Os aduladores de Passos Coelho descobrem sempre estratégias novas. A mais recente é o destaque da sua alegada "humildade" e "honestidade" (a contrastar, claro está, com a "arrogância" de outros). Coitado, não faz por mal, portanto, tem bom coração e é genuinamente português. Mas não podem dizer que é como o Zé Povinho, que é simplório e rústico (pois, calma lá).
Lembrei-me, ao ler isto, do ícone checo. Coincide a patente militar e, desconfio, a inteligência. Se bem que a troika não seja habsburga (mas nem por isso menos tirânica) e, bom, o Svejk fosse, no fundo, um finório.
A lingua portuguesa tem um novo verbo. O verbo perfeito para uso dos incompetentes, dos trapalhões e dos troca-tintas, dos vígaros, dos demagogos, dos enchedores de chouriços e dos ignorantes. Um verbo que não quer dizer nada, porque não se sabe o que significa e é usado precisamente para esse fim. Talvez por isso, torna-se um chavão, um cabeçalho e um cartaz daqueles que querem falar sem dizer, atirar areia para os olhos e fingir que são inteligentes. Já se sabe: "é preciso mudlar", "vamos mudlar", "abertura para mudlar" quer dizer zero; ou, talvez, "vocês são mesmo totós".
Desculpem-me o vernáculo, mas foda-se, não há um, um, um único jornalista, deputado, sindicalista, conselheiro de estado, que pergunte "soletre lá isso e, já agora, diga o que significa e como se aplica a um desconto para a Segurança Social"?
(começar, talvez, por aqui; fui injusto: não foi trapalhada de uma jornalista, mas geral, como se vê).
"Desde a morte de Sá Carneiro que se provou e tornou a provar que um primeiro-ministro que não aparecesse ao público como o inequívoco responsável pela vitória da maioria não conseguia, por mais que se esforçasse, adquirir a autoridade para governar o seu partido, o Estado e o país. A fraqueza original de Balsemão e Santana Lopes vem daí." (VPV no Público de hoje)
Há um ramo da estatística dedicado às pequenas amostras, mas apenas dois eventos seria sempre demasiado escasso para autorizar verdades tão absolutas e definitivas.
(Assessorado por um Ministro das Finanças de Boliqueime, Sá Carneiro arruinou em ano e meio as finanças do país para ganhar uma eleição presidencial, que aliás perdeu. Se acaso não tivesse perecido em Camarate, o mais natural é que tivesse sido forçado a reformar-se prematuramente da política, como sucedeu a Balsemão, que herdou a enorme trapalhada por ele produzida.)
A língua portuguesa tem verbos com significados distintos, ainda que com fonética idêntica, mesmo que o primeiro-ministro use um deles sem saber bem o que significa, e até na TVI, sabia? Não? eu dou uma ajudinha:
modular
(latim modulor, -ari, medir, regular, marcar o ritmo, compor versos, tocar), v. tr.
1. Construir por módulos.
2. Cantar, ler ou dizer com modulação.
3. Variar a altura ou a intensidade da voz.
4. [Física] Variar a frequência ou a amplitude de ondas eletromagnéticas.
adenda: fui agora mesmo alertado para o facto de esta noticia ter mais de um ano. Imperdoável, logo eu, o apanhado por datas, não ter reparado nesta. A senhora já mudou certamente de opinião. Relembrar uma coisa com um ano é mau. Dez milhões serem obrigados a reviver outra, com mais de 39 anos, é bem pior.