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jugular

le passos e a frente da natalidade nacional

isto dito, de relevar que no seu discurso de encerramento do congresso do psd passos falou do 'risco para a nossa cultura' que a baixa natalidade acarreta. como é evidente que nas medidas económicas e fiscais o governo fez tudo para baixar a natalidade (que, caso ninguém tenha reparado, está indissoluvelmente relacionada com a confiança e a esperança), esta respescagem do tema como bandeira surge pelo lado do apelo xenófobo, consonante com, na linha hugosoarista que é passista, a aliança com as forças conservadoras e retrógradas a quem aliás já piscara o olho na véspera das legislativas. é o psd a, na véspera das europeias, afirmar-se como direita cada vez mais radical. portas que se cuide -- mas sobretudo, cuidemos nós de estar atentos. o discurso lepenista acabou de entrar na retórica do primeiro-ministro. 

para a não natalidade e em força

passos encerrou o congresso do psd com o anúncio de que a natalidade vai ser uma das principais preocupações do governo a que preside e que até já convidou um tal de joaquim azevedo, da católica, para chefiar 'uma equipa multidisciplinar que, em três meses, prepare um plano de ação na área da natalidade'.

 

eu por acaso achava que este governo tinha um plano de acção nesta área, muito bem estudado. vejamos:

 

1. o apelo à emigração de centenas de milhar de jovens -- portanto no auge da idade reprodutiva -- para sairem da sua 'zona de conforto' e irem fazer bebés lá fora;

 

2. o aumento brutal do desemprego, sempre uma belíssima medida de desincentivo à natalidade;

 

3. a baixa generalizada dos salários, outra óptima medida para desincentivar a ideia de ter filhos;

 

4. a facilitação dos despedimentos, com a eliminação da proibição de despedimento por justa causa como objectivo inalienável -- a melhor forma de garatir a todos que fazer planos com base na estabilidade no trabalho e na remuneração é para esquecer;

 

5. a diminuição dos subsídios de parentalidade, mercê de um novo cálculo que deixa de fora os subsidios de natal e férias;

 

6. diminuição do valor por criança no rendimento social de inserção;

 

7. o fim da escola a tempo inteiro devido a cortes orçamentais

 

8. o fim do passe estudante para todas as famílias de rendimentos médios

 

9. a ponderação de cortes nos benefícios fiscais de quem tem filhos deficientes

 

10 . o aumento do imi, que onera ainda mais os orçamentos familiares e torna ainda mais caro ter uma casa com lugar para crianças

 

mas, claro, passos não deixou que o ps aumentasse o leite com chocolate. e quando entrou em funções anunciou que todas as medidas iam ter 'visto familiar'. faz toda a diferença. 

Pode mesmo?

(Escreve e explica a Shyznogud, que me pediu para colocar a peça): No fim de semana passado quem andou pela noite lisboeta deu-se conta de um enorme dispositivo policial que, em certos sítios, parecia raiar o estado de sítio. Houve conversa - limitada - no FB e em certos blogues mas nada de especial. Uma das coisas que sempre me fez certa confusão é a indiferença, fruto de alguma ignorância (legítima porque não temos de saber tudo), com que certas práticas policiais são olhadas. É-se parado na rua, revistado e identificado? No problem, a polícia "pode". Mas pode mesmo? Eis um excerto de um trabalho da Fernanda no DN de hoje sobre os acontecimentos da madrugada de sábado para domingo.

 

(Comento eu): a parte final é engraçada: "o cidadão pode recusar e exigir (...)". Pode, pode, e se levar um enxerto de porrada ou um tiro, poderá depois (ele ou os herdeiros) fazer queixa e recorrer à justiça, não é? Simples, barato e rápido. E depois a PSP deita cá para fora um comunicado a dizer que o cidadão ameaçou X, teve comportamento Y que justificaram plenamente a ação do agente. É palavra contra palavra. Depois “investiga-se”, e a gente sabe no que dá. E se, por roleta, e ao fim do tempo que se adivinha, houver penalização para o dito, ohhh temos a opinião pública e os sindicatos da polícia ai coitado que só estava a cumprir o dever, não basta levarem bordoada salarial do governo como ainda são injustiçados quando querem zelar pela nossa segurança, onde é que isto vai parar. Isto se o "o cidadão que pode recusar e exigir" for branquinho, engravatado e bem parecido; porque se for pobre, de vestimenta “suspeita” ou, sobretudo, preto, nem quero imaginar. 

