de Novembro, num post que mereceu mails e comentários irados dos que bramiam que eu queria "asfixiar" o ensino básico e secundário (pouco*) privado, comentei, em nota de rodapé, que o Ministério da Educação considerava um aluno numa escola secundária privada merecedor de mais financiamento público do que um aluno no ensino superior público.

 

Sete meses e cortes brutais** depois, as contas de quanto mais  chegam ao Económico: o investimento do Estado por aluno do ensino básico e secundário, público e privado, é superior em mais de 50% ao que é feito por estudante universitário.

 

Há uma semana, na cerimónia em que entregámos os diplomas aos alunos que concluiram os seus mestrados e doutoramentos no Técnico no ano lectivo transacto, Rogério Carapuça pedia aos presentes, uma pequena fracção do total, muitos dos nossos diplomados já seguiram os conselhos governamentais e sairam da sua zona de conforto, para não desistirem de Portugal. Infelizmente, o que se tem passado nos últimos tempos é para muitos indicação clara de que Portugal desistiu da esmagadora maioria dos seus cidadãos.

 

 

ainda tou a esfregar os olhos

com esta, entre outras, parte do texto de hoje de francisco teixeira da mota, advogado do público, sobre o caso relvas/público, nomeadamente o que coloco a itálico:

 

'Sobre o facto de a pessoa com quem viveria a jornalista ser de um partido de oposição, considerei que a ameaça da revelação de tal factualidade não revestia qualquer carácter criminal. Independentemente de ser verdade ou mentira o que o ministro afirmara, isto é, de a jornalista viver só ou acompanhada e de o eventual companheiro ser ou não da oposição. Se fosse mentira, não era revelação de facto da vida privada, nem era ofensivo ou difamatório. Se fosse verdade, era irrelevante, mesmo que a intenção do ministro fosse a descredibilização da jornalista, numa lógica de que esta actuaria profissionalmente em função das crenças ideológicas do companheiro! Um pensamento bastante primário, temos de convir. sendo certo que a Direcção veio desmentir o ministro.

O facto de vivermos com alguém não é, em princípio, um facto privado, antes fazendo parte do domínio público, no sentido de ser, pelo menos, do conhecimento de quem nos conhece. Por outro lado, a proximidade ou a pertença a um qualquer partido político também não me parece ser algo de confidencial.'

 

o domínio público sendo portanto o de quem nos conhece, e a divulgação da nossa privacidade portanto uma coisa de somenos desde que meia dúzia de pessoas, em quem fizemos confiança, saibam dos seus detalhes. isto é mesmo deslumbrante.

quem com ferro

O caso Relvas é muito atreito a ditados. "Não cuspas para o ar", por exemplo: anos de acusações inconsubstanciadas, calúnias e insultos, fatwas a propósito de tudo e nada, tarde ou cedo haviam de bater à porta dos aprendizes de feiticeiro.

 

Não servindo a indecência alheia de desculpa, porém, assentemos em princípios básicos: Relvas não estava, naturalmente, impedido de ter uma relação com Silva Carvalho. Podiam até passar o dia a trocar mensagens fofinhas, poemas e receitas de farófias; ainda que fique demonstrado ser o ex-SIED um absoluto energúmeno, ter uma relação mais ou menos próxima com alguém dessa descrição não é crime nem implica necessariamente cumplicidade.

 

Não pode, pois, estar em causa julgar o ministro por ter tido uma relação com o ex-SIED, mesmo se pareceu anteontem ser esse o fito das baralhadíssimas perguntas da oposição. O que está e deve estar em causa é se existiu impropriedade nessa relação e, tendo em vista as contradições entre factos entretanto revelados e as declarações do ministro na primeira audição, se faltou à verdade perante o Parlamento ao descrever os termos da dita. Infelizmente, a audição de quarta deixou-nos onde estávamos: na noção de que Relvas está muito pouco à vontade na explicação da natureza da relação com Silva Carvalho e afirmou várias coisas não verdadeiras na primeira audição.

 

O que suscita duas questões: a da inverdade perante o Parlamento, que é só por si muito grave; e do móbil dessa inverdade, a saber, por que motivo Relvas achou que devia ocultar a verdadeira natureza da sua relação com Silva Carvalho, relação essa que se prolongava pelo menos através de um membro do seu gabinete, que entretanto se demitiu. Poderá Relvas, com noção do que ele próprio faria a um governante de outro partido apanhado numa tal relação "perigosa", ter assim agido apenas para alijar suspeitas. Como pode ter demitido o seu adjunto para evidenciar dureza; sem se dar conta, porém, do quão bizarro é que considere ser uma relação mais estreita com Silva Carvalho motivo de demissão para o adjunto mas não para si.

 

Junte-se a isto o facto, que o próprio não contesta, de ter perdido a cabeça (porquê?) com as perguntas que uma jornalista do Público lhe enviou sobre a sua primeira audição, ligando várias vezes para o jornal. É acusado de ter nesses telefonemas ameaçado, para evitar a publicação de uma notícia, a divulgação na Net de um facto da vida privada da jornalista - a de que esta viveria com um homem de um partido da oposição (o que é falso). Além de intolerável e sem paralelo nos anais da democracia portuguesa, esta ameaça, a verificar-se, surtiria um irónico efeito de ricochete. Se Relvas achar que uma relação próxima com alguém da oposição é de molde a tornar uma jornalista não credível e incapaz, como classificará o ministro que tendo uma relação pessoal com um ex-espião acusado de usar os serviços secretos da república para fins criminosos, aldraba sobre ela?

 

(publicado hoje no dn)

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