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jugular

Outros a precisar falar uns com os outros (ou os malucos não são exclusivo luso)

No início da tarde:

 

A rescue programme agreed for Cyprus on Monday represents a new template for resolving euro zone banking problems and other countries may have to restructure their banking sectors, the head of the region's finance ministers said.


Há minutos


Statement by the Eurogroup President on Cyprus
Cyprus is a specific case with exceptional challenges which required the bail-in measures we  have agreed upon yesterday.
Macro-economic adjustment programmes are tailor-made to the situation of the country concerned and no models or templates are used.

 


Mais um salvamento

Parece que Chipre está oficialmente num limbo monetário - nem dentro, nem fora do euro. Não está no euro porque, desde sábado passado - e com efeito a partir do momento em que os bancos reabrirem portas, isto é, amanhã -, Chipre vai ter limitação à liberdade de circulação de capitais. Ou seja, o dinheiro que está em Chipre não sai, e, portanto, o que está fora, tirando o de turistas que queiram visitar a ilha, não entra. Como diz Krugman, Chipre fica no pior dos mundos.

 

A partir de agora, um país que já estava em recessão e onde o desemprego já era superior a 14%, passa a ficar sem sector financeiro, sem a possibilidade de atrair capitais e, também, passa a estar sujeito a um programa de austeridade em tudo semelhante à restante periferia europeia. Em face disto, não se percebe em que medida é que Chipre terá sido 'salvo'.

A única coisa que este plano de resgate conseguiu foi agravar a actual situação - em Chipre, em toda a periferia e, inevitavelmente, na própria zona euro - e garantir que o 'doente' morrerá do 'tratamento'. De loucura em loucura, a zona euro aproxima-se cada vez mais da implosão. Implosão social, implosão económica e, sim, implosão financeira. Aconteça o que acontecer, sabemos uma coisa: não será bonito.

 

(publicado também no Ladrões de Bicicletas)

o regresso do ogre

Foi na quinta feira passada. Caiu-me no regaço do Facebook uma petição insólita para recusar a presença de uma pessoa na RTP. Já tinha visto petições para muita coisa (até para evitar o abate de um cão), mas para impedir a ida de alguém à televisão, não. No minuto em que escrevo, a dita já ultrapassa os 125 mil signatários. É obra. Mais: é um verdadeiro monumento. Resta saber a quê. Tenho a minha opinião pessoal, mas escuso-me a manifestá-la, por decoro. O texto, breve e pobrezinho, diz que é para evitar o "branqueamento" de "atos de despesismo e gestão danosa" que "fez" [sic, não sei se ele, se os ditos "atos"] "com este [re-sic] país andasse para trás, e não para a frente". Terá, portanto, metido a marcha-atrás em vez da quinta e rebentado com o motor, quem sabe. É muito bom, este "andar para a frente". Deduzo que Portugal andava nessa direção e agora, então, vai em marcha acelerada, excetuando esse interregno infeliz em que fez inversão de marcha. Felizmente que tudo entrou nos eixos e que se acabaram tais irresponsabilidades governativas. Quem governou o país antes e depois desse tropeção continua a ter generosa cobertura mediática: Bagão Félix, Manuela Ferreira Leite, Santana Lopes. Ainda há pouco estava Francisco José Viegas na tal televisão "paga com dinheiros públicos dos contribuintes". Em segunda linha, Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes. Portugal é um país sui generis onde políticos comentam políticos que vão rodando entre canais públicos e privados, a somar aos Camilos Lourenços, aos Joões Duques e a outros especialistas da tudologia nacional do bitaite apanha-bolas. Mas isso, que eu saiba, nunca mereceu nenhuma petição pública.

O espaço político português foi dominado, nas últimas décadas, por duas figuras: Cavaco e Sócrates. O primeiro governou uma inteira e é presidente há outra; responsabilidades pela situação atual, alguém lhas imputa? Zero. Não tem, não teve, ou, quem sabe, já foi há tanto tempo que ninguém se lembra. Foi Sócrates. Talvez alguns se recordem que teve dois azares simultâneos: foi apanhado pelo furacão de uma crise mundial imprevisível e chefiava um governo minoritário. No primeiro caso, é inegável que foi imprudente, subestimou a gravidade da tormenta e teve excesso de confiança; no segundo, não havia muito a fazer: espaço de manobra sucessivamente reduzido, fogo cruzado de todos os lados e uma alcateia, cada vez mais próxima, que farejava "o pote". Os "mercados" não perdoam: hoje todos rogam pragas ao desconcerto predador e implacável da finança e da banca, mas na altura a subida galopante dos juros eram simplesmente uma "prova" da má governação do país. No ato final - e anunciado - de uma tragicomédia bem orquestrada e afinada pelo diapasão de Belém, lá veio o puxão no tapete e caiu o pano, pela mão da sacrossanta aliança maioritária no parlamento que chumbou o famigerado PEC IV. Causa-me sorrisos amargos, agora, ver BE e PCP a vociferar contra a austeridade e a troika, quando foram eles que lhes abriram a porta; e os outros, muitos, que falavam nas vantagens da "ajuda internacional", que não havia que temer o FMI (até Mário Soares, lembram-se?), o nosso Cavácuo a enaltecer as agências de notação e a dizer que Portugal não aguentava mais. Sócrates, lembre-se quem quiser, lutou até ao último momento para evitar o pedido de resgate. Soubéssemos todos o que vinha aí, e os 125 mil que hoje subscrevem petições para impedir que vá à televisão teriam ganho um pingo de sensatez naquelas cabecinhas.

Há um pano de fundo, um coro grego em toda esta tragédia: a falência do projeto europeu. Um belo sonho solidário, de "coesão" e de unidade europeia que deveria ter deixado para trás séculos de antagonismo e de guerra mas que, em vez disso, lança para o abismo as economias mais frágeis, aquelas que confiaram na solidez das instituições e na premissa de que, acontecesse o que acontecesse, a Europa responderia à tempestade de modo firme e decidido e que, sobretudo, não as deixaria cair, não as abandonaria. Abatemos frota pesqueira e deixámos de produzir batata porque havia quem o fizesse por nós; para quê concorrer com o leite holandês? Havia outros nichos, outras potencialidades onde apostar. Fazia sentido, num quadro federal. Agora, ao primeiro abanão, percebemos que caímos no conto do vigário. Salve-se quem puder. A Grécia tinha que ser castigada e foi-o; até a Itália, até a invejada Espanha, vacilam. Portugal, esse, apressou-se a sentar-se na primeira fila da sala de aula, a cuspir para o colega grego, esse maltrapilho, a sorrir à professora e a mostrar-se bom aluno, engravatado, penteado e aprumado, ainda que passasse fome em casa. A mesma casa onde muitos olham para a mestre-escola com inveja e respeitinho, sim, que essa é gente desenvolvida e trabalhadora e que nunca viveu "acima das suas possibilidades". Sempre é melhor apanhar a jeito o ogre horrível que - dizem - causou tudo isto. Ou, pelo menos, impedir que vá à televisão. Se não se pode apanhar todos, ao menos este. Disse muitos? não sei. Mas são, pelo menos, 125 mil, estou certo.

Da injustiça

 

Há uns anos, numa daquelas corrente que de vez em quando circulavam na blogosfera, escrevi que acreditava que os "filmes e livros" da nossa vida têm tendência a ser aqueles que lemos/vimos na adolescência ou enquanto jovens adultos. E, quando me foi perguntado pelos livros da minha vida, fiz como a maioria e pensei em romances. Hoje, ao saber da morte de Óscar Lopes, percebi a injustiça dessa escolha, porque se houve livro que me acompanhou anos, que abri e consultei centenas, senão milhares, de vezes foi este. Tenho-o há mais de três décadas, acompanhou-me durante muitas noites de estudo (quer no secundário quer já na faculdade) e foi um dos primeiros livros que saíu das minhas estantes* para a da minha filha mais velha, teria ela uns 14 anos, com a recomendação expressa de não se coibir de o consultar amiúde (neste momento está de passagem em casa de outra "criança" da família mas voltará à base não tarda). 

 

 

* as minhas estantes eram as dos "livros de crescidos" com exceção de romances, BDs, dicionários e enciclopedias, as desses eram estantes coletivas.

Indulgências e duas medidas

Bem sei que hoje já tudo deita petições pelos olhos mas arrisco falar nesta, a propósito daquilo que o Arrêt sur Images titula "Indulgence envers des violeurs: une pétition contre CNN".
Ontem, ao comentar este tema, referi os double standards: na Índia as violações colectivas recentes vêm acompanhadas de palavras como "animais", esta história, e pelo que fui lendo, vinha com "vidas desperdiçadas" acopladas.

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