o PSEM

Finalmente, alguém teve coragem de chegar lá, ao PSEM. Começou em 2012, quando a FCT limitou drasticamente o acesso dos bolseiros à lecionação nas universidades. Menos de um ano depois, o conselho de ministros revogava essa disposição (do estilo "ah era a brincar"), mas estava lançado o aviso de que se iria acabar com a boa vida dos investigadores. Desde então, tem-se visto. Até o primeiro-ministro veio dizer que o modelo de financiamento da ciência em Portugal não produz os resultados desejáveis. Mesmo ignorando os dados. Que interessam os dados? Gradualmente, vem sendo passada a ideia de que andamos a gastar dinheiro inutilmente, em bolsas e projetos que não servem para nada. Até agora, a razia tem incidido sobre os critérios de qualidade (a famosa "excelência") e, em boa verdade, voltas e mais voltas e desculpas parvas. Finalmente, alguém (a deputada do PSD Maria José Castelo Branco) toca no essencial: o PSEM.

Que é o PSEM? PSEM poderia ser uma nova sigla da novilíngua. Não, não corretazinha nem macia como "ajustamento", "recuperação" ou "poupanças". Digamos que seria uma novilíngua diferente, crua e verdadeira, e aplicada a eito a quase tudo o que é investigação. E que quereria dizer? Isto: P'aquéque Serve Essa Merda? Simples, não? Tudo o que é bolseiro, investigador, cientista, e já agora, artista, criador, intelectual, deveria ser submetido ao crivo PSEM. Nomeie-se uma Comissão PSEM. Não é preciso nenhuma FCT, bastam uns quantos deputados. O candidato chega e apresenta o seu projeto. A Comissão ouve pacientemente e, no final, apenas profere: "PSEM"? Zás. Ou o candidato explica depressa e de forma convincente PSEM ou então, venha o próximo. O dinheiro, tempo e trabalho que se poupavam, meu deus. Seriam aprovados apenas os úteis, aqueles cujo trabalho fosse PSA (Premente na Sociedade Atual, que a senhora deputada já criou). Sei lá, projetos que permitissem apanhar os gajos que não pedem fatura com NIF, biscateiros que não as emitem, borlistas que não validam os títulos de transporte, bloggers que perdem tempo a envenenar o povo em vez de criar emprego, e tantos, tantos inúteis. E escalonavam os candidatos consoante a sua PSA. No topo, os PCC (Prementes Cumó Caralho); na base, os EMNSPN (Essa Merda Não Serve Pa Nada), que seriam encaminhados para estágios não remunerados na função pública, para terem tempo de pensar em ideias verdadeiramente PCC. Enquanto o fazem, engrossam as estatísticas de emprego, vá lá, ao menos para isso serviam.

Confesso: sou bolseiro de pós-doutoramento e tenho um projeto EMNSPN. Não é sobre espécies vegetais na África do Sul, é sobre chineses ultramarinos nos impérios asiáticos ibéricos. Coisa mais EMNSPN não existe. Quando for estagiar para um qualquer serviço público, ou trabalhar num call center, terei tempo para congeminar um projeto PSA, ou mesmo um PCC de excelência, enquanto aguardo a minha oportunidade para emigrar. Por exemplo, CBMCD(G): Com'éque Baldes de Merda Chegam a Deputados (e a Governantes).

so fucked up

Estamos lixados. Novidade? não, rotina. Então? Então, é que estamos lixados e temos que nos congratular por isso. É? É. E agradecer, festejar, ficarmos aliviados porque escapámos ao abismo greco-socrático, dar graças à Santíssima Trindade (Troika, Passos e Cavácuo) porque nos colocaram no "rumo certo". Portugal está "no rumo certo". De tanto nos martelar a cabeça, tanto, mas tanto, já começamos a acreditar. Eu, pelo menos, estou a um passo de me converter. Valeu a pena, passou, passou, a recuperação económica já começou e o futuro vem já aí. Não liguem aos "arautos da desgraça", os que ignoram os "números da recuperação". Recuperação, recuperação. Mas calma lá, nada de euforias, nada de derreter em barda as "poupanças" conseguidas, juizinho, juizinho. Parabéns e festinhas no lombo, mas é sempre bom mostrar a ponta do chicote, não vá a besta excitar-se: se os portugueses espirram, os juros sobem; se houver contestação, idem, as "agências de notação", o Barroso, a Lagarde e outros arautos dos "mercados" já avisaram. Não há volta a dar nem outro caminho nem alternativa, é seguir o carreiro estreito, sim, este que se afunila e que não tem retorno. "'Tás c'a mosca ou cheira-te a palha", ouvia eu dizer quando era miúdo.

