O escrito tem três anos mas talvez valha a pena recordar. Naturalmente que na discussão sobre doação de sangue a primeira salvaguarda é o direito de quem necessita ser transfundido à melhor qualidade possível dos produtos hemáticos. É inquestionável e, por isso mesmo, a discussão (crónica) sobre os critérios de exclusão dos dadores não pode - nem deve, do meu ponto de vista - ser olhada com base nos seus (dos dadores) direitos. Do mesmo modo parece-me absolutamente compreensível que o critério de exclusão "homossexuais masculinos" seja passível de discussão (também) política ao contrário do que acontece com outros critérios de exclusão - eu, por exemplo, não posso ser dadora por diversas razões, desde logo por peso insuficiente. Faço notar, aliás, que diferentes países fazem, a este propósito, opções diferentes (continua ali).
Laranja é cor de fruta. Pode ser da laranja, da cenoura ou de um alerta qualquer… O laranja atrai Coelhos. As cenouras crescem no chão, até no meio de Relvas… Há uma velha gravura de um burro a correr atrás da cenoura... Laranja, claro… Já percebemos que os vegetais são importantes para o mau funcionamento de qualquer governo, embora importantes para a saúde de qualquer cidadão…O que mais me preocupa é um nabo no meio de tanto vegetal laranja… O nabo é rico em ferro, mas seria muito melhor se fosse rico em ouro… Ó...
"Medidas de todas as áreas de governação não serão aprovadas em Conselho de Ministros sem prévia avaliação quanto ao impacto que têm sobre a vida familiar."
Notícia de 28 de Junho de 2011 (curioso, faz hoje precisamente um ano)
Que me lembre é a terceira vez que invoco aqui esta solene afirmação (1 e 2 ). Infelizmente parece-me que vai ser também a terceira vez que é melhor esperar sentada a prometida avaliação
Regressemos só por mais uns instantes ao tema. Na sequência deste post, chamaram-me a atenção para o facto de poder estar a questionar o actual momento de forma de João Carlos Espada, quando digo que as últimas crónicas de Henrique Raposo estão ao nível do «melhor João Carlos Espada». Não era minha intenção diminuir Espada, mas antes relevar o contributo de Raposo para este género de crónica. Em certo sentido, como procurei explicar, os universos de Raposo e Espada são complementares. Se em Raposo vemos a influência neo-realista e o elogio ético do subúrbio, em Espada temos o genuíno deslumbramento da média burguesia lisboeta com o cricket e os jantares na “high table” de Oxford. Se em Raposo pontificam Ibrahim e Candeias, em Espada têm lugar cativo Karl Popper e Sir Winston Churchill. Espada tem, de resto, um grande cuidado na forma como descreve as suas personagens e como narra os ambientes que as envolvem. Há ali um respeito institucional que já só se encontrará na forma como a revista Hola retrata a família real espanhola.
Aliás, se dúvidas houvesse quanto à boa forma de Espada, bastaria ler o texto da passada segunda-feira no Público, sugestivamente intitulado «vinte anos de conversação política», e que, no essencial, não difere em nada das «conversações políticas» que o próprio nos proporciona semanalmente há vinte anos. Nessa crónica, Popper e Churchill juntam-se a Maria de Jesus Barroso - «prémio Fé e Liberdade 2012» - e a Celia Sandys, uma senhora que veio aos Encontros de Estudos Políticos de Espada - «agora também denominados Estoril Political Forum» - falar sobre Churchill. Sandys nunca terá escrito nada de particularmente interessante sobre Churchill, mas em relação a um Max Hastings tem, para Espada, a enorme vantagem de ser neta do estadista. Aparentemente, os Encontros de Estudos Políticos, «agora também denominados Estoril Political Forum», já vão na sua 20ª edição. «Começaram com 30 pessoas e este ano já contam com 300, algumas vindas do estrangeiro». Como analisar, à luz da teoria disponível, tão intrigante fenómeno? Da mesma forma que Espada analisa todos os fenómenos políticos e sociais: «Uma razão é óbvia: [os Encontros] não são resultado de um plano centralmente desenhado». Lamentavelmente, Passos Coelho ficou impedido de participar nos Encontros deste ano, por «coincidirem com a moção de censura debatida no Parlamento». Parece que quem não faltou foi o «líder da oposição democrática, António José Seguro». Espada nomeia o líder da «oposição democrática», não fossemos nós pensar que se estava a referir a Humberto Delgado. É que Seguro, ao contrário da oposição antidemocrática, não inventa moções de censura para prejudicar as «conversações a várias vozes» anualmente organizadas por João Carlos Espada. Claro que um evento desta dimensão nunca seria possível sem a generosidade de várias instituições. Espada é reconhecido e partilha esse reconhecimento com os leitores do Público: «é legítimo destacar a Jerónimo Martins/Biedronka, o BPI, e a Câmara de Cascais, sob a presidência de Carlos Carreiras». Felizmente para os leitores e patrocinadores de João Carlos Espada, Carlos Magno, presidente da ERC, ainda não percebeu se a entidade que dirige serve para alguma coisa.
Daniel Scheindermann dedica a sua crónica matinal de hoje ao fim de um dos blogs-experiência do Le Monde a que, acho, já me referi aqui. Durante um ano 8 jornalistas franceses instalaram-se em diferentes partes do país e foram contando a actualidade - e a vida - a partir desses bocadinhos de França. Num ano tão intensamente eleitoral muitas das crónicas que foram escrevendo descreviam a realidade política local, é verdade, mas não se restringiram a isso. E é por isso que o texto de DS me agradou tanto:
O meu alemão, aprendido há muito, não me é útil fruto do pouco uso que lhe dei, razão pela qual venho pedir ajuda. Reza a maioria dos jornais portugueses (todos os que vi até agora) que Merkl terá dito "enquanto for viva não haverá responsabilidade partilhada na dívida". Ora olho para jornais e jornalistas de outos países e o que vejo é que terá dito que "enquanto for viva não haverá responsabilidade partilhada total na dívida". A pequena palavra a mais faz (ou pode fazer) uma diferença, e pegando na gaspar-expressão, colossal.
P.S. - Pelo que percebo, na primeira notícia surgida na Reuters (entretanto actualizada), o título era "Merkl:no EU debt liability in my life-sources" mas no terceiro parágrafo constava a frase completa "I don't see total debt liability as long as I live".
adenda: no Público, acabei de ver, a palavra total consta