... e por estas bandas tem vários cultores. Um dos outros sorkin-addicted escreveu o que se segue e, por motivos que não vêm ao caso, não pode andar por estas bandas de momento, eis a razão porque me transformei eu - outra SA - em caixa de ressonância.
A partir do momento em que nos descobrimos, ou enquanto nos vamos descobrindo, estamos sempre a revisitar-nos. Isso não é uma falha de carácter, ou auto-plágio, como está na moda dizer-se, mas antes, um modo de não nos dissolvermos na vertigem do presente, de assegurarmos que a nossa identidade se mantém, palpável, à nossa frente. É uma defesa, que é ao mesmo tempo um modo de sermos nós.
Não, isto não é um poema, nem um desabafo. É mesmo só para servir de introdução a isto:
Os médicos têm uma greve marcada para os dias 11 e 12 deste mês. Não é necessário ter uns núcleos paranóides muito desenvolvidos para fazer a ligação entre isso e a profusão de notícias sobre má praxis e fraudes que implicam clínicos, é uma técnica usada amiúde também noutras situações.
É premente que as investigações continuem e que a justiça dê resposta, tão célere quanto possível, a situações criminosas que implicam roubos importantes do erário público, é isso que todos nós, cidadão médicos incluídos, esperamos. Dito isto, vale a pena esclarecer que a manipulação da opinião pública é apenas isso, manipulação. A corrupção e as faltas de carácter não são apanágio da classe médica, como o não são da classe politica, se o corporativismo não é defensável para a sua salvaguarda também não o pode ser para o seu enlamear.
A greve que se aproxima é, em primeiro lugar, uma luta pela defesa do SNS e da sua qualidade. Os indicadores de saúde estão aí à vista de quem os quiser consultar, a sua melhoria, sempre crescente aos longo das últimas décadas, fez-se à custa da melhor prestação de cuidados médicos, à qual não foi alheia um forte investimento na formação e no desenvolvimento de um trabalho consertado multidisciplinar, assente em equipas sólidas e avaliações do desempenho. Melhorar o que tem sido feito é o propósito e o objectivo da maioria dos médicos. Não deixar cair o que já foi feito e não pactuar com a criação de um sistema de saúde de segunda categoria são, a par da defesa da qualidade da formação, da dignidade do trabalho e de grelhas salariais justas, as razões desta greve.
Há uns tempos fui contactada por um dos editores do site PouparMelhor, a propósito de um artigo que, em termos muito suaves, explicava não ser verdade que uma determinada banha da cobra, com a acção mística/alquímica nas ligações C-H supracitada, pouparia em média 20% de combustível.
Aparentemente, os senhores que vendem a dita cuja banha da cobra não gostaram, como é normal num certo tipo de charlatães, e, depois de atafulharam a caixa de comentários do referido post com obras primas da literatura e pérolas redondinhas de ignorância química, partiram para o que também é a norma neste tipo de gente: as ameaças legais. Neste caso, felizmente sem sucesso, e, espero, com todos os inconvenientes do efeito Streisand.
Já desmistifiquei um ror de dispositivos que, "cientificamente" comprovado, permitiriam poupar uma percentagem absurda de combustível, por efeito quântico (todos os charlatães simplesmente adoram a quântica), magnético ou afins, mas é a primeira vez que ouço falar no princípio de Van der Waals para semelhante desiderato. Aliás, embora o nome do Nobel da Física de 1910 abunde no léxico científico, de equações de estado a forças intermoleculares, é também a primeira vez que ouço falar em tal princípio. Lendo a propaganda da coisa, qualquer que seja o Tech porque a designam, Super ou Mole, não me admira muito: quem escreve o número assombroso de dislates sem pés nem cabeça nos 450 caracteres que se seguem nem deve fazer ideia o que seja ciência - embora use e abuse do falacioso (pseudo*)argumento de autoridade científica para impor respeitabilidade à sua banha da cobra.