As pessoas precisam de esperança, foram três anos de desânimo, não há vontade coletiva que aguente. Se batemos no fundo, só pode melhorar, não é? Claro que é. Mesmo que as pessoas sintam uma alienação total, um completo desvio entre a "recuperação" (houve até um ministro mais entusiasmado que falou em "milagre económico" há dias) e o aperto do dia-a-dia e a angústia do amanhã. Que fazer, se nos injetam todos os dias o medo do apocalipse, se os mercados reagem mal, se é preciso novo programa, se os juros disparam?

Destruímos tecido social, empresas, empregos, famílias, riqueza, aparelho produtivo, confiança, gente qualificada, expectativas? Estamos mais pobres, mais deprimidos, mais pessimistas, vamos demorar muito tempo a recuperar? E devemos mais dinheiro, que nunca conseguiremos pagar, estamos mais endividados, de garrote mais apertado? Ná. Foi mau? Exagero, exagero, foi bera. "Sofremos de stress financeiro e, até, psicológico", disse ontem o PM. Está tudo dito. Devemos aceitar o nosso destino, porque não havia outra forma. E tivemos sorte. Parabéns, estamos a recuperar, valeu a pena. Lá aparecem as décimas nas estatísticas e o Financial Times, uau, Portugal, herói da Europa. Venha foguetório. E carros na "fatura da sorte". Isto, para mim, é 1984. O Ingsoc também apregoava, sim, as conquistas e as vitórias do partido contra os inimigos, e reescrevia a História, a par e passo. Calma, lá chegaremos, um dia.

Ontem tive um lampejo de esperança: ouvi o Barroso pronunciar-se acerca do referendo na Escócia e fiquei a desejar ardentemente uma vitória esmagadora do "sim". Para que os Barrosos e a imensa manada de alimárias que nos governam e bafejam insistentemente com o seu metano percebam que é a vontade soberana dos povos que determina o seu destino. Ou devia ser. Pelo menos, a dos escoceses.

Como construir um sucesso

Passo 1: Estipular, em outubro de 2013, face ao horror coletivo, que o défice real (sem medidas extraordinárias) desse ano fica igual ao de 2012: 5,8% do PIB. Sim, será um escândalo – sobretudo quando o Governo se propusera retirar, entre corte de despesa e aumento de impostos, cerca de €5 mil milhões da economia –, mas é uma vergonha pela qual vale a pena passar. Depois de criadas as piores expectativas, o que se seguirá só pode surpreender pela positiva.

Passo 2: Esperar que ninguém repare que o Governo não compensou as medidas chumbadas pelo TC em abril passado e que injetaram muito dinheiro na economia (entre outros cortes que o Governo não terá feito, como uma muito menor redução nos contratados do Estado). É por isso que, em outubro passado (na estimativa relativa ao ano de 2013 que consta do relatório do OE2014), o próprio Governo estimava que a despesa corrente primária subisse mais de €2 mil milhões do que o previsto há um ano atrás, quando Vítor Gaspar apresentou o OE2013: €69,46 mil milhões vs. €67,39 mil milhões. Não sabemos se esta estimativa foi cumprida até ao final do ano, mas, de qualquer forma, em 2013 a despesa pública foi bem superior à inicialmente estimada.

Passo 3: Esperar que ninguém dê importância às consequências disto:
(a) Maior crescimento económico (ou menor queda em 2013), seja via consumo público (a 7.ª avaliação do PAEF, em março passado, estimava uma queda de 4,2% em 2013, enquanto no Boletim de Inverno do BdP a queda já só seria de 1,5%), seja via consumo privado induzido (a 7.ª avaliação do PAEF estimava uma retração de 3,3% em 2013, enquanto no Boletim de Inverno do BdP a queda já só seria de 2%) - mesmo sem esquecer o papel da procura externa líquida (esperemos pelo números finais pelo INE; entretanto, poucos notaram que, excluindo combustíveis, a balança comercial de bens deteriorou-se, com as importações (2,3%) a crescerem a um ritmo maior às exportações (2,1%): ou seja, não há nenhuma transformação estrutural da balança comercial). O PIB, em vez de cair 2,3% como se esperava em março passado, caiu apenas 1,4%. Menos austeridade -> menor queda do PIB.
(b) Maior receita fiscal que permitiu - juntamente com a receita extraordinária que resultou do perdão fiscal (quase €1,3 mil milhões) - reduzir o défice orçamental, contra a expectativa inicial que era a de não reduzir défice nenhum.

Conclusão:
Esperar que ninguém note que, sem o dizer, o Governo fez o que muitos advogavam: quase congelou a consolidação via cortes na despesa pública e deu margem para uma pequena reanimação da economia, o que lhe permitiu, via o aumento da receita (e não corte da despesa), cumprir a meta do défice que já tinha admitido falhar.